Câmeras do Olho Vivo permanecem sem manutenção há oito meses

A inoperância das câmaras do Olho Vivo em diversas regiões de Juiz de Fora preocupa a população da cidade. Desde janeiro deste ano, é esperada a finalização do processo licitatório a fim de que a empresa vencedora do certame possa iniciar a manutenção dos equipamentos. Enquanto isso não se realiza, a Tribuna vem recebendo denúncias sobre pontos onde não há funcionamento da vigilância. O assunto já havia sido tratado pelo jornal, em abril, mas o problema se arrasta. Dados consultados pela reportagem no sistema de Registros de Eventos de Defesa Social (Reds) continuam a mostrar que câmeras instaladas, principalmente na região central, estão inoperantes.

O proprietário de uma loja de eletro-eletrônicos e manutenção de celulares na Praça Doutor João Penido, conhecida como Praça da  Estação, teve o seu estabelecimento arrombado. Segundo ele, a porta da frente foi forçada, dando acesso aos criminosos. “Foram levados relógios, celulares de clientes e dinheiro”, relatou o dono Vítor dos Reis. Devido ao crime, ele teve que ressarcir os clientes, pagando R$ 7 mil pelos aparelhos furtados. “Precisamos das filmagens do Olho Vivo para a investigação do crime, mas fomos informados que a câmera não estava funcionando por falta de manutenção”, afirmou o proprietário. A loja dele fica, praticamente, de frente para o equipamento instalado, próximo ao cruzamento da Rua Halfeld com a Avenida Francisco Bernardino.

No boletim registrado pela Polícia Militar (PM), a respeito da ocorrência, consta que a loja teria sido arrombada por dois homens. No documento, os policiais relataram que “em contato com o sistema de monitoramento Olho Vivo, fomos informados que a câmera que existe no local está inoperante.” O dono do estabelecimento, conforme o documento policial, foi comunicado por um morador de rua que dois homens, durante a madrugada, foram vistos saindo da loja, por volta das 2h. “É uma situação muito difícil, pois andamos com o pagamento dos nossos impostos em dia, mas, quando precisamos desses dispositivos para nos auxiliar, eles não estão à nossa disposição”, avaliou.

Próximo à loja dele, uma padaria também foi alvo de arrombamentos. O gerente do estabelecimento, Cássio Carneiro, contou que os criminosos invadiram a padaria durante três semanas seguidas, somando um prejuízo de R$ 12 mil. “Eles entraram pelo basculante que há no telhado. A impressão que temos é que eles foram direto ao local onde o dinheiro estava guardado”, disse. Foram solicitadas imagens do Olho Vivo a fim de ajudar na identificação de suspeitos, mas não houve resposta por parte da Administração do monitoramento eletrônico. “Fizemos o acionamento da PM, que nos atendeu de forma imediata. Três homens chegaram a ser presos devido ao furto, mas não conseguimos reaver o dinheiro”, contou.

Uma peixaria, também na região da Praça da Estação, foi alvo de invasão. De acordo com o gerente, Márcio Batista, o criminoso conseguiu entrar no estabelecimento pelo telhado e levou R$ 2.500 que estavam guardados para troco. Eles não chegaram a acionar o Olho Vivo, mas ressaltou que a inoperância das câmeras prejudica a segurança na área. “A gente pensa que está seguro, contando com vigilância, mas não é isso que temos na realidade”, observou. Todos eles afirmaram que o funcionamento dos equipamentos faz muito falta no local, uma vez que, à noite, a área fica deserta e serve de passagem para muitas pessoas. “As câmeras, até então, serviam para intimidar esses casos de assaltos e furtos”, ponderou Márcio.

Importância

A importância do Olho Vivo para a segurança pública da cidade fica evidente em casos como o registrado no último dia 4, quando um homem, suspeito de invadir e furtar uma peixaria, com mais quatro comparsas, ficou entalado em um telhado durante a fuga, sendo resgatado cerca de três horas depois pelo Corpo de Bombeiros. A situação inusitada aconteceu em um estabelecimento na Rua Batista de Oliveira, no Centro. O fugitivo acabou ficando preso entre um tubo galvanizado e uma parede ao tentar escapar pela claraboia de uma galeria. Ele só foi descoberto após o porteiro de um hotel, na Avenida Getúlio Vargas, ouvir gritos de socorro. Os bombeiros precisaram utilizar equipamentos adequados e andar por vigas para chegarem até o ponto onde o envolvido estava. Ele foi retirado do local, considerado de difícil acesso, por volta das 6h. A ocorrência teve início por volta das 3h, quando câmeras do programa Olho Vivo flagraram o crime. Os ladrões haviam fugido em direção à Avenida Getúlio Vargas e à Praça Antônio Carlos e foram presos pela Polícia Militar.

Recursos de cerca de R$ 5 milhões para instalação

Denúncia recebida pelo jornal dá conta de que, pelo menos, metade das 54 câmeras instaladas na cidade, em dezembro de 2014, estão fora de uso. A ineficácia do monitoramento eletrônico também foi detectada em 2017, época em que o sistema ficou nove meses com 37 câmeras sem funcionar por falta de manutenção. Somente em janeiro de 2018, o serviço voltou a operar totalmente. Para a instalação do Olho Vivo em Juiz de Fora foram utilizados recursos de cerca de R$ 5 milhões do Governo do Estado. O dinheiro fazia parte de um pacote de R$ 50 milhões para implantação de cerca de 800 novos aparelhos em várias regiões de Minas. Os equipamentos chegaram com o objetivo de contribuir para a redução da criminalidade. Com tecnologia de infravermelho, os aparelhos têm capacidade de gravar imagens em alta resolução, inclusive no período noturno, além de rotação de 360 graus, o que permite controle total de toda a área vigiada. A vigilância, como previsto, era para ser realizada durante 24 horas.

Além do investimento do Governo estadual para instalação do Olho Vivo na cidade, cabe à Prefeitura os custos relacionados à utilização dos postes onde as câmeras estão instaladas pagos à Cemig, a contratação da empresa que faz o monitoramento, acompanhando captação das imagens; e a manutenção dos equipamentos, totalizando cerca de R$ 1,3 milhão, por ano, para manutenção do videomonitoramento.

Os pontos de instalação das câmeras em Juiz de Fora foram estabelecidos pela Polícia Militar local, em conjunto com a Diretoria de Tecnologia e Serviço da PM, de Belo Horizonte. Foram levados em conta estudos estatísticos de zonas quentes de criminalidade no município, dados de crimes contra o patrimônio por área e viabilidade técnica do ponto escolhido.

Prefeitura diz que contrato para manutenção está em fase final

Em abril deste ano, a Prefeitura,  que é responsável por arcar com os custos mensais da vigilância, admitiu que os equipamentos não estavam funcionando em determinados locais e aguardava a conclusão de trâmites burocráticos para que a empresa Nexare, de Belo Horizonte, vencedora da licitação para o serviço de manutenção, avaliasse o problema. Naquela ocasião, o secretário de Segurança Urbana e Cidadania da Prefeitura, José Sotter de Figueirôa, afirmou que a inoperância das câmeras foi detectada e que havia se iniciado um processo de contratação de uma empresa especializada para o serviço de manutenção, uma vez que se trata de equipamentos sensíveis e de tecnologia sofisticada. Segundo ele, a licitação foi concluída no final de janeiro deste ano, quando a Nexare saiu vencedora do certame. Conforme Figueirôa, já estava em fase de preparação um termo de referência, ações de trabalho e confecção de um contrato entre a Prefeitura e a empresa, para que a assinatura fosse feita e os serviços pudessem ser iniciados até o final do mês de maio.

Contudo, diante das novas denúncias, a Prefeitura informou à Tribuna, por meio de nota, que, através da Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania (Sesuc), “vem trabalhando, através do diálogo e da participação popular, para a construção de uma cidade cada vez mais segura para todos os cidadãos.” Ainda como pontua a nota, a pasta “vem trabalhando no processo licitatório há alguns meses para a contratação de uma empresa para realizar a manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos. Após a elaboração do termo de referência, do plano de trabalho, da verificação da disponibilidade orçamentária e financeira o contrato encontra-se na fase final de constituição e será assinado ainda no mês de setembro”, estimou.

O texto também ressaltou que o secretário de Segurança Urbana, no dia após a assinatura do contrato, iria se reunir com a empresa vencedora e organizar um cronograma de trabalho. “A prioridade são as câmeras que se encontram em locais mais estratégicos. O levantamento será feito pela pasta e pelos técnicos, averiguando qual o tipo de problema, a complexidade, fazendo o reparo o mais breve possível. Após essa fase emergencial, iniciará a etapa de manutenção preventiva e revisão periódica das 54 câmeras, garantindo assim que funcionem sem interrupção, trazendo segurança e economia ao município.”

No último sábado, dia 14, depois que a Tribuna já havia recebido o posicionamento da Prefeitura acerca da situação das câmaras, o Diário Oficial no município divulgou o processo de pregão presencial, envolvendo a Secretaria de Administração e Recursos Humanos e a empresa Nexare, para registro de preços para prestação de serviços de manutenção das câmaras de segurança do Olho Vivo, com fornecimento de peça, visando demanda da Secretaria de Segurança Urbana e Cidadania (Sesuc).

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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