Creches e instituições sociais pedem doação de alimentos estocados em escolas

Cientes de que as escolas municipais ainda possuem alimentos armazenados, creches e instituições sociais da cidade buscam dialogar com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) para que os itens sejam doados para estas entidades. As mesmas têm trabalhado em campanhas para arrecadação de itens alimentícios, que estão sendo distribuídos entre a população carente do município. Paralelamente a isto, representante de uma escola municipal, que optou por ter a identidade preservada, relatou à Tribuna que parte dos alimentos que estavam estocados na instituição de ensino pode ser perdida, já que a data de vencimento ocorreria ainda este mês.

Ao tomar conhecimento de que os alimentos das escolas estariam sendo armazenados e que ainda estava sendo estudada a destinação dos mesmos, por meio de uma reportagem publicada pela Tribuna na última sexta-feira (17), a advogada Denise Saltarelli, que presta auxílio jurídico a creches e instituições sociais de Juiz de Fora, contactou representantes da Administração municipal para que os produtos fossem doados a essas entidades. De acordo com Denise, as mesmas já têm recebido doações de alimentos para distribuição de cestas básicas. A advogada organizou uma campanha de arrecadação já que, por conta da suspensão das atividades nas instituições em virtude da pandemia do coronavírus, houve queda de doações.

“Nós sabemos que a maioria das crianças em condição de vulnerabilidade tinha na merenda escolar a principal fonte de alimento. E, algumas, a única fonte de alimento.”

Ainda conforme Denise, nas discussões com a Administração municipal, teria sido cogitada a instalação de um centro de apoio. A advogada, entretanto, destaca que, por muitos bairros serem afastados, há dificuldade de locomoção pela população, tanto por conta do regime de isolamento social quanto pela condição financeira. “São comunidades distantes dos pontos de entrega, então há dificuldade de as pessoas pegarem ônibus, além da possibilidade de contágio e a questão financeira. O que acontece é que eles vão nas creches e, quando falamos que tem cesta para pegar no Centro, dizem que não têm dinheiro para buscá-la.”

Desta forma, defende a advogada, as creches e instituições sociais poderiam facilitar a distribuição de cestas básicas, considerando também que já têm realizado o trabalho a partir de doações particulares. “Eles [Prefeitura] estão com volume muito grande de merenda no depósito. As coisas vão ficar lá estragando, que destino vão dar para isso? Como estava sendo estudado o que iria fazer, conversei no sentido de tentarmos fazer das instituições e creches pontos de apoio nos bairros.”

Auxílio-merenda

Em audiência na Câmara Municipal, na última sexta-feira, representantes da PJF discursaram sobre a possibilidade de o Executivo conceder um voucher na forma de auxílio-merenda para parte dos alunos da rede municipal. Na ocasião, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária (Sedeta), Rômulo Veiga, informou que a Administração desenvolveu, em parceria com empresas voluntárias, um software para viabilizar a distribuição de vouchers de forma a garantir auxílio-merenda para parte dos alunos da rede e também um auxílio-alimentação para pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social.

A secretária de Educação (SE), Denise Franco, afirmou, durante a audiência, que, desde que as aulas foram suspensas por conta da pandemia, os artigos de gênero alimentício usados na merenda escolar estão sendo recolhidos para o almoxarifado, onde são separados em kits. A forma de doação destes alimentos, no entanto, ainda não havia sido definida.

Escola teme perda de alimentos próximos do vencimento

Parte dos alimentos em uma escola municipal de Juiz de Fora pode ser descartada por conta da data de vencimento ocorrer em abril. A situação foi relatada à Tribuna por um funcionário, que optou por ter a identidade preservada. De acordo com ele, a escola armazenava cerca de 50 quilos de arroz, que perdem a validade nesta sexta-feira (24). No mês passado, a instituição teria encaminhado uma planilha à Secretaria de Educação, com levantamento dos alimentos estocados. Além do arroz, outros produtos, como canjiquinha, fubá e trigo, também seriam perdidos neste mês. Entretanto, a pasta só teria buscado os alimentos no último dia 14. “A Prefeitura demorou para fazer o recolhimento deste alimento. A minha preocupação é que não dê tempo de distribuir tudo até a data do vencimento”, relata. “Acho que é uma questão de estratégia. Eles deveriam ter recolhido o que estava vencendo em abril rapidamente. Recolhia e depois ia vendo para frente o que fazer com o restante da alimentação que estava no estoque.”

Ainda conforme o funcionário, o receio é que o mesmo esteja ocorrendo nas demais escolas municipais, que somam 101 instituições, o que poderia resultar em toneladas de alimentos perdidos. “Não posso afirmar, porque tenho acesso só ao que está na nossa escola. Mas creio que todo esse arroz tenha sido comprado em um lote só, e todo esse arroz que estava nas escolas deveria estar vencendo nessa mesma data.”

A reportagem procurou o Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro-JF), que informou não ter recebido denúncias relacionadas ao estoque de alimentos nas escolas.

Em nota, a Sedeta informou que, nos casos de produtos com data de vencimento próxima, quando comunicada pela direção da escola, a pasta “realiza o recolhimento dos alimentos para troca com unidades da Prefeitura que utilizam maior quantidade diária do item, de forma a evitar o desperdício”. Já a SE reforçou que, por conta da suspensão das atividades escolares na rede municipal, os produtos alimentícios estão sendo recolhidos para evitar desperdício, bem como para destinação adequada. “Como a rede é muito extensa este procedimento será concluído nesta semana”, destacou a pasta.

No texto, as secretarias ainda apontaram que a PJF, também através da Secretaria de Desenvolvimento Social, está avaliando questões legais e de organização para viabilizar a entrega dos alimentos provenientes da merenda escolar para pais de alunos e creches parceiras do Executivo, bem como projetos sociais. A Administração municipal informou que deverá ter um posicionamento em relação ao tema “ainda essa semana”.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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