Demanda por internet cresce mais de 50% em Juiz de Fora

Natural de Belém (PA), o estudante Gilberto Mescouto usa internet para se comunicar com amigos e familiares, mas, em tempos de pandemia, sofre com problemas de lentidão e instabilidade (Foto: Fernando Priamo)

O isolamento social recomendado em Juiz de Fora e outros municípios brasileiros fez aumentar o fluxo de dados de internet. Em alguns casos, usuários relatam dificuldades para se conectar e lentidão para acessar serviços diversos, principalmente aqueles relacinados a grande circulação de tráfego, como é o caso do streaming. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a demanda por conexão de internet cresceu gradativamente a partir da segunda semana de março, se estabilizando ao patamar acima de 40%, se comparado a dias antes da pandemia, desde o início de abril. E a cidade acompanha este crescimento, conforme apuração da Tribuna. A provedora Vero Internet, por exemplo, afirma que o fluxo de dados está 53% maior que o habitual, principalmente na faixa de horário considerada de pico, entre o fim da tarde e o início da noite.

Em cinco anos morando na cidade, a rotina do paraense Gilberto Mescouto nunca foi tão comum a outros juiz-foranos. Em total isolamento domiciliar há três semanas, o contato com amigos e familiares do estudante de Ciências Humanas se dá estritamente pela utilização do computador, o qual, em tempos de pandemia, é a única companhia na residência localizada no Bairro São Pedro, na Cidade Alta. Meia década após deixar a cidade de Belém (PA), o cenário atípico, inimaginável há dois meses, exige resiliência para manter a segurança e a ocupação mental em casa. Além disso, desafia o fluxo de dados infinito e, em grande parte, invisível da internet. “Tudo fica mais difícil quando a internet apresenta alguns problemas como a lentidão, o que tem se tornado bastante frequente ultimamente”, constata.

A situação do estudante de Belém passou a ser regra durante a pandemia de coronavírus, contribuindo para o aumento de 46% no tráfego na internet em escala nacional, conforme dados revelados pela Anatel à reportagem. O levantamento do órgão público mostra crescimento gradual na exigência da rede brasileira de internet, avançando em 16% na semana entre os dias 9 e 15 de março, até alcançar o patamar acima dos 40% entre os dias 23 e 29 de março, mantendo a tendência até os dias de hoje.

Com a reclusão social aconselhada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o aumento na demanda observado pela Anatel se justifica pelas milhões de pessoas confinadas que utilizam as redes para a manutenção dos estudos, interação com familiares e amigos distantes – intensificada com a distância física proporcionada pelo isolamento -, e, também, pela adoção em larga escala do home office. Outro fator considerado agravante é o maior uso das plataformas para assistir filmes e séries, que também geram grande tráfego de dados na rede mundial de computadores.

Tudo pela internet

Desde meados de março, o estudante de jornalismo Guilherme Serafim trabalha de casa, distante em pouco mais de 50 quilômetros da família. Natural de Santos Dumont, a rotina solitária em Juiz de Fora foi a opção para evitar o risco de se contaminar e levar o vírus para dentro da casa da família. “Basicamente eu tenho trabalhado e feito coisas para me distrair depois, mas sempre na internet”, conta. A manutenção dos compromissos profissionais é apenas parte da exigência nas redes, agregadas aos pedidos de delivery feitos para minimizar as saídas de casa e a utilização dos serviços de streaming. “Compras de produtos, até de comida no dia a dia, eu já fiz pela internet nessa quarentena. Converso com minha mãe, meu pai, amigos, tudo on-line. A internet vem sendo minha salvação durante o isolamento”, celebra.

Adequações

As redes sociais e as plataformas de conteúdo, inclusive, estão no centro do debate sobre o atual cenário digital. Acompanhando as medidas tomadas na Europa, o Facebook, ainda em março, diminuiu a qualidade de transmissões de vídeos para usuários da América Latina. Em contato com a reportagem, a Netflix, serviço de streaming com mais de dez milhões de assinantes no Brasil, confirmou “adaptação técnica” para diminuir o tráfego de rede em 25% no país, iniciativa também anunciada pelo serviço Globoplay.

As modificações foram intensificadas após reuniões com a Anatel, que desenvolveu o Grupo de Gestão de Riscos e Acompanhamento do Desempenho das Redes de Telecomunicações (GGRR). “Ainda em março, ocorreram reuniões com os principais provedores de conteúdo, as grandes prestadoras, as associações e sindicatos, pequenos provedores e com o setor de internet. As medidas tomadas pelos provedores de conteúdo têm caráter temporário e voluntário”, explica a agência reguladora.

‘Não há risco de colapso’, afirma Anatel

O contexto inesperado assusta pelos dados significativos, mas os órgãos e empresas envolvidas nos serviços de manutenção das redes asseguram que não há risco de quebra do sistema brasileiro de internet. Por meio de assessoria, a Anatel assegurou que nem mesmo trabalha com a possibilidade de colapso, apesar de admitir “uma mudança radical no perfil de uso dos serviços de telecomunicações, especialmente na banda larga fixa e na internet”.

Como a utilização das redes de telecomunicações cresce continuamente no país – entre 30% e 40% anualmente, conforme o portal InfoMoney -, as empresas do setor já operam com a infraestrutura acima da demanda, fator que ajuda a entender a confiança na resistência do sistema. A Vero Internet também rechaçou a possibilidade de instabilidade na rede juiz-forana, garantindo que a mesma “já tinha um preparo e a companhia está fortalecendo-a”. Outros provedores de internet que operam na cidade foram procurados pela reportagem, mas não se manifestaram.

Entidade que representa as empresas do setor digital, o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTeleBrasil) destacou o contato contínuo entre as prestadoras de serviço e o poder público em um cenário em que a atuação do setor de telecomunicações é “estratégica e fundamental”, na visão do sindicato. “Estamos vivendo um cenário imprevisível no qual temos que concentrar esforços na saúde das pessoas, na estabilidade da rede e na eficácia do atendimento compatível com a situação”, salienta.

Recomendações

Há cuidados que os usuários podem tomar para evitar a persistente lentidão causada pelo volume incomum no tráfego digital. Aos clientes, a Vero Internet recomenda evitar, se possível, o uso da internet em períodos de pico, sendo que o mais comum ocorre após o horário comercial em dias úteis, entre o final da tarde e o princípio da noite. Também é aconselhado fechar os aplicativos que não estão sendo utilizados no computador ou no celular, uma vez que, funcionando em segundo plano, eles ainda podem consumir internet.

Questionada, a Anatel optou por não recomendar nenhuma adaptação aos consumidores. O SindiTeleBrasil, por sua vez, alertou para a importância do “uso consciente de todos os recursos em períodos como esse, inclusive das redes de telecomunicações”.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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