Em Portugal, juiz-forana espera voltar ao Brasil

A jornalista juiz-forana Jussara Ramos de Oliveira, de 36 anos, encontra-se no Distrito de Cascais, em Lisboa, Portugal, impedida de voltar ao Brasil desde o último 12 de março. Com passagens compradas para ida e volta e retorno marcado para o dia 30 março, a profissional está presa em solo lusitano, uma vez que teve cancelada sua viagem de regresso e não consegue novas alternativas de voo.

Todavia, no dia seguinte à sua chegada, ela começou a observar uma movimentação diferente nas ruas e estabelecimentos comerciais. “Os supermercados ficaram cheios e já faltavam alguns produtos, como alimentos e papel higiênico. Eu fiquei hospedada na casa de amigos, e eles disseram que essa situação era atípica. Que não costumava acontecer isso nos mercados da região”, relatou, acrescentando que as pessoas já estavam mais preocupadas com o que poderia acontecer nos próximos dias em relação à Covid-19.Em entrevista à Tribuna, Jussara contou que já tinha programado e adquirido suas passagens em outubro de 2019, e que, quando chegou a época da viagem, a situação a respeito da pandemia provocada pelo coronavírus ainda era tranquila. “Tinha saído o noticiário de um caso de coronavírus aqui em Portugal e, se não me engano, três no Brasil, quando eu embarquei. Assim, a situação ainda era tranquila, apesar de já ter casos confirmados na Europa e na Espanha, que faz fronteira com Portugal”, disse a jornalista.

“No dia 17 de março, o presidente de Portugal anunciou que iria estabelecer um decreto de estado de emergência. Com isso, não haveria funcionamento de vários serviços. Começou o fechamento de pontos turísticos, bares e restaurantes e, até hoje, vejo que só estão sendo mantidos os serviços prioritários como farmácias e supermercados. Os demais estão fechados”, afirmou.

Conforme Jussara, a princípio, o decreto de emergência era de 15 dias, mas foi prorrogado pelo mesmo período, mantendo os estabelecimentos fechados. “A polícia tem atuado para conter aqueles que andam pelas ruas, barrando essas pessoas e mandando voltar para casa. É uma situação em que não se tem a liberdade de transitar. Eu vim para passear e estou ficando mais tempo na casa onde estou hospedada.”

Depois desse decreto de emergência no país, segundo Jussara, a sensação de insegurança aumentou, o que a levou a buscar informações sobre sua viagem de volta. “Comecei a observar nas redes sociais da companhia aérea que muitas pessoas questionavam a respeito de passagens que haviam sido canceladas. Confirmei, então, que meu voo havia sido suspenso. Entrei em contato com a companhia e remarcaram minha volta para 1º de abril, que era o próximo voo que me interessava, já que estava agendado meu regresso para o dia 30. Mas, passaram alguns dias e esse voo também foi cancelado e não aparecia mais no site a opção para remarcar”.

A jornalista se dirigiu até a companhia aérea no aeroporto de Lisboa, mas não encontrou atendimento. “Tinham algumas pessoas aguardando voos para outros países e uma fila com alguns atendentes, orientando as pessoas onde deveriam entrar. Disseram-me que teria que fazer novo agendamento pelo site. Porém, eu insisti e eles me deixaram entrar. A atendente me informou que não teria mais voo para o Rio e que só teria para São Paulo, no dia 3 de abril, sendo marcada minha viagem. Mas, à noite, quando fui olhar no site já estava cancelado. Foi anunciado que as atividades seriam suspensas durante o mês de abril e só permaneceriam voos dentro do país e em casos emergências para situação do coronavírus, para buscar medicamento, máscaras e insumos em geral. Eu fiquei desesperada e comecei a correr atrás do Itamaraty e da embaixada para ver o que eu poderia fazer para ter o repatriamento.”

Preços exorbitantes

Jussara começou a acompanhar nas redes sociais do Itamaraty e da Embaixada do Brasil informações e observou que, na semana passada, uma companhia aérea estava liberada para fazer voos para o Brasil, com viagens para Rio, São Paulo e Belo Horizonte. “No entanto, os preços estavam exorbitantes. Para BH, por exemplo, os preços estavam na faixa de R$ 9 mil. Achei um absurdo, enviei e-mail para o Itamaraty, informando que eles estavam anunciando que haveria liberação de voo, mas a preços muito altos e que era necessário uma intervenção. Porém, fui informada pelo Itamaraty que não tinha autonomia para intervir”.

Jussara afirmou já ter preenchido os formulários necessários da Agência Nacional dae Aviação Civil (Anac) e do Itamaraty, a fim de ter acesso ao processo de repatriamento. “No último sábado, a embaixada divulgou que iria começar, nesta semana, esse processo de repatriamento para os brasileiros. Estou na expectativa de que, nos próximos dias, algo seja definido sobre nossa volta. Vi uma matéria aqui sobre essa situação e foi publicado que há cerca de mil brasileiros na mesma situação do que eu”.

A jornalista está hospedada na casa amigos e, por isso, conforme ela, seus gastos são menores. Mas, seu temor é que os casos de coronavírus aumentem, causando mais impacto nos voos para o Brasil. “Minhas férias acabaram e estou trabalhando de home office daqui. Preciso voltar para casa, além da saudade da família, tenho preocupação, pois meus pais são do grupo de risco. E preciso voltar para auxiliá-los. Fico aqui na expectativa de uma solução o mais breve possível”, disse Jussara, que, nesta quarta-feira (14), recebeu a notícia do falecimento de uma prima aqui no Brasil em decorrência de um infarto. “Hoje está sendo um dos dias mais tristes, aqui, pra mim. Não poder abraçar ninguém da família é horrível. E esse estado, em que eu me encontro, parece que faz a dor aumentar.”

Embaixada trabalha para assegurar retorno

Questionada pela Tribuna a respeito do caso da juiz-forana em Portugal, o Itamaraty informou que já atuou para repatriar, desde o dia 21 de março, mais de 6.300 brasileiros em Portugal. A última estatística disponível, conforme o Ministério das Relações Exteriores, dá conta de 1.275 brasileiros ainda retidos naquele país.

Informou ainda que a Embaixada do Brasil, em Lisboa, e os consulados, em Portugal, continuam trabalhando para assegurar o retorno de todos os brasileiros atingidos pelas restrições de movimentação ao redor do mundo. Segundo o Ministério, trata-se de situação excepcional que torna impossível a elaboração de cronograma preciso dos voos ou do atendimento imediato de todas as demandas existentes. Ressaltou que todas as alternativas estão sendo estudadas, e o Itamaraty continuará trabalhando, sem interrupção, para assegurar a volta ao Brasil de todos os nacionais retidos no exterior em decorrência da pandemia.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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