Empresas e organizações de JF formam rede de solidariedade

Em meio às dificuldades provenientes da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que trouxe o distanciamento social como realidade para o mundo inteiro, uma corrente de solidariedade tem unido os juiz-foranos. Apesar da incerteza sobre o que está por vir, não há dúvidas de que este é o momento de somar forças e pensar no coletivo. Com este entendimento, empresários e sociedade civil têm realizado diferentes iniciativas para contribuir com o combate à disseminação da doença.

Esta semana, o empresário Marcelo Andrade Soares viu sua rotina mudar completamente. O telefone não parou de tocar, são mais de cem ligações por hora. Apesar de todo o esforço para responder as mensagens do WhatsApp diariamente, cerca de duas mil sempre ficam para o dia seguinte. As redes sociais e a caixa de e-mails também são muito acionadas.

Dono da empresa Galpão do Laser, no Bairro Democrata, ele estava com as atividades paradas e temendo a possibilidade de fechar as portas do estabelecimento por conta das dificuldades financeiras. Apesar da situação delicada, percebeu que poderia ajudar outras pessoas. Marcelo ficou conhecido após fazer um vídeo oferecendo apoio para a produção de protetores faciais (face shield), que viralizou na internet.

A ideia surgiu após ele tomar conhecimento do projeto SOS 3D, em que universidades criam este tipo de máscara para distribuir aos hospitais. “Só que neste projeto é usada a impressora 3D, que tem capacidade para fazer apenas 15 máscaras. Na minha empresa, eu tenho uma máquina de corte a laser de alta produção que estava parada. Como eu não tinha matéria-prima, decidi fazer o vídeo para ver se alguém de Juiz de Fora teria material para doar e, assim, ajudar neste trabalho.”

Depois que o vídeo do empresário Marcelo Andrade viralizou na internet, ele recebeu mensagens de apoio de várias partes do mundo; em Juiz de Fora, a Gráfica Esdeva doou material para produção da máscara (Foto: Reprodução)

Repercussão

O que ele não esperava é que a sua iniciativa tivesse repercussão em todo o Brasil e até fora do país. “Recebi mensagens de pessoas que estão nos Estados Unidos, Canadá e Israel querendo comprar as máscaras, mas a proposta é fazer para doar”, explica. “Eu não imaginava a força das redes sociais. Estou sendo procurado por muitas pessoas.”

As mensagens recebidas por ele vão de elogios da população à oferta de mão de obra voluntária. O vídeo também chegou à equipe do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF), diretores de multinacionais e autoridades, como o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Há relatos muito emocionantes de outros pequenos empresários dizendo que se motivaram a criar ações semelhantes, e de trabalhadores autônomos que me disseram que trabalhariam em troca de uma cesta básica, pois também estão sendo afetados pela pandemia.”

O vídeo de Marcelo acabou por criar um movimento solidário. O empresário que, a princípio, pretendia trabalhar sozinho, conta agora com uma equipe de voluntários para a produção das máscaras. Sem imaginar, ele também foi ajudado. “Uma das primeiras ligações que recebi depois do vídeo foi da dona do imóvel onde a minha empresa funciona. Ela me disse que não cobraria o aluguel e ainda me ofereceu um galpão no caso da produção aumentar.”

A matéria-prima para a confecção dos protetores também chegou. A Gráfica Esdeva, localizada no Bairro Poço Rico, se sensibilizou com a causa e realizou a doação de duas mil placas de acetato. “Quando recebi o vídeo, lembrei que nós tínhamos esse material, pois ele é utilizado para fazer capa de livros. Conversei com toda a direção para saber se poderíamos doar o que já tínhamos ou mesmo fazer uma compra com preço de custo e entregar ao Marcelo. Todo mundo concordou em doar o mais rápido possível”, conta o gerente industrial da gráfica, Welington Ávila. “Acredito que todos nós podemos fazer a nossa parte para que possamos atravessar este momento de maneira mais fácil.”

Com a doação, poderão ser fabricadas 20 mil máscaras. Marcelo aguarda um molde de produção em grande escala da Anvisa para poder abastecer os hospitais de Juiz de Fora e região. Posteriormente, a ideia é distribuir os protetores para profissionais que trabalham em situação de risco, como dentistas, policiais e bombeiros.

Como ajudar

A sociedade civil também tem contribuído com esta iniciativa por meio de uma vaquinha on-line no endereço: https://voaa.me/protetores-faciais-corona vírus . “Estou muito sensibilizado com a vontade das pessoas em ajudarem umas as outras. Recebi apoio de quem não tem emprego e de diretores de multinacionais. Isto me motivou a acreditar que todos nós vamos atravessar esta fase difícil. A corrente do bem irá se propagar mais rápido do que o vírus.”

Chico Rei produz máscaras de tecido para distribuição gratuita ao sistema prisional e Demlurb (Foto: Divulgação)

Produção e doação de 10 mil máscaras

Contribuir para o bem-estar coletivo sempre foi uma das bandeiras da empresa Chico Rei, localizada no Bairro Santos Dumont, atuante em diferentes projetos sociais. O mais recente deles, criado no final do ano passado, foi a construção de uma unidade fabril dentro da Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires, que auxilia na ressocialização dos acautelados. Quando a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil, o diretor da empresa, Bruno Imbrizi, identificou que o sistema prisional era um dos setores que demandavam produtos para a segurança pessoal. Foi assim, que a Chico Rei iniciou a produção de máscaras de tecido para distribuição gratuita.

Até o momento, já foram entregues 10 mil unidades para o sistema prisional de Minas Gerais e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb) de Juiz de Fora. A Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac) e a Associação Feminina de Prevenção e Combate ao Câncer (Ascomcer) também serão contempladas. “As máscaras não são para uso no sistema de saúde, mas para outros setores funciona como forma de proteção e cuidado. Buscamos informações com médicos e com o Ministério da Saúde para realizar a distribuição. Para isso, usamos a logística de entrega de camisetas da Chico Rei”, explica Bruno.

A expectativa é que a produção aumente na próxima semana e outros setores possam receber as máscaras. “Há uma rede de empresários interessados em promover essa distribuição. Esperamos passar de mil para seis mil unidades produzidas por dia.” A malharia Torp é uma das empresas que se uniu à iniciativa e tem doado tecido para a confecção das máscaras.

Pequenos negócios

Além disso, a Chico Rei reuniu pequenos produtores caseiros, que estão sendo afetados pela crise e que possuem negócios de confecção e estamparia em seus lares, para fabricarem camisetas da marca. “Como estamos também no mercado on-line, esta é uma forma desses produtores poderem se manter.” No site é possível se informar sobre os projetos sociais da Chico Rei.

Adaptação de espaços para apoio ao atendimento

Também por conta da pandemia da Covid-19, o Moinho Center JK, no Bairro Francisco Bernardino, tem sido preparado para funcionar como apoio ao atendimento em Juiz de Fora, caso seja necessário. “Estamos trabalhando para deixar nosso espaço físico apto como centro de apoio, sobretudo para os moradores da Zona Norte, nas ações de emergência para o enfrentamento ao novo coronavírus”, informou a assessoria.

Além disso, os responsáveis pelo empreendimento doaram quatro respiradores para auxiliar no tratamento das pessoas com a doença, sendo dois para o HU-UFJF e dois para o Hospital João Penido. O Moinho Center JK também integra uma rede colaborativa, formada por diferentes empresas e sociedade civil, responsável pela realização de diferentes ações na cidade.

O Trade Hotel também tem se preparado para prestar suporte aos hospitais da cidade, mas a ideia é adaptar os quartos em leitos hospitalares para atendimento a pacientes com suspeita da doença. O estabelecimento busca formas de auxiliar no possível aumento na demanda pelos hospitais. “Nós só precisaríamos ter oxigênio e as máquinas respiratórias. Nós já conseguimos oxigênio e estamos atrás das máquinas, mas isso está bem adiantado”, disse o gerente geral do Trade Hotel, José Carlos Branco, em recente entrevista à Tribuna. O hotel já entrou em contato com algumas unidades de saúde para apresentar a proposta. “Espero que a gente não chegue a esse ponto. Se chegar, espero estar pronto para ajudar mais um pouco e contribuir para o bem da cidade.”

Comunidades também são atendidas por iniciativas

A campanha solidária “Amor que Alcança” irá doar cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade social. A iniciativa é uma parceria da clínica veterinária SoulCat, localizada em São Mateus, com o Ministério Universidades Renovadas (MUR). “Como a clínica está na lista de serviços que podem permanecer em funcionamento, vi a possibilidade de sermos um ponto de referência para a arrecadação dos alimentos. Além disso, por sermos da área da saúde, sabemos dos cuidados necessários para fazer a assepsia dos produtos arrecadados antes de destiná-los à doação”, explica a veterinária e sócia do estabelecimento, Priscila Rezende.

Para a confecção das cestas, estão sendo recolhidos arroz, feijão, macarrão, fubá, massa de tomate, óleo de soja e sabonete. As entregas podem ser feitas na clínica (Rua Tavares Bastos 93, São Mateus), e também são aceitas doações em dinheiro. Neste caso, é preciso entrar em contato pelo WhatsApp (32) 99951-0606. “O dinheiro será destinado para compra em pequenos comércios locais para ajudá-los nesse período.”

Até o momento foram arrecadados alimentos suficientes para elaboração de 20 cestas. “A distribuição será feita de 15 em 15 dias. Temos contatos em postos de saúde de diferentes bairros, que conhecem as famílias mais vulneráveis e irão nos ajudar a fazer a triagem. Também queremos estudar alguma forma de chegar aos vendedores ambulantes, que estão enfrentando muitas dificuldades nesse momento.”
Para Priscila, a solidariedade é uma via de mão dupla. “Sinto que não posso ficar parada, preciso fazer o que está ao meu alcance. É uma forma de ocupar a mente sem ser olhando apenas para a tragédia, cultivando tristeza. É uma oportunidade para fazer algo bom.”

Bairro Floresta

Para atender a demanda dos moradores do Bairro Floresta por máscaras de prevenção à Covid-19, a fábrica de tecidos São João Evangelista, situada no local, passou a destinar parte da produção à confecção do artigo. “Somos uma empresa familiar, e estamos em nossa quarta geração. São 109 anos atuando aqui”, conta o diretor comercial, Marcelo Assis.

Ele relembra um pouco da história afetiva da família com a comunidade. “Meu bisavô é um dos fundadores do bairro. Ele plantava café, e os moradores ajudavam na colheita, que era realizada uma vez por ano. Quando a fábrica veio para cá, a ideia era garantir que as pessoas tivessem emprego durante o ano todo.”

A fábrica tem produzido em torno de mil máscaras por dia, que são vendidas pelo preço de custo para os moradores do Floresta. “Nós queremos contribuir para comunidade que pertencemos, mas também entendemos a importância deste trabalho chegar a mais pessoas. Por isso, estamos criando uma lojinha virtual que também mantém o preço de custo.” O endereço é www.allmagazine.com.br.

Rede colaborativa busca minimizar impactos

Uma rede colaborativa formada por representantes da sociedade civil, iniciativa privada e de instituições públicas foi criada, em Juiz de Fora, para a realização de ações conjuntas para o enfrentamento da Covid-19, buscando minimizar impactos sociais, econômicos e no sistema de saúde da cidade.

Algumas ações já foram realizadas, como a doação de cinco mil litros de diesel para ambulâncias, feita pela Jupel Petróleo, e a entrega de oxímetros e termômetrospara Unidades Básicas de Saúde (UBS), feita pela Drogaria Souza em parceria com a população. Outras estão em andamento, como a distribuição de 12 mil litros de álcool 70 para instituições de saúde, que está sendo realizada pelo Grupo Bahamas.

Outros projetos da rede seguem em andamento, como a iniciativa do Rotary Club de Juiz de Fora Passaporte Estrela Sul de produzir capote, capuz e calça em TNT para doação aos profissionais de instituições de saúde. A ação ganhou o patrocínio das empresas Hillstore, Staff Uniformes, Lensoushop, Angeloanjim Bali, Rocar, Erley Confecções e Malhas Pinguim. Desta forma, serão doados 2.500 kits semanais.

Além das vestimentas, também estão sendo providenciadas máscaras KN95 que serão distribuídas para hospitais públicos e privados. A empresa U&M patrocinou a importação dos produtos, que chegam nos próximos dias. Também serão entregues 200 mil máscaras de tecido para trabalhadores de serviços essenciais e a população vulnerável, medida apoiada pela Simappel, Moinho Center JK e Rodoviária Camilo dos Santos.

O Hotel Serrano deixará a disposição 28 leitos para profissionais da saúde que tenham familiares em grupo de risco. Outros projetos estão sendo estudados por esta rede, como a criação de uma central de atendimento feito por profissionais da saúde voluntários para orientar a população sobre a Covid-19.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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