Falta de leitos de UTI em JF e região preocupa Ministério Público

No mesmo dia em que um caso suspeito de Covid-19 foi confirmado em Juiz de Fora em exame preliminar, o Ministério Público (MP) convocou uma reunião de urgência com gestores de hospitais, secretaria e diretorias regionais de Saúde, demonstrando preocupação com a capacidade de atendimento diante da possibilidade de avanço do coronavírus na cidade e entorno nas próximas semanas. Atualmente, a Macrorregião Sanitária Sudeste, que reúne 94 municípios e população estimada em 1,6 milhão de habitantes, conta com 344 leitos de UTI ativos (segundo Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES). Desses, 190 estão em Juiz de Fora, sendo 133 na rede pública e 57 na privada. No entanto, se forem desconsiderados os leitos especializados (oncologia) e aqueles inoperantes, a quantidade total é reduzida para 277. Além disso, conforme o plano de contingência inicial do Estado, há apenas dois leitos de UTI para isolamento específico para a doença, sendo um deles no Hospital Regional Doutor João Penido e outro no Hospital Universitário (HU).

“É insignificante perto de uma possível demanda que possa ocorrer, principalmente naquela faixa etária, de pessoas mais idosas, que possam precisar de internações por período mais prolongado”, afirmou o coordenador regional das Promotorias de Justiça de Defesa da Saúde da Macrorregião Sanitária Sudeste, Rodrigo Barros. “Se um paciente de Covid-19 chega a um CTI com dez leitos, por exemplo, ele interdita essa unidade como um todo. Então esse fluxo precisa ser desenhado, porque as outras doenças não vão deixar de acontecer, e todos precisam ser atendidos”, alertou, lembrando que outras enfermidades, como tuberculose, também exigem isolamento.

O promotor foi enfático: “Queremos saber o plano de contingência vislumbrado e se serão criados novos leitos de UTI. Temos problemas hoje de leitos inoperantes, como no caso do João Penido, que tem espaço para mais 11, que sequer possuem os equipamentos e os recursos humanos necessários. A própria Maternidade Therezinha de Jesus tem 40 leitos cadastrados e só 20 em atividade. Os outros estão montados, mas paralisados por falta de contrato e de um repasse financeiro dentro da Rede de Urgência e Emergência. Todas essas questões devem ser sanadas de forma imediata. Não temos mais tempo para discussões e negociações. Precisamos de uma ação efetiva por parte de todos os gestores, de um novo plano de contingência para se fazer frente a essa nova demanda, que já está chegando.”

Após o encontro, ficaram definidas quatro necessidades urgentes: plano de contingência atualizado para atendimento aos usuários SUS com suspeita de Covid-19, definindo-se de forma clara o fluxo para internação dos pacientes em estado mais grave; imediata operacionalização dos leitos de UTI atualmente desativados; orientação às instituições de longa permanência de idosos nos 94 municípios da macrorregião, quanto aos cuidados preventivos e, por fim, melhor orientação pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) sobre as medidas preventivas e eventual necessidade de cancelamento de eventos com maior aglomeração de público.

Presente na reunião na Regional de Saúde, o superintendente Gilson Lopes Soares garantiu que medidas estão sendo tomadas no sentido de ampliar o potencial de resposta.

“A situação está se agravando, e nós não podemos ficar à espera. Convocamos todos os hospitais, principalmente aqueles que têm leitos de UTI, para fazermos os preparativos e não sermos surpreendidos com o aumento de casos.”

Segundo ele, médicos relataram que muitas pessoas já estão comparecendo aos hospitais. “Nem todas apresentam aqueles sintomas que justifiquem uma coleta de materiais. Mas estamos esperando um aumento muito grande, desse fim de semana em diante, da procura nas unidades de saúde.”

Gilson afirmou que a Superintendência Regional está alinhada com a Secretaria Municipal de Saúde para tomar medidas urgentes, lembrando da importância não só de leitos de UTI, mas de respiradores disponíveis. “Conclamei na reunião um comitê permanente para estabelecer um plano de ação.” Segundo ele, com a evolução da doença, estão sendo estudadas possibilidades como a ampliação dos leitos do João Penido. “Mas precisariam de equipe e equipamentos. Vai depender de um certo tempo. Na Maternidade, esses 20 leitos que estão aguardando credenciamento também poderão ser usados no incremento.”

O promotor de Justiça de Defesa da Saúde da Comarca de Juiz de Fora, Jorge Tobias, ressaltou que as pessoas da terceira idade são vítimas em potencial.

“Na semana que vem, vamos fazer contato com todas as instituições de permanência de idosos, para traçarmos como devem ser efetuadas as visitas e sabermos a situação de saúde dos funcionários. Não se trata de alarmismo, mas temos que nos antecipar com medidas de precaução e prevenção para evitar que a situação se torne incontrolável.”

O promotor Rodrigo Barros enfatizou ser necessário saber a real capacidade hospitalar, em termos de leitos de UTI disponíveis. “Esse talvez seja o maior gargalo do atendimento à saúde, não só do SUS. E já está demonstrado que existe uma faixa etária que tem a propensão de apresentar a forma mais grave da doença, levando a necessidade de internação.” Para ele, a reunião foi fundamental para que o tratamento dos pacientes que venham a apresentar a Covid-19 possa ser feito sem as dificuldades enfrentadas nos demais países, como a Itália, com alto índice de letalidade da doença. “Não gostaríamos, em nenhuma hipótese, ter uma demanda chegando aos hospitais da região, e esses não terem condições de receber, como já vimos acontecer em função dessa pandemia.”

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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