Funcionários da Mercedes-Benz usam máscara inclusiva para facilitar comunicação

Renato (AO CENTRO) com os colegas, dentro da fábrica em Juiz de Fora (Foto: Arquivo Pessoal)

Há exatos 12 anos e sete meses, Renato Oliveira, 33 anos, operador de produção de pintura da Mercedes-Benz de Juiz de Fora, acorda antes de o sol nascer para se preparar para mais um dia de trabalho na montadora. Sua deficiência auditiva foi descoberta quando ele tinha dois anos, mas Renato nunca deixou que a limitação fosse um problema em sua vida. Com a pandemia, a rotina da empresa fez com que o sorriso de Renato sumisse por conta de um detalhe: o uso das máscaras. Renato se comunica fazendo leitura labial e, com o uso acessório, ficou impossível a interação. Porém, os funcionários da Mercedes conseguiram driblar o problema. Usando criatividade e muito carinho, confeccionaram uma máscara que permite que os lábios continuem sendo os ouvidos do colega. Agora, a empresa vai estender a corrente do bem, levando a ideia para as outras três unidades brasileiras da montadora.

Formado em mecânica industrial, Renato conta que, após uma parada nas atividades da fábrica em razão da pandemia, voltou ao trabalho em maio. Já instituído o uso das máscaras para proteção, o operador se sentiu perdido. Para Renato, o trabalho sempre foi sinônimo de superação e desenvolvimento. “Eu comecei a trabalhar pois queria aprender novas palavras, fazer amigos, ter minha independência financeira. Trabalhar me ajuda muito a estar inserido no meio das pessoas. Muito rápido eu já estava com vários amigos no trabalho e aprendendo novas funções. Mas, com as máscaras, eu não conseguia entender nada que as pessoas falavam, fiquei sozinho e triste”, disse.

A mãe de Renato, Elmara Lopes, contou que o trabalho significa muito para o filho, e o emprego na montadora é a realização de um sonho .”É a felicidade dele. Renato sempre foi muito responsável e a gente vê que, para ele, o trabalho é importante para a autoestima. Ele se sente valorizado. Assim que descobrimos seu problema, corremos contra o tempo para dar a ele o melhor tratamento. E assim Renato começou a falar, daquele jeitinho especial dele, e sempre contou muito com o estímulo e a ajuda do irmão mais novo, Rodrigo. Erramos um pouco em não inseri-lo no aprendizado das libras. Ele não sabe nada e nem nós, então, a comunicação dele é toda com a leitura labial. Como em casa não usamos máscaras, essa dificuldade na comunicação não veio a tona para nós, a princípio”, disse.

Renato com o amigo Juan, que teve a ideia do acessório adaptado (Foto: Arquivo Pessoal)

Rotina modificada no trabalho

Juan Karlo de Oliveira Pinto é colega de trabalho de Renato há três anos e se tornou um de seus melhores amigos. Foi ele quem percebeu o desapontamento do amigo em não conseguir mais se comunicar com todos, como sempre gostou. “O Renato, apesar da deficiência, sempre foi uma pessoa muito comunicativa e extrovertida. Ele sempre levou uma vida normal no seu dia a dia de trabalho e, com sua facilidade para fazer leitura labial, nunca teve problemas de comunicação ou inclusão com os demais colegas. Acompanhando de perto a dificuldade de comunicação e adaptação da nova realidade, percebi que o Renato estava muito triste, até que, no final do expediente, ele me enviou uma mensagem demonstrando abatimento por não conseguir se comunicar”, contou.

Foi então que Juan, mesmo sem atualmente integrar a mesma equipe de trabalho, começou a refletir como poderia ajudar o amigo, sem comprometer a segurança sanitária de todos. “Me recordei de ter lido uma reportagem de uma mãe que criou uma máscara inclusiva, com o visor transparente, para comunicar com a filha com deficiência auditiva. Pesquisei sobre o tema e passei a situação para nosso supervisor, que logo se propôs a produzir as máscaras na confecção de sua esposa.”

Além do supervisor Carlos Teodoro, todos os integrantes da equipe foram unânimes em abraçar a ideia do uso do acessório diferenciado. Porém, eles não contaram ao amigo sobre o que planejavam. A união para ver o colega alegre novamente emocionou Carlos. “O Juan nos mandou vídeo desta mãe que criou a máscara inclusiva, e logo nós confeccionamos uma peça piloto, que foi mandada para a montadora para aprovação. Após alguns ajustes, o uso foi aceito”, comentou.

Com as máscaras em mãos, os amigos de trabalho fizeram uma grande surpresa para Renato no último dia 30: usando o novo acessório, os colegas o chamaram até uma área da produção. Ao ver a novidade, Renato conta que não segurou as lágrimas, mas dessa vez, de alegria. “Não sabia de nada, fiquei todo arrepiado, chorei muito e fiquei muito feliz. Agora, estou tranquilo de novo, consigo conversar com todos e entender”, contou.

Iniciativa estendida

O vice-presidente de Recursos Humanos da Mercedes-Benz América Latina, Fernando Garcia, comentou sobre a ação de inclusão. Ele destacou que a iniciativa vai ser estendida para outras unidades da montadora. “Nos deixa bastante contentes a iniciativa proativa dos nossos colaboradores de Juiz de Fora. Este é um verdadeiro exemplo de como a diversidade e a inclusão devem ser cada vez mais discutidas, trabalhadas e, principalmente, implementadas dentro das empresas. O Comitê de Diversidade da Mercedes-Benz do Brasil, assim que soube da ação voluntária dos nossos colaboradores, agiu rapidamente e já está trabalhando para estender esta iniciativa também para os colegas com deficiência auditiva de nossas outras três unidades em São Paulo. É um orgulho para nós ver como a nossa fábrica mineira foi pioneira em uma atitude voluntária como esta”, diz.

Para o supervisor do grupo, voltar a ver o colega conseguindo se comunicar é o que importa. “Meu foco como supervisor são as pessoas. Não tem preço ver a felicidade no olhar do Renato. Ele é um amigo que tenho além da relação de trabalho, a admiração que tenho por ele é enorme. Ver a emoção que ele ficou com a novidade é uma das coisas que fazem valer nossa passagem aqui. Espero que sirva de exemplo para mais pessoas”, contou, emocionado.

Para a mãe de Renato, o sentimento é de gratidão. “Isso que fizeram para ele foi a coisa mais linda do mundo, foi empatia, amor. Eu tinha feito máscaras para doar, mas, em momento nenhum, a gente pensou no Renato como deficiente. Depois da surpresa, ele chegou numa felicidade pelo o que os amigos tinham feito, nada no mundo paga. Só tenho a agradecer, foi um gesto que emocionou toda a família”, finalizou Elmara.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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