Homem é julgado por atropelar ex e mais 3 pessoas em calçada de bar

“Ele acabou com minha vida. Senti muita dor e gostaria que isso não acontecesse com mais ninguém. Foi muita crueldade por um simples não querer.” A declaração foi feita por uma assistente administrativa de 55 anos ao juiz Paulo Tristão durante julgamento, nesta terça-feira (12), no Tribunal do Júri, em Juiz de Fora. Em pleno Mês da Mulher, o acusado da tentativa de feminicídio, 64, sentou no banco dos réus quase três anos e meio depois do crime. Até o fechamento desta edição, a sessão ainda não havia terminado, mas a Tribuna participou de parte do julgamento e ouviu relatos da vítima e testemunhas.

Era madrugada do dia 30 de outubro de 2015, quando a vítima, o filho dela, a namorada dele e uma amiga foram atropelados quando se levantavam da mesa na calçada de um bar na Avenida Governador Valadares, no Bairro Manoel Honório, Zona Leste. O motorista, que teria lançado o carro contra o grupo de forma proposital ferindo todos, ainda deu marcha a ré para passar por cima da ex, que já estava caída e desacordada no chão, em meio a cadeiras, copos e garrafas. Ele estaria inconformado com o término do relacionamento de dois meses.

O suspeito fugiu após o atentado, deixando a ex-namorada acamada por três meses. Ela sofreu politraumatismo, múltiplas fraturas, inclusive no nariz, além de traumatismo cranioencefálico. Ele seguiu a vida em liberdade até 7 de agosto de 2017, quando uma nova denúncia de violência doméstica veio à tona: uma mulher, de atuais 56 anos, esteve em uma delegacia de Belo Horizonte, requerendo medida protetiva, por estar sendo ameaçada pelo companheiro, por motivo de ciúmes. Ao retornar para casa naquele dia, ela teria sido novamente ameaçada, inclusive de perder o imóvel e o carro, caso não retirasse a queixa. Temendo por sua vida, a vítima voltou a procurar a polícia, que consultou o nome do suspeito e descobriu haver contra ele mandado de prisão expedido pelo juiz Paulo Tristão.

Durante o tribunal do júri, a assistente administrativa relatou seu sofrimento após ser atropelada pelo ex (Foto: Marcelo Ribeiro)

Réu está preso na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires

Nesta terça, o réu é julgado por tentativa de homicídio qualificada como feminicídio, por razões da condição de sexo feminino e no contexto da violência doméstica e familiar, agravado por ter sido praticado na presença do filho da mulher. O crime também é qualificado por ter ocorrido mediante recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa das vítimas. Além de ser acusado de ter “arremessado o veículo” contra sua ex-companheira, o homem responde por ter assumido o risco do resultado morte, atropelando as outras três pessoas, “não as matando porque não foram atingidas em regiões letais e receberam atendimento médico”.

Ainda conforme a denúncia do Ministério Público, as vítimas estavam em uma mesa na calçada do bar, quando o homem chegou ao estabelecimento e ficou olhando para a ex de forma ameaçadora. Incomodado com a situação, o filho dela foi conversar com ele, mas recebeu como resposta a declaração de que “aquela noite não acabaria bem”. Após algum tempo, o acusado retirou-se do bar e saiu em seu veículo, “retornando minutos depois, lançando o carro em direção às vítimas, atingindo-as e causando-lhes lesões. Não satisfeito, manobrou o veículo e atropelou novamente a mulher”.

O MP destacou que a tentativa de feminicídio foi praticada “em virtude de terem rompido um relacionamento amoroso” e que as vítimas “tiveram suas defesas impossibilitadas ao serem surpreendidas com o ataque num bar, num momento de descontração”.

O réu está atualmente preso na Penitenciária Professor Ariosvaldo Campos Pires, em Juiz de Fora. Segundo a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), desde que foi detido, em agosto de 2017, ele esteve acautelado no Presídio de São Joaquim de Bicas I, no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional de Contagem, no Presídio de Congonhas e no Complexo Penitenciário Nelson Hungria. O motivo das transferências não foi informado.

‘Temos que ficar com alguém para ser feliz’

Ao ser questionada durante o julgamento sobre o motivo de ter terminado o relacionamento de dois meses com o acusado de tentar matá-la, a assistente administrativa, graduada em Ciências Contábeis, foi precisa: “Temos que ficar com alguém para ser feliz, e eu não estava.” Ela acrescentou que o homem demonstrou “total inconformismo” com o fim da relação, chegando a afirmar que “se ela não ficasse com ele, não ficaria com mais ninguém”. O tom contrastou com o início do namoro, quando ela o descreveu como um “gentleman”, do tipo que puxava cadeira e abria a porta do carro. Entre o término e o atentado, a vítima afirma ter sofrido perseguições, tanto por meio de mensagens, quanto pessoais. “Ele foi até a porta do meu trabalho várias vezes e chegou a pegar um ônibus no qual eu poderia estar. Também me seguiu até a casa de uma amiga.”

Sobre o dia fatídico, a assistente disse não se recordar do atropelamento. “Tão logo pedimos a conta, ele pagou a dele no balcão e saiu. Quando a gente se levantou da mesa, eu não lembro de mais nada. Fui surpreendida pelas costas e derrubada no chão.” As sequelas, segundo ela, não foram só físicas. “Sempre fui ativa e trabalhadora. Fiquei três meses acamada, um mês sem colocar os pés no chão. Depois passei para cadeira de rodas, andador, muleta e bengala. Perdi parte da minha mobilidade, porque não posso pegar muito peso e nem descer ou subir muita escada. Invariavelmente durmo com dor e amanheço com dor. Não saio mais, só trabalho e vou para a casa de amigos. Ando na rua olhando para trás e para os lados, mesmo sabendo que ele está preso. Estou traumatizada”, resumiu.

Uma operadora de telemarketing e namorada do filho da vítima na época, 26, relatou, em seu depoimento no Tribunal do Júri, que o encontro no bar também era para comemorar seu aniversário naquela semana. Ela sofreu ferimentos em várias partes do corpo, inclusive no rosto, que teria sido arrastado contra o chão. “Ninguém esperava isso. Ainda deu tempo de correr um pouco, mas pela velocidade fui atingida na parte de trás do corpo e jogada a uns três metros.”

O filho da assistente, 30, foi categórico ao afirmar que o psicológico da mãe foi muito abalado. Ele também sofreu escoriações. Uma manicure e amiga da vítima, 52, recordou, diante dos jurados, ter sido a primeira a ser atropelada, sofrendo lesões no quadril e na cabeça. “Ele estava inconformado com o fim do relacionamento, e ela estava até com medo dele, não queria sair mais de casa. Mas naquele dia a convenci”, lamentou.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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