Homenagem aos enfermeiros de JF: o poder de cuidar

Paramentados com capotes, luvas, máscaras, encaram todos os dias o medo do invisível para honrarem aquilo a que se propuseram a fazer: ajudar a salvar vidas. Muito mais que enfermeiros, em meio à pandemia, eles passaram a ser um alento para os acometidos pelo coronavírus. A nova realidade deixou a categoria mais exposta que nunca, mas também reforçou sua relevância.

A profissão – que tem origem milenar e data da época em que ser enfermeiro era uma referência a quem cuidava, protegia e nutria pessoas convalescentes, idosos e deficientes – está sendo cada vez mais valorizada. E vem se aperfeiçoando, sofrendo mudanças e inovações ao longo dos anos, com o crescimento de cursos, técnicas, tecnologias e formações cada vez mais avançadas, que contribuem para moldar o futuro dos cuidados à saúde.

Para homenagear esse profissional, que tem se destacado neste cenário, no mês em que se comemora o Dia do Enfermeiro, a Tribuna apresenta histórias vividas e contadas por três enfermeiras dos hospitais Monte Sinai, Albert Sabin e Maternidade Therezinha de Jesus.

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Ligia Zancanella, enfermeira do Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus (foto: Fernando Priamo)

“Soldados em batalha”

Acostumada a sempre cuidar e levar amor, a enfermeira do Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus, Ligia Dias Zancanella, 37 anos, foi contaminada duas vezes pelo coronavírus e esteve do outro lado da linha, como paciente. Formada há 13 anos e há sete trabalhando na unidade cirúrgica do hospital, Ligia afirma que escolheu a enfermagem para servir ao próximo e ajudar a salvar vidas. Sua meta sempre foi transferir para seus pacientes amor, carinho e esperança.

Acometida pela Covid-19 pela segunda vez, em fevereiro deste ano, precisou ficar internada 16 dias, 13 deles na UTI. Com muita fé, ela venceu a doença. “Meu pulmão ficou 25% comprometido. Durante três dias, fiquei bem. Quando saiu o resultado, comecei a ficar ansiosa, preocupada, e minha capacidade respiratória ficou comprometida, não consegui ficar sozinha na enfermaria e pedi para ir para a UTI. E lá começou minha luta para respirar. Mas meu pensamento era em Deus, meu desejo era ar para viver. Foi muito sofrimento, muita dor, muito desespero em busca de ar para respirar, foi avassalador. Foi uma busca a cada dia para eu não ser intubada devido ao medo de deixar minha filha, meus pais, minha família que tanto amo, que estavam orando todos os dias juntos”, lembra.

Ligia conta que os enfermeiros, chamados por ela de “soldados em batalha”, foram os que lhe deram forças para não desistir. “A preocupação deles me impulsionava mais e mais para não perder o ar. Eles foram minha segurança naquele momento, trouxeram alívio para minha alma quando me faltava calor humano. Eles eram meus psicólogos nos meus momentos de preocupação. Sou muito grata a todos. Ser enfermeiro em meio à pandemia é representar esperança. Somos heróis da saúde, não apenas pela profissão, mas pelo desejo de amar, de ajudar a salvar vidas, ver com os nossos olhos aquela história mudar e proporcionar o respirar de forma heroica e sobrenatural”, diz.

“A enfermagem me escolheu”

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Camila Neves, enfermeira do Hospital Albert Sabin

Camila Mautone Alves Neves, 30 anos, é enfermeira do Albert Sabin. Formada desde 2009, a profissional da saúde trabalha há um ano e meio na UTI destinada a pacientes com Covid-19. Desde muito nova, Camila tinha como meta exercer o ofício de cuidar. Seu sonho era ser médica, e por muitos anos ela tentou o vestibular para o curso, até que passou para a faculdade de enfermagem. “Eu decidi cursar, mas ia continuar a fazer cursinho para tentar medicina. Porém, tudo mudou depois de uma palestra nas primeiras semanas de aula. O tema era sobre o que é ser enfermeira. Depois daquilo, eu vi que eu sempre quis ser enfermeira, e não médica. Eu, na verdade, não sabia o que um enfermeiro fazia, e era tudo o que eu sempre sonhei em fazer. Eu parei o cursinho e me dediquei totalmente à enfermagem, sempre falo que a enfermagem me escolheu”, relata.

Antes do Albert Sabin, Camila trabalhava na Atenção Primária de sua cidade natal, Lima Duarte, onde vivia com os pais. A volta para Juiz de Fora em meio à pandemia, quando ainda se sabia muito pouco sobre o coronavírus, deixou a enfermeira longe dos pais por cinco meses. Porém, ele ganhou novos “membros da família”. “Vim com toda coragem e vontade e encarei. Hoje, mais de um ano depois, o que me assusta é a quantidade de pessoas doentes, o colapso que chegou a ocorrer. O coronavírus é uma doença muito ingrata, além de te desestabilizar clinicamente, te deixa longe de quem você ama. Nossa relação e vínculo com o paciente ficou muito maior que quando se podia ter acompanhante. Eles passam quase que 100% do tempo com a gente. Precisam de carinho, cuidado. O emocional está muito ligado à melhora. Quando perdemos um paciente, é como se fosse alguém da família, é um desgaste emocional muito grande”, afirma.

“A gente veste nossa roupa de herói”

Thaíse Gonçalves, enfermeira do Hospital Monte Sinai

Enfermeira do Hospital Monte Sinai há 12 anos, Thaíse Aparecida Gonçalves, 35, viu sua rotina ser transformada há pouco mais de um ano. Transferida do trabalho com bebês direto para o setor de enfermagem que recebe os pacientes infectados pelo coronavírus, Thaíse encarou a missão como uma escolha de Deus. “Quando fui para este setor, muita gente, mesmo minha família, me questionava se eu iria continuar, que era muito arriscado eu contaminar e acabar contaminando meus pais, meu filho. No começo foi assustador, era tudo muito novo, eu fiquei muito apreensiva e assustada. Cada dia é um caso diferente, alguns pacientes voltando para casa bem, outros evoluindo mal e indo para a UTI. Mas, apesar do medo, sempre digo que a gente veste nossa roupa de herói, que não é uma capa, e vamos para a batalha. Eu nunca perdi a fé e a esperança”, disse.

Mãe de um menino de 11 anos e filha de um casal de idoso, a enfermeira passou por uma provação quando teve seu pai, 66 anos, e sua mãe, 68, ambos portadores de comorbidades, internados em outubro por conta da doença. “A primeira coisa que me veio à cabeça foi se eu é que os havia contaminado, fiz o teste, estava negativo, fiquei aliviada, mas angustiada com a situação deles. Graças a Deus ambos não precisaram ir para a UTI, embora minha mãe esteve a um passo para isso. Logo depois, em novembro, eu tive Covid-19, mas apenas sintomas leves”, conta.
Thaíse diz que a doença fez com que ela e os colegas aprendessem uma nova função, a de falar e sorrir com os olhos. “A gente vê o medo no olhar dos pacientes. Além de levarmos um afago, um carinho, precisamos conversar com eles com um sorriso. Aprendemos a mostrar que vai dar tudo certo com o nosso olhar”, disse.

A enfermeira diz que sai de casa todos os dias com o propósito de levar o melhor para aqueles de quem ela cuida. E é a sensação de dever cumprido ao voltar para casa e a fé inabalável que a ajudam a seguir. “O que estamos vivendo são momentos muito difíceis. A doença não escolhe raça, classe social ou escolaridade. Os doentes que procuram um hospital procuram alguém que cuide como se fosse da família, já que ficam longe daqueles que ama. Eu olho para cada um como se fosse meu parente. O que eu posso fazer, eu faço.”

História de luta e garra feminina

No dia 12 de maio, é comemorado o Dia Mundial da Enfermagem e o Dia Internacional do Enfermeiro, em homenagem a Florence Nightingale, enfermeira britânica que nasceu em 12 de maio de 1820 e se destacou, dentre outros feitos, por organizar e chefiar uma equipe de 38 enfermeiras voluntárias que partiram para o front da Guerra da Crimeia (1853-1856), onde tratavam dos soldados feridos.

No Brasil, a Semana da Enfermagem acontece entre os dias 12 e 20 de maio e lembra Ana Néri, enfermeira brasileira e a primeira a se alistar voluntariamente em combates militares. A baiana deixou uma vida tranquila para servir voluntariamente como enfermeira na Guerra do Paraguai (1865-1870), cuidando dos soldados brasileiros na frente de batalha.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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