JF tem mais de 900 multas em áreas de carga e descarga em 2019

As 97 vagas destinadas às operações de carga e descarga na região central de Juiz de Fora têm se mostrado insuficientes para realização do serviço. Isso porque, conforme depoimentos de quem atua na distribuição de mercadorias, o número de vagas é pouco e os empecilhos são muitos. Um deles é a utilização dessas áreas por veículos particulares. Em 2018, a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) realizou 3.664 autuações por estacionamento irregular em local destinado a carga e descarga. Em 2019, já foram feitos 918 registros, mantendo uma média de dez violações observadas por dia. Além dessa ocupação, quem trabalha com transporte de produtos precisa lidar também com barracas de ambulantes apoderando-se das vagas, ou mesmo com comerciantes ou outros transportadores demarcando-as com objetos, como ações para reservá-las. Em relatos recebidos pela Tribuna, tal situação provoca conflito entre transportadores.

Em uma segunda-feira (11 de março), a reportagem esteve na região central do município. Nas Ruas Halfeld e Santa Rita, objetos como cones e caixotes ocupavam vagas próprias para carga e descarga, impedindo outros veículos de as utilizarem. Já na Avenida Getúlio Vargas e na Rua Batista de Oliveira, os registros foram do comércio ambulante operando nos espaços que seriam próprios para o serviço de distribuição de mercadorias.
Para Paulo Roberto Elias, motorista de transporte, a utilização das vagas de carga e descarga por barracas de ambulantes e automóveis é o principal problema na cidade. Conforme Paulo, na maioria das vezes, é necessário rodar com o veículo repetidamente até que as áreas fiquem disponíveis, a fim de evitar outras complicações, já que, conforme o motorista, “não tem vaga suficiente para caminhão”. “Eu fui multado porque não tinha lugar. Tinha muita barraquinha, acabei parando ao lado e levei uma multa”, conta.

As dificuldades são sentidas, inclusive, por quem não é de Juiz de Fora, mas costuma realizar serviço de distribuição de mercadoria na cidade, como no caso de Médison Elias da Costa, transportador autônomo de Belo Horizonte. Umas das questões apontadas por Médison está relacionada aos horários disponibilizados para as operações. “Às vezes, nós não conseguimos nos programar para chegar em Juiz de Fora dentro do horário da carga e descarga. Acredito que tinha que ser liberado qualquer horário, já que existe a vaga, nós paramos e descarregamos.” Segundo o transportador, ainda há dificuldades quanto às marquises de alguns prédios na região central. “Um dos principais problemas em Juiz de Fora são as marquises. Ficam praticamente para fora da rua, é preciso tomar cuidado com o caminhão”, conta.

Fiscalização

Motoristas de caminhões reclamam que bancas de ambulantes ocupam áreas destinadas à carga e descarga na Avenida Getúlio Vargas (Foto: Marcelo Ribeiro)

Em nota, a Secretaria de Atividades Urbanas (SAU) da PJF informou que promove regularmente a fiscalização do comércio ambulante na cidade, bem como rondas fiscais, realizadas diariamente. Conforme a pasta, o objetivo das ações é “coibir os excessos e identificar irregularidades”, com um trabalho ostensivo que “busca garantir o ordenamento urbano”. A fiscalização se aplica, inclusive, às questões envolvendo reserva de vagas. A SAU ainda destacou que irá verificar as situações apontadas pela reportagem a fim de coibir as infrações identificadas.
Já a Settra explicou que, caso algum cidadão flagre a utilização das vagas por veículos particulares, a orientação é acionar a Central de Agentes de Fiscalização através do 3690-7400, para que possam tomar as devidas providências.

Cargas precisam ser fracionadas

A lei municipal nº 7062 dispõe sobre as operações de carga e descarga de mercadorias em Juiz de Fora e é regulamentada pelo decreto nº 9.357. Segundo o documento, os horários para realização de operações especiais – que envolvem mercadorias perecíveis, mudanças, materiais e equipamentos de construção para obra, distribuição de gás e transporte de valores em “carro forte” – nas vias de pedestres, com veículos de capacidade máxima de até 14 toneladas, são estabelecidos pelo órgão de trânsito. Na parte baixa da Rua Halfeld, por exemplo, caminhões de até 14 toneladas podem realizar distribuição de mercadorias de segunda-feira a sábado, entre 7h e 11h. Já os veículos de até 2 toneladas tem permissão para utilizar as vagas entre 7h e 19h, de segunda à sexta-feira, e de 7h às 13h aos sábados.

Com um tempo menor para caminhões maiores, muitas empresas optam por fracionar a carga, o que não é benéfico para o trânsito na cidade. “Onde cabe um caminhão de 6 toneladas, pode ter certeza que não vai caber 3 caminhões de 2 toneladas, ou seja, vai demandar muito espaço para transportar a mesma quantidade de mercadoria”, pontua Lucas Theodoro, gerente da transportadora Nova Era Express. “Para podermos otimizar o espaço de tráfego do Centro, principalmente, precisamos reduzir a quantidade de veículos rodando. Hoje, se não tiver esse espaço de carga e descarga, temos que fracionar a carga e, com isso, o que acontece: maior número de veículos trafegando no Centro.”

Em datas comemorativas, como as festividades de final de ano, quando as demandas no comércio aumentam e, consequentemente, a distribuição de mercadorias, o impacto no serviço revela a insuficiência de vagas no município. “Em datas comemorativas, quando todas essas vagas são ocupadas de manhã, é uma briga no Centro porque, às vezes, temos que mandar motorista sair da empresa 4h da manhã para conseguir pegar vaga no carga e descarga”, conta Arian Alves Ferreira, gestor de operações da Nova Era Express. Conforme Arian, a disputa causa conflitos, principalmente quando há a reserva dessas vagas. “Já tivemos relatos de ajudantes que houve briga no meio da rua. Iriam fazer uma entrega rápida, mas não puderam estacionar.”

Multas

Condutores de veículos de carga ressaltam a dificuldade para estacionar em algumas vagas diante da reserva de forma irregular, com a colocação de caixotes como este na Rua Halfeld (Foto: Marcelo Ribeiro)

Com vagas e tempo restritos, os próprios transportadores acabam sendo alvo da fiscalização. “Muitas vezes, quando temos demanda alta, nossos motoristas precisam ficar um tempo fora do horário e são multados frequentemente”, conta Lucas Theodoro. Para o gerente da Nova Era Express, as dificuldades na entrega de mercadorias acabam impactando diretamente na cadeia comercial. “Os lojistas precisam da mercadoria em tempo hábil para poder vender aos seus clientes e para movimentar a economia local. Quanto mais rigorosa, quanto maior a restrição na distribuição, prejudica não só o transportador, mas a cadeia como um todo.”

Especialista em trânsito defende projeto para o setor

Existe a necessidade de percepção de que a cidade não é só feita pelo e para o trânsito de carga e descarga. O especialista em mobilidade urbana, mestre em Engenharia de Transporte, José Luiz Britto Bastos, considera que o tráfego no município envolve um sistema complexo, no qual devem ser considerados os automóveis, as motocicletas, os ônibus do transporte público coletivo e, principalmente, o movimento das pessoas. “Para a carga e descarga, é preciso sim haver horário, preferencialmente, no período da noite, pois de dia, com certeza, atrapalha o trânsito, sobretudo em Juiz de Fora, onde já circulam 260 mil veículos”, destaca.

Britto argumenta que a situação do trânsito de Juiz de Fora é crítica e prevê que, se nada for feito para minimizar os impactos, em cerca de três anos, o tráfego poderá ficar completamente congestionado. “Dessa forma, a carga e descarga precisa ser estudada, precisa de projeto e, com certeza, o fracionamento. É necessário ter no entorno da cidade os terminais de carga e descarga onde seja realizada a descarga de grandes caminhões, transferindo suas cargas para veículos menores, que possam circular no Centro da cidade, impactando menos o tráfego. Esse trabalho, ao meu ver, precisa acontecer exclusivamente à noite ou que seja fora do horário crítico, pelo menos, entre 20h às 22h, que tem volume de tráfego menor. Mas isso precisa fazer parte de um projeto abrangente, que tenha vontade de cuidar desse assunto de fato”.

Sindicato aponta dificuldades

Os problemas envolvendo as operações de carga e descarga em Juiz de Fora são constantemente dialogados com a Settra, segundo Alexandre Picorelli Assis, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Juiz de Fora (SETCJF), com o objetivo de buscar alternativas para tentar minimizar as dificuldades envolvendo o serviço. Entretanto, tais situações continuam se sobressaindo. “As vagas de carga e descarga já estão preestabelecidas, mas, no nosso entendimento, são poucas para atender a demanda necessária na região do Centro da cidade. Em função dessa dificuldade, muitas empresas acabam parando seus caminhões em lugares distantes, dificultando a movimentação da carga e a própria logística”, explica.

Assis aponta a necessidade de maior controle nas áreas próprias para as operações, não só por conta do comércio ambulante, mas também para evitar conflitos envolvendo a reserva das vagas, seja por outros veículos ou objetos, como nos pontos flagrados pela Tribuna. Além disso, o vice-presidente do SETCJF argumenta que o tempo destinado para o serviço é limitado. Em algumas vias, como na Rua Batista de Oliveira, considerada via de pedestre entre a Avenida Getúlio Vargas e Rua São João Nepomuceno, as operações de carga e descarga podem ser realizadas entre 7h e 11h. “Se esse horário fosse estendido, por exemplo, das 7h às 13h, ajudaria. O ideal é durante o horário comercial, em que as vagas destinadas a carga e descarga poderiam ser usadas ao longo do dia”, defende. “O centro da cidade está se tornando mais volumoso, com mais ambulantes, mais veículos e mais lojas, então, naturalmente, essa restrição de local e de horário dificulta muito para as empresas de transporte fazerem essa operação de carga e descarga.”

Problemas afetam o comércio local

Os problemas encontrados nas operações de carga e descarga em Juiz de Fora afetam diretamente o comércio local. Conforme o presidente do Sindicato do Comércio (Sindicomércio), Emerson Beloti, três principais pontos dificultam o serviço na cidade: vagas insuficientes, tempo limitado e utilização das vagas destinadas à distribuição de mercadorias por outros automóveis. “O que acontece é que a carga e descarga em Juiz de Fora tem, hoje, o mesmo número de vagas que anos atrás. O serviço não sofreu alterações, não têm mais pontos de carga e descarga”, explica.
Para Beloti, o fato de haver normas para exercer a atividade à noite também é um empecilho para a própria população que reside na região central. “O Centro de Juiz de Fora é um centro vivo, ou seja, as pessoas não só comercializam, mas é onde residem milhares de pessoas. Não dá para se fazer carga e descarga à noite.”

Para o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL/JF), Marcos Casarin, os conflitos ocasionados pela disputa das vagas das operações de carga e descarga continuarão caso nenhuma atitude seja tomada, considerando que o município têm crescido e precisa de readequações. “O Centro de Juiz de Fora é muito concentrado. A partir disso, é preciso fazer um projeto que atenda agora e daqui para frente. O que não pode acontecer é o que está acontecendo agora: esse conflito”, diz. “A partir do momento que houver um estudo técnico, com pessoas capacitadas – no caso, a Prefeitura teria que fazer esse estudo – teria uma solução. O comércio está sempre em conflito e vai continuar enquanto não se tomar uma atitude.”

Avaliação técnica

A Settra explicou, em nota, que as áreas regulamentadas para operação de carga e descarga na região central consideram a necessidade do comércio, seguindo uma avaliação técnica. Porém, se houver necessidade de ampliação desses espaços ou de criação de vagas em endereço específico, é necessário que o lojista faça solicitação por meio do [email protected]. A partir do registro do pedido, um técnico visita o local para estudar a viabilidade da implantação ou adequação.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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