Jovens se unem para comprar casa para família no Nova Era

Adriana e João, catadores de materiais recicláveis, mais seis filhos e uma netinha chegaram a Juiz de Fora em 2009, vindos do interior da Bahia em busca de uma vida melhor e do sonho de ter uma casa própria. Lá, a vida era muito mais difícil, ganhando R$ 15 a cada quinzena, tornando o cotidiano insuportável para uma família com nove bocas para serem alimentadas, com apenas um R$ 1 por dia. “Na Bahia, a gente só tinha serviço na roça ou trabalho na casa de família, onde ganha pouco. Quando a gente chegou em Juiz de Fora, a gente gostou muito mais, e resolvemos que é aqui mesmo que vamos ficar”, diz Adriana.

As tribulações e a carência de oportunidades obrigaram a família a se refugiar numa casa abandonada, resto de demolição, no Bairro Nova Era, na Zona Norte. Dois quartos (sendo um da galera, como afirma Adriana sobre onde dormem todos os filhos e a neta juntos, para não sentirem frio), sala, cozinha e banheiro. As sobras desse imóvel não têm proteção no frio, e ele fica ao lado de um córrego, cercado por mato e entulho. A situação da família é agravada pela falta de água e energia elétrica e pela dependência de doações de alimentos.

“Em onze anos, trabalhamos com recicláveis e, com isso, graças a Deus, hoje já tem alguns que já estão mais ou menos criados, vendendo papelão”, orgulha-se a mãe. Ela conta que já houve ocasião em que pensou em desistir e voltar para o lugar de onde veio. “Já teve um dia que quase fomos morar na rua, e eu tive que andar na cidade com esses meninos tudo, para conseguir passagem para a gente voltar”, diz entre lágrimas, afirmando que o sonho “é ter um teto que fosse nosso”.

Ruínas de casa abandonada servem como abrigo para a família dos migrantes Adriana e João, que vieram da Bahia para JF em 2009 (Fotos: Carla Costa e Daniel Vitorino)

ONG faz vaquinha para arrecadar R$ 100 mil

Essa história de Adriana e sua família foi parar na ONG Engenheiros Sem Fronteiras, que se sensibilizou e, atualmente, promove uma iniciativa em parceria com a Associação de Apoio a Crianças e Idosos (AACI) com o propósito de dar um lar para a família.

De acordo com a estudante de engenharia civil, Amanda Godoy, de 20 anos, que integra a ONG, uma equipe do Engenheiros Sem Fronteiras visitou o imóvel de Adriana e percebeu que a reforma da casa não seria viável, uma vez que a família não tem outro lugar para permanecer durante o período da obra, além de não ter a posse do terreno.

“Onde eles habitam não chega a ser uma casa. Na verdade, é um resto de demolição que ficou no local, e a família ocupou. A fim de evitar problemas com a questão de usucapião e até para que não sejam retirados de lá posteriormente à reforma, decidimos realizar uma vaquinha com valor mais alto, com o objetivo de comprar uma casa para a família, que seria mais espaçosa para abrigá-los, já que são nove pessoas dividindo dois quartos. O sonho deles é ter mais quartos para, pelo menos, dividir entre meninos e meninas”, conta Amanda.

A Ong Engenheiros Sem Fronteiras funciona em parceria com a UFJF, onde fica a sua sede, com integrantes das faculdades de Arquitetura e Engenharia, que elaboram projetos para comunidades e pessoas em situação de vulnerabilidade social, contribuindo também para a formação dos estudantes. A ONG faz parte de uma rede mundial, e, aqui no Brasil, existem 70 núcleos, incluindo o grupo em Juiz de Fora.

“Se fosse apenas reforma, a ONG iria estar à frente, bancando os custos, mas como isso, a princípio, foi descartado, estamos promovendo a vaquinha e, dependendo do valor arrecadado, será avaliado o que melhor poderá ser feito. Temos ainda um apoio jurídico, que está avaliando a questão do usucapião”, explica Amanda, acrescentando que o teto da vaquinha é de R$ 100 mil.

No momento em que essa matéria estava sendo escrita, o valor arrecadado era de R$ 7.940, e a campanha ainda tem dois meses pela frente. Para ajudar a concretizar o sonho de Adriana e sua família, o interessado deve acessar a vaquinha neste site.

Solidariedade e aprendizado

(Fotos: Carla Costa e Daniel Vitorino)

Atualmente, Adriana, João, seus filhos e a netinha são ajudados pela AACI, que fica ao lado do local onde eles habitam. Conforme Amanda, a água e a luz de que dispunham eram de uma borracharia localizada em frente ao imóvel, mas isso acabou, e esse suporte está sendo oferecido pela AACI.

“Adriana e João vieram da Bahia para trabalhar como catadores de material reciclável, porque, segundo eles, essa atividade aqui era mais lucrativa. Mas, depois de um tempo, conseguiram emprego em dois supermercados e recebem salário mínimo, mas ainda é apertado para sustentar toda a família. Dois filhos já são maiores e estão desempregados”, ressalta Amanda, que está no quinto período da faculdade.

“Esse trabalho voluntário, no qual estou há seis meses, é muito importante, porque usar o que aprendo na faculdade para ajudar essa família é gratificante demais. Ver a felicidade deles em nos receber, sabendo que estamos ali para ajudá-los, porque existe um grande descaso, é de dar contentamento”, alegra-se a estudante.

Em razão do home office e dos cuidados para a evitar a proliferação do corovanírus, a reportagem não conseguiu falar com Adriana e seus familiares. As falas dela que aparecem na matéria foram retiradas do documentário Catadores de Sonhos: Casa de Papelão, produzido pela Maooe Comunicação e Marketing,  divulgado em versão reduzida no próprio site da vaquinha e inteiro no canal da produtora no YouTube.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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