Juiz-foranos se antecipam à lei e abolem uso de canudos plásticos

Antes de a lei que proíbe canudos plásticos em Juiz de Fora ser sancionada, os juiz-foranos já buscavam alternativas sustentáveis para reduzir o consumo de canudos de plástico. A estudante de publicidade Eduarda Vida não usa os produtos há mais de um ano, optando por canudos de outros materiais. De acordo com ela, a mudança foi natural, influenciada por biólogos de sua família que já a explicavam os malefícios do plástico, especialmente para a vida marinha. “Além do canudinho, eu cortei sacolinha de plástico, e é muito raro eu usar ou aceitar qualquer coisa de plástico. O canudinho foi o mais fácil de todos porque eu carrego dois na minha bolsa. Uso e guardo com total praticidade e ainda estou ajudando o meio ambiente”, relata. “Eu concordo com essa lei e acho que já era pra estar em todos os lugares, fora que gera economia, porque as pessoas vão começar a trazer de casa e não vão produzir mais lixo, o que é ótimo para todo mundo.”

A proibição vale igualmente aos clubes noturnos, salões de dança e eventos musicais de qualquer espécie (Foto: Fernando Priamo)

Já a jornalista Raquel Cataldi deixou de usar canudos de maneira geral, utilizando somente copos quando visita algum estabelecimento. Para Raquel, a lei sancionada em Juiz de Fora é positiva pelo propósito de diminuir a produção de lixo, entretanto, o problema deve ser analisado de maneira mais ampla. “Acho questionável a forma como, geralmente, essas soluções ambientais caem nos ombros dos indivíduos e não das grandes corporações. É muito fácil colocar na cabeça das pessoas que, se ela não usar canudo, vai fazer um grande bem para o meio ambiente, quando, na verdade, a gente sabe que o resultado vai ser ínfimo se comparado ao que as indústrias poluem. E aí a gente vai tapar o sol com a peneira, dizendo orgulhosamente que estamos fazendo nossa parte como consumidores, mas, na prática, pouca coisa vai mudar.”

No comércio, estabelecimentos também têm adotado materiais sustentáveis, como no caso da cafeteria Crisálida, que utiliza canudos de papel. “Como a Crisálida é uma cafeteria vegana, e a questão do meio ambiente e redução de lixo são temas tratados também dentro do veganismo, desde que concebemos a cafeteria (janeiro deste ano), já queríamos tentar, através do nosso trabalho, causar o menor impacto possível”, explica a proprietária Renata Barros. Segundo a empresária, a preocupação é que, como ocorreu no Rio de Janeiro, alguns estabelecimentos passem a distribuir copos plásticos, o que também seria uma questão a ser resolvida.

“A proibição do canudo é apenas uma solução provisória. O que deveria haver é uma conscientização geral das pessoas. Uma lei como essa, pelo menos, faz com que as pessoas percebam que até um simples canudo polui e que todo plástico que nós utilizamos não some. Ele continua em algum lugar na natureza causando danos.”

Produção de canudos sustentáveis

Há cerca de três meses no mercado, a Alleco, marca de produtos sustentáveis, sentiu um retorno positivo por parte dos clientes, desde o início de sua atuação. Produzindo canudos de bambu e retráteis (de silicone e aço inox) para vendas online e em pontos em Juiz de Fora, a loja já comercializou em torno de 200 itens. De acordo com Thiago Altomar, proprietário da Alleco, mesmo após as discussões sobre a nova lei no município se intensificarem, a procura de canudos com materiais alternativos por estabelecimentos comerciais se manteve tímida. “Antes da proibição, já havíamos tentado vender os canudos para alguns restaurantes mais tradicionais na cidade, mas devido ao custo um pouco mais alto do que com os canudos de plástico, o interesse foi bem fraco”, conta. “Depois que a lei foi lançada e começou a ser votada, alguns restaurantes vieram falar com a gente, porém, até hoje, só um deles fechou com acordo e vai substituir os canudos de plástico pelos de bambu.”

O prazo para a adequação à proibição dos canudos plásticos será de 120 dias (Foto: Fernando Priamo)

Antes de trabalharem com produtos sustentáveis, as sócias-proprietárias da loja Ecoooar, Laura Carello e Mariana Aquino, realizaram uma pesquisa sobre os impactos de produtos plásticos e como poderiam substituí-los. Nesse levantamento, perceberam que havia procura por alternativas, inclusive, aos canudos plásticos. “A gente viu que tem um mercado para esses produtos, sim, só que, geralmente, a gente vê mais anúncio das grandes lojas, e as grandes lojas realmente estão com um preço bastante acima. Então, a nossa ideia é trazer esses produtos de um valor mais acessível”, diz Laura.

Além dos pontos de vendas em Juiz de Fora, a loja comercializa os produtos online, aproveitando as redes sociais para realizar um trabalho de conscientização ambiental. “Nós postamos algumas informações e dados para o pessoal poder também entender o que está consumindo. Entender que não vai comprar um canudo inox porque está na moda ou porque estão falando sobre isso, mas porque estamos causando um impacto absurdo na natureza”, afirma Laura. “O pessoal que não é muito ligado nessas causas acaba pesquisando pouco, então não tem noção do real impacto. É importante estar divulgando, também, dados não só para mostrar a importância, mas para conscientizar a pessoa para ela saber o que consome.”

Supermercados não entram na nova legislação

O Sindicato de Hotéis, Restaurantes Bares e Similares de Juiz de Fora havia pedido a extensão da providência aos supermercados, pois estes estabelecimentos comercializam achocolatados vendidos com o canudo de plástico acoplado à embalagem. Entretanto, após estudos, comprovou-se a inviabilidade jurídica da recomendação, fato assentido pela categoria, de acordo com o coordenador-executivo do sindicato, Rogério Barros. “Nós vimos que a dificuldade do supermercado é muito maior porque a industrialização não é aqui em Juiz de Fora, mas, de toda forma, a categoria aderiu em razão da sua responsabilidade socioambiental. Em um segundo momento, a indústria terá que se adequar a essa questão. A tendência é que o plástico seja retirado e substituído por produtos biodegradáveis. Começou simbolicamente pelo canudo, mas deve alcançar, em breve, outros produtos também.”

Conforme Barros, o sindicato já está trabalhando na divulgação da obrigatoriedade e demais orientações aos associados. Entretanto, mesmo com os benefícios ambientais, o coordenador-executivo ressalta que o consumidor pode sentir a mudança no bolso, considerando que produtos alternativos possuem um valor maior. “Isso havia sido avisado. Naturalmente, o custo será repassado ao consumidor”.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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