Mais de cem crianças e adolescentes são submetidos ao trabalho infantil

Cento e duas crianças de Juiz de Fora submetidas ao trabalho infantil foram encontradas pela Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) da Prefeitura nas ruas da cidade. O levantamento realizado entre 2016 e 2019 também mostra que a venda de balas e a habilidade de malabares são as atividades mais recorrentes por meninos e meninas nos cruzamentos da região central do município. A situação de mulheres usando os filhos, muitas vezes levando-os ao colo, como forma de sensibilizar as pessoas, é também uma forma frequente para se vender produtos, como panos de pratos, nas calçadas. O levantamento aponta que essas crianças e adolescentes, a maioria do sexo masculino, são de origem de famílias nas quais as mães perderam seus companheiros e vão para as ruas a fim de garantir o sustento. A faixa etária oscila, mas a maior parte dos identificados estão com idade entre 8 e 14 anos, que são aquelas nas quais já conseguem circular sozinhos, ficando mais independentes para a prática de venda.

Venda de balas e malabares são as atividades mais recorrentes nos cruzamentos da região central Foto: Marcos Araújo (Foto: Marcos Araújo)

O diagnóstico, realizado pela Rede de Proteção Juiz de Fora, que busca garantir melhores condições de vidas para essas pessoas, abrange 58 famílias. A notícia boa é que nenhuma delas se encontra em situação de rua, ou seja, depois do trabalho nos semáforos ou nas esquinas, elas têm uma casa para voltar. Desse total de famílias, 34 aceitaram aderir aos programas de assistência social promovidos pela Prefeitura. Assim, como providências, elas tiveram atualizado o Cadastro Único, regularizando a situação junto ao Programa Bolsa Família, já que, por falta de atualização das informações, perderam o benefício. Todas as crianças e adolescentes foram encaminhados para escolas e creches perto de suas residências, e as mulheres foram inseridas em programas de formação, onde podem aprender um ofício e se qualificarem para o mercado de trabalho.

De acordo com a gerente do Departamento de Proteção Especial da SDS, Gisele Zaquini, essas ações têm a função de fortalecer essas mães, garantir os direitos das crianças e dos adolescentes no que tange à saúde e à educação e retirá-los das ruas. “Essas 34 famílias inseridas são aquelas que consideramos de sucesso, porque estão aderindo às propostas sociais e estão retirando suas crianças das ruas. As outras famílias que ainda não aderiram estão em processo de abordagem, para que possamos ganhar a confiança delas e trabalhar as necessidades que apresentarem”, afirma Gisele.

Ciclo não foi rompido

O que chama a atenção nas informações mapeadas pela Rede de Proteção Juiz de Fora é que essas mulheres que enfrentam as ruas junto com seus filhos também passaram pela situação de trabalho infantil quando crianças. Muitas delas contaram que iam para as ruas sozinhas para vender rosas ou CDs. “Temos falas dessas mães, dizendo que sabem o quanto essa situação é ruim, mas, como não estudaram ou são analfabetas encontram dificuldade para entrar no mercado de trabalho. Assim, acabam tendo como única opção fazer a mesma coisa com os filhos, pois é um ciclo que não foi rompido”, ressalta Gisele Zaquini.

A gerente do Departamento de Proteção Especial pontua que, na visão dessas mães, o fato de elas irem para as ruas sozinhas, quando criança, e agora acompanharem os filhos já é uma vantagem, quando elas comparam a vida delas com as de suas crianças. “Essas mulheres entendem essa atitude como um avanço, já que os filhos estão com elas e não sozinhos. Passamos, assim, a fazê-las entender que, apesar da presença delas, estar na rua vendendo bala estava retirando o direito dos filhos estudarem, de ter um cartão de vacinas atualizado, de ter direitos aos bens sociais que elas não tiveram. Foi feito um trabalho para que essas mulheres se conscientizassem realmente do que é o trabalho infantil e dos prejuízos que eles significam.”

Levantamento irá se expandir para Zona Sul

Esse levantamento começou a ser feito em 2016 com o objetivo de detectar o trabalho infantil e a mendicância na cidade. “Naquela época, houve uma percepção maior de um movimento nas ruas de Juiz de Fora de crianças e adolescentes vendendo balas. Estava muito comum observar grupos de crianças fazendo abordagens para vender algum tipo de produto. Assim, surgiu a necessidade de entender e saber qual a origem dessas crianças e se havia adultos atuando por trás delas. Dessa forma, teve início um trabalho voltado para a identificação desses grupos que atuavam na região central, mais, precisamente, no Calçadão da Rua Halfeld. Percebemos que não adiantava apenas identificar essas crianças, mas chegar até elas e também às famílias delas, a fim de promover a retirada desses meninos e meninas da rua”, relata Gizele.

Foi criado um grupo de trabalho, ainda atuante, envolvendo uma rede de atendimento. “O objetivo é identificar e trabalhar esses casos, um a um, levantando as necessidades e fazendo os encaminhamentos necessários. Assim, esse levantamento começou em 2016, focando a região central e, atualmente, começa a mapear essa situação na Zona Sul da cidade, onde já foram identificadas crianças com malabares, na venda de produtos e na mendicância. A meta é criar estratégias de atuação”, assegura a gerente. Ela também lembra a importância das pessoas denunciarem os locais de presença dessas crianças e adolescentes. “Essa denúncia pode ser feita pelo telefone 3690-7770. As pessoas precisam entender que a compra desses produtos não é ajuda. Ajudar é denunciar, para que essas crianças e suas famílias cheguem até a essa rede de serviços e possam ser fortalecidas. É ressaltar que essas crianças vão ficar com suas famílias, não existe a intenção de retirá-las de seus lares, mas identificá-las e ajudá-las”.

O post Mais de cem crianças e adolescentes são submetidos ao trabalho infantil apareceu primeiro em Tribuna de Minas.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

Pesquisar