Mamografia é a principal arma de prevenção ao câncer de mama

O resultado de vinte e poucos dias de investigação foi assustador. A vida, que seguia sua rotina, de repente, em um momento qualquer, em um toque no seio, despertou preocupação. Era setembro de 2017, quando a mama enrijeceu. Ela que, rotineiramente, frequentava o consultório médico de sua ginecologista, estava com uma consulta agendada para dali a cinco dias e, apesar do susto, decidiu aguardar este tempo. Ela que, desde os 28 anos, vinha acompanhando alguns nódulos em decorrência de uma cirurgia de redução de mama, num primeiro momento, não se desesperou. Até que os exames, após o encontro com a médica, foram ficando mais frequentes. Ela é Jeanne Sarchis, tem 45 anos, é psicóloga e foi diagnosticada com câncer de mama em 4 de outubro de 2017.

Diagnosticada com câncer mamário m outubro de 2017, Jeanne Sarchis diz que se transformou numa mulher mais forte depois de vencer a doença (Foto: Felipe Couri)

“Nestes dias eu só chorei. Fazia exame todo dia. Era só esperar o resultado de um para ir fazer outro. Fiz ressonância e dali fui encaminhada para a biópsia. Fiz outras três biópsias, duas da mama esquerda e uma na mama direita. Até então, eu acompanhava nódulos em decorrência da cirurgia. Mas as avaliações apontaram dois carcinomas, ou seja, era tumores malignos. Dali, fui encaminhada para um oncologista e começou toda a minha história”, conta Jeanne. Foi um período de muito sofrimento até chegar o diagnóstico e também o mais difícil. A mulher forte se viu desmoronando diante da possibilidade de um diagnóstico que ninguém gostaria de ouvir. “E se eu tiver com câncer? O que vai acontecer com a minha vida?”, pensava a psicóloga. Os questionamentos perturbavam cada segundo do dia de Jeanne até que, em 4 de setembro, o medo passou a fazer morada na mulher que sempre se cuidou e, rotineiramente, fazia autoexame e mamografia.

Ela, que havia acabado de ver seu filho mais velho se graduar em jornalismo, temia não viver este momento com o filho mais novo, de 17 anos, que ainda cursava o ensino médio à época da descoberta da doença. Florescer a partir de um momento duro não é fácil. Mas muitos pacientes oncológicos optam por começar uma vida nova depois que finalizam o tratamento e recebem “alta”, assim como Jeanne. “Antes do câncer eu era bem medrosa, tinha medo de tudo, medo de agulha, de altura e de avião. Depois da doença, estou bem corajosa. Eu tenho ânsia de viver e quero a vida, porque a vida é hoje e não preciso esperar pelo amanhã”. Esse caminho enfrentado pela psicóloga, desde a prevenção até a “alta médica”, começa a ser trilhado pela Tribuna, neste domingo (6), na segunda reportagem da série “Existe Esperança!”.

Mamografia é a principal arma na prevenção

Somente neste ano, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que serão 60 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. O número corresponde a 28% de todos os diagnósticos da doença registrados no país. Este é o tumor com maior incidência entre as mulheres depois do câncer de pele não melanoma. Um dos principais mecanismos de controle e identificação da doença é a mamografia. Segundo o Inca, todas as mulheres com mais de 40 anos devem fazer a checagem. Hábitos de vida saudáveis também são essenciais para evitar o aparecimento da doença.

No entanto, cerca de 10% dos casos estão associados a fatores genéticos hereditários, ou seja, transmitidos de pais para filhos. Nessas situações, o controle preventivo deve ser iniciado antes mesmo dos 40 anos por conta do maior risco. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia revela que uma em cada 12 mulheres terá um tumor nas mamas até os 90 anos de idade. As chances de cura em caso de diagnóstico precoce, entretanto, chegam a 95%.

Sintomas próprios

A oncologista Tatyene Nehrer de Oliveira chama atenção para a falta de sintomas da doença. “Não pode se confiar em dor em casos de câncer de mama. A maioria dos cânceres de mama não provocam dor. Se pensarmos em diagnóstico precoce, em estágio inicial e altas taxas de cura, temos que pensar em doença que não é palpável, em doença que não é detectável em exame físico e, para isso, a mamografia presta-se muito bem, porque as microcalcificações, que são as lesões precursoras, não são palpáveis, mas são vistas pela mamografia. Então, não pode se guiar pela questão de não estar com dor na mama”, ressalta.

Em geral, os cânceres de mamas são indolores, destaca Tatyene, acrescentando que a doença tem sintomas próprios. “Como uma descarga mamilar, que é uma secreção muitas vezes sanguinolenta que sai pelo mamilo ou uma introversão (quando o mamilo muda de lugar retraindo-se), além de assimetria de uma mama para outra, podendo uma ficar maior que a outra, sinais inflamatórios na pele, vermelhidão, descamação ao redor da aréola, hipertermia na mama e a existência de uma íngua na região da axila, que pode ser algo que desperta a atenção da mulher”, orienta.

Há vários tipos de câncer de mama. Por isso, a patologia pode evoluir de diferentes formas. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem mais lentamente. Esses comportamentos distintos se devem a características próprias de cada tumor. “Não existe uma receita de bolo para o tratamento, ou seja, todo o câncer de mama não é tratado igual. Existem subtipos e perfis moleculares diferentes de câncer de mama, cada um com um prognóstico diferente afetando uma população diferente. Alguns mais relacionados com herança genética, alguns comuns em mulheres mais jovens, outros em mulheres mais idosas e com perfis menos agressivos. Cada paciente tem seu tratamento individualizado. A grande maioria desses tipos da doença tem remédios oferecidos pelo SUS, mas existem medicamentos mais recentes e que têm mostrado respostas significativas”, pontua a médica.

Alguns fatores trazem maior risco

Muitos casos de câncer nas mamas estão relacionados ao sobrepeso e à obesidade, como explica a oncologista Tatyene Nehrer de Oliveira. “Referente a isso, nos remetemos a dois assuntos: a questão nutricional e a questão da importância da atividade física. Temos vários trabalhos sérios publicados, apontando os benefícios da atividade física aeróbica, pelo menos três vezes na semana, e, pelo menos, 40 minutos como sendo algo que diminui a incidência do câncer de mama e de fatores que eliminam o risco de recaída de doença após o término do tratamento. Na parte nutricional, é sabido que os carboidratos, a carne vermelha, a ingestão de produtos multiprocessados são agentes potencialmente cancerígenos”, aponta, lembrando da importância do equilíbrio na hora da escolha daquilo que se come. “Não vamos entender isso de forma radical. Não é que nunca mais a pessoa irá ingerir carboidratos na vida. Tudo deve ser feito dentro da moderação, dentro daquilo que realmente é considerado permitido.”

Mulheres mais velhas, sobretudo a partir dos 50 anos de idade, têm maior risco de desenvolver câncer de mama. O acúmulo de exposições ao longo da vida e as próprias alterações biológicas com o envelhecimento aumentam, de modo geral, esse risco. “Há questões como a gestação tardia, a menarca precoce – primeiro ciclo menstrual-, e a menopausa tardia, que são períodos de tempo que a mulher tem de exposição maior da influência hormonal. Há também a não amamentação, pois, ela aparece como um fator de proteção. Entretanto, existem ainda muitos fatores ainda desconhecidos. Há muitas mulheres que nunca tiveram uma vida desregrada, que são magras, que têm uma dieta saudável, que têm filhos e os amamentaram e, mesmo assim, desenvolveram o câncer. Por isso, não podemos falar de uma gênese unifatorial, mas sim em um gênese multifatorial”, observa.

Número de mulheres que realizam prevenção é o pior dos seis anos

A oncologista Tatyene Nehrer destaca a necessidade de realização de exames complementares conforme o tipo de mama e o histórico da paciente

Criado no início da década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, nos Estados Unidos, outubro é o mês da conscientização para a prevenção do câncer de mama. O movimento internacional chamado de Outubro Rosa é celebrado, anualmente, com o objetivo de compartilhar informações e proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento, além de contribuir para a redução da mortalidade. No Brasil, a data foi instituída pela Lei nº 13.733/2.018.

Apesar da legislação que lembra a data, uma pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Mastologia em parceria com a Sociedade Brasileira de Mastologia mostrou que a proporção de mulheres que fazem o exame pelo SUS vem diminuindo. Em 2017, o percentual era de 24%, enquanto que, em 2018, foi de 22%. O estudo mostra também que o número de mamografias feitas, em 2018, foi o pior dos últimos seis anos, apenas 2.648.227 exames realizados, ou seja, muitas podem não estar se prevenindo contra a doença que fez, em 2017, 16.724 mulheres vítimas fatais e matou 203 homens, conforme dados mais recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). Segundo o estudo, o problema está na falta de mamógrafos e na dificuldade de acesso das mulheres ao exame pelo SUS. A longa espera impede que as vítimas descubram a doença logo no início.

Até fazer o exame, a paciente precisa passar por uma consulta nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o que muitas vezes demora, depois conseguir ser atendida por um especialista e aguardar o exame. Enquanto isso, o tempo passa e pode significar menos chances de cura. Em Juiz de Fora, a oncologista Tatyene Nehrer reforça que a maneira mais segura de identificar o câncer de mama é com a mamografia, capaz de detectar os menores tumores. Levantamento feito pela Tribuna por meio do sistema Datasus revelou que 5.429 mulheres realizaram a mamografia, neste ano, em Juiz de Fora, até o mês de junho. A maior parte delas, foram mulheres entre 50 e 54 anos, com 1.241 análises.

Na cidade, de acordo com a Secretaria de Saúde, a porta de entrada para a rede de atendimento do SUS são as UBSs, sendo estas as responsáveis pelas atividades de prevenção e encaminhamento para atendimento especializado. Em Juiz de Fora, as unidades trabalham durante o ano todo com promoção de saúde aos seus usuários, cujo trabalho de rotina do médico clínico é avaliar a situação de cada paciente e solicitar exames de maior complexidade e encaminhamento para especialistas, caso necessário. Os agendamentos das consultas podem ser feito na Loja 7, no térreo do PAM-Marechal, localizado na Rua Marechal Deodoro 496, no Centro.

Quando começar?

Atualmente há uma controvérsia entre a orientação da Sociedade Brasileira de Mastologia e Organização Mundial de Saúde em relação à data de início para realização da mamografia, considerada a partir dos 40 e 50 anos e uma data limite por volta dos 70. A periodicidade, em geral, é anual dependendo do resultado. “Todavia, em pacientes com altos fatores de risco, com diagnóstico já confirmado de câncer, pacientes, principalmente, com prótese mamária, muitas vezes é necessário fazer uma complementação. Pacientes com mama muito densa devem fazer complementação ultrassográfica mamaria ou ressonância magnética. Mas, o exame basal que detecta as microcalcificações que são lesões que, na maioria das vezes, são precursoras das lesões evasivas mamárias, é a mamografia, que perde um pouco o poder de sensibilidade na mama da mulher mais jovem e é preciso associar outros recursos. A idade de início, neste caso, pode ser abaixo de 40 anos, desde que ela tenha histórico familiar positivo”, orienta a oncologista.

Câncer de mama masculino

Embora seja mais rara a ocorrência, o câncer de mama pode acometer homens, representando apenas 1% do total de casos da doença. A mortalidade entre eles, entretanto, é maior do que entre mulheres. O Ministério da Saúde atribui a isso o baixo nível de conscientização sobre o assunto entre eles. Por ser um tipo de câncer raro, é aconselhável que se realize o teste genético para identificar possíveis genes mutados, sendo maiores os potenciais para que os descendentes desenvolvam a doença.
Além disso, homens que possuem tais genes alterados têm mais risco de desenvolver tumores de próstata em uma idade mais jovem do que a faixa etária que, usualmente, tem o diagnóstico deste tipo de câncer. As opções de tratamento são as mesmas oferecidas às mulheres, como a cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapias hormonais.

 

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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