Moradores revitalizam praça e deixam ruas floridas no Jóquei II

Quando a Tribuna chegou ao Bairro Jóquei Clube II, na Zona Norte, querendo saber quem eram os responsáveis por mudar a imagem da praça principal e dos canteiros ao longo das avenidas, às margens do Rio Paraibuna, logo um comerciante ajudou: “-Vocês têm que falar com a Amanda e com a Sandra”. Não foi difícil encontrá-las. Primeiro, achamos a Amanda, depois de solicitar informações às pessoas na rua. Ela estava em casa e saiu para nos atender. Amanda Guarnieri de Paula Morotta contou que, com a ajuda de sua amiga Sandra Regina dos Reis, teve a ideia que mudou a cara do bairro onde vivem com suas famílias. Há seis meses, elas iniciaram o projeto Ação Comunitária Jóquei Clube II e não pararam mais.

Sempre com a ajuda de mais pessoas, a iniciativa revitalizou a praça, disponibilizou lixeiras para os frequentadores, pintou a quadra e a mesa de ping-pong e vestiu de flores e de muita cor os canteiros centrais que dividem as avenidas Antônio Guimarães Peralva e Garcia Rodrigues Paes. É difícil circular de carro naquele trecho do Acesso Norte e não reparar na beleza do trabalho que elas e outros voluntários desenvolveram.

“Eu e a Sandra saímos para uma caminhada de manhã e achamos que a praça estava muito suja, precisava de limpeza, de cuidado, porque aqui é um bairro bacana, bom de morar. Apesar de alguns pesares, gostamos de morar aqui. Eu virei para a Sandra e disse: ‘-Vamos limpar?’ Então arregaçamos as mangas e começamos. Meu marido, meus filhos e os filhos da Sandra ajudaram. Fizemos um mutirão em família no dia 4 de abril, um sábado de manhã. Alguns moradores se aproximaram e disseram: ‘-Por que vocês não pintam?’ Respondemos que, para pintar, haveria um custo. Então, alguém disse que era para a gente fazer uma vaquinha porque todos iriam ajudar. E todo mundo comprou a ideia”, contou Amanda, explicando como tudo começou.

Os moradores que não puderam ajudar com a mão de obra colaboraram com o custeio, ou vice-versa. “O projeto, hoje, é muito maior que a Sandra e a Amanda, porque todo mundo faz um pouco. Fizemos a limpeza da quadra, plantamos canteiros ao longo da avenida. No lugar onde fizemos um poço de flores com pneus era um matagal, que atrapalhava a visão do outro lado da via. Fizemos a limpeza e transformamos em um jardim”, ressaltou a idealizadora.

Além do trabalho de pintura na praça e de florir os canteiros, os moradores também instalaram cercas de madeira e concretaram alguns trechos, fazendo passeio onde faltava calçada. Todo o material usado no projeto foi fruto de doação. “Toda a tinta que usamos foi doada por moradores e comerciantes. A quadra na praça foi pintada e deu muito trabalho, porque precisou ser lavada antes. Teve um amigo nosso que doou R$ 350, o que, para nós, era muito dinheiro. Também chegamos a vender pipoca e pelinha, na praça, para a gente bater o passeio e comprar o restante da tinta que faltou”, lembrou.

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Amanda (à esq.) e Sandra tiveram a ideia de utilizar materiais recicláveis na decoração dos canteiros, dispostos ao longo das ruas do bairro (Foto: Fernando Priamo)

Ressignificando

Além das doações, o pessoal que integra o projeto se utiliza de material reciclável. “A ornamentação dos canteiros é feita com pneus e até vasos sanitários ou outros materiais que os moradores não precisam mais e trazem para a gente. Muita coisa também é recolhida na linha do trem”, afirmou, acrescentando que a ideia também é dar nova utilidade aos materiais. “Isso melhora a imagem do bairro e deixa tudo mais limpo e alegre. Uma moradora chegou perto de mim e disse: ‘-Amanda, quando chego aqui no bairro, está sendo mais leve, menos preocupante.’ Isso é uma satisfação, porque a gente queria que nosso bairro fosse melhor. Faltava um empurrão para que todos ficassem nessa mesma sintonia. Foi muito mágico, e gostaria que esse projeto fosse exemplo para outros bairros. Eu acho muito bacana esse cuidar, e a gente só queria cuidar.”

Mãos à obra

Depois de conversar com a Amanda, a equipe da Tribuna saiu à procura de Sandra. Não foi surpresa quando ela foi encontrada trabalhando, junto com outras duas mulheres, em uma área mais próxima ao Bairro Barbosa Lage. No local, que será também um novo jardim, elas plantavam mudas de plantas variadas. Com um largo sorriso, mesmo sob o sol de rachar, ela explicou o que estava acontecendo ali. “A ideia se estendeu para outros pontos do bairro. Plantamos árvores frutíferas, jardins, usamos garrafa pet para fazer cata-vento e enfeitar os canteiros, pintamos a ponte sobre o Rio Paraibuna que liga o Jóquei II ao Jóquei III. Tudo com ajuda da comunidade”, contou, entusiasmada.

Sobre as mudas que conseguem para o projeto, Sandra disse que funciona assim: “A gente pede essas mudas nas casas. Fazemos assim e vamos completando nosso jardim. Ganhamos mudas de Amarilis, que um senhor trouxe do Espírito Santo, e o pessoal amou e teve gente que levou para casa. Também passei em uma agropecuária para comprar semente de girassol, e o vendedor me perguntou para que era. Eu disse que era para o projeto, e ele me deu. O pessoal abraçou mesmo essa iniciativa, porque é algo que fazemos gerando só benefícios para a comunidade”.

Objetivo também é envolver comunidade

Capinar, cavar, plantar, pintar, concretar. O trabalho não é fácil, mas funciona porque envolve muitas mãos voluntárias e unidas em um único propósito. “É um trabalho muito puxado. Bater passeio e capinar eu não aguento, e a Sandra é mais corajosa. Então é legal cada um fazer um pouquinho. Eu já falei com a Sandra que a gente precisa delegar, porque não aguentamos fazer isso o ano inteiro. Nossa intenção é envolver a comunidade para que cada um possa fazer um pouco”, argumentou Amanda.

Apesar de puxado, como ela disse, o esforço tem valido a pena. “Aqui, o movimento da praça era muito ‘pesado’ em termos de violência. Hoje, qualquer um pode vir numa sexta-feira à noite, porque nossa praça foi ocupada com famílias. Muita gente fala que eu sou sonhadora e que eu não vou conseguir. O que eu mais quero é que todos tomem consciência de que é preciso colocar o lixo para fora e varrer a sua porta, fazer o pouco que lhe compete. É lógico que a Prefeitura tem que fazer a parte dela, mas a gente precisa colaborar. Eu trabalho de 6h às 18h. Por que não podemos tirar um pouquinho do nosso tempo para colaborar?”, questionou.

Sandra também é só satisfação quando pensa em tudo que já foi realizado e ainda no que está por vir. “Ver o entusiasmo das pessoas é muito bom. Elas chegam perto da gente e perguntam o que estamos precisando. Já não precisamos pedir, porque elas já doam espontaneamente. É muito bom ver um local limpo. Nosso bairro era só lembrado como local de violência. Já teve uma época de muitas mortes de jovens por causa do tráfico de drogas. Então, aquele ‘movimento’ que ocupava a praça foi embora, e agora ela está ocupada pelos moradores e suas famílias, por crianças brincando, pela paz que se instala no bairro. Tudo isso é gratificante, além de ver que projeto está sendo realizado em outros bairros depois que começamos aqui.”

A iniciativa, que nunca para, agora, tem o objetivo de concretar a calçada rente à linha férrea, na Avenida Antônio Weitzel. Os trabalhos já começaram, e já foram construídos mais de 15 metros de passeio em menos de um mês com o esforço dos moradores. O projeto Ação Comunitária Jóquei Clube II pode ser conhecido por meio de seu perfil no Facebook, onde é possível também ver fotos do antes e do depois do trabalho idealizado pelas amigas Amanda e Sandra.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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