Movimento nas ruas cresce e coloca prevenção contra o coronavírus em xeque

Na tarde desta quarta-feira, fluxo de pessoas era intenso na Avenida Getúlio Vargas, no Centro. Leitores relataram movimentação em ruas de diversas regiões da cidade, mesmo com pedido para que todos fiquem em casa (Foto: Fernando Priamo)

Na terceira semana após o início do regime de isolamento social para conter o avanço do coronavírus (Covid-19) em Juiz de Fora, a movimentação nas ruas da cidade tem se mostrado cada vez mais intensa. Mesmo com grande parte do comércio fechada, devido à restrição da realização de atividades privadas por meio de decreto municipal, aglomerações têm sido observadas em bairros e na região central. Além do fluxo de pessoas, relatos de leitores à Tribuna dão conta de que estabelecimentos que não são considerados essenciais pelo dispositivo, como bares e salões de beleza, mantêm o funcionamento com as portas entreabertas. Como alertado por autoridades de saúde, o aumento da movimentação nas ruas pode prejudicar as medidas de prevenção contra o coronavírus.

É possível que o aumento no número de pessoas nas ruas nesta semana esteja relacionado ao recebimento de pagamentos e à consequente quitação das contas de início de mês. Entretanto, mesmo com o fator econômico, há também uma consequência social que pode levar a população a deixar o confinamento, de acordo com o infectologista Marcos Moura. “As pessoas precisam ver gente, precisam conviver. De forma geral, todo mundo está acostumado a passar apenas o final de semana em casa. Quando se aproxima de três semanas, já começa a ter o problema do confinamento, e as pessoas começam a inventar necessidades que talvez não seriam importantes naquele momento. Começam a fazer rotinas, ir até quatro vezes na rua, a receber visitas”, exemplifica.

“Os próprios psiquiatras e psicólogos falam muito disso, que as pessoas percebem que não conseguem ficar confinadas. É muito difícil a pessoa saudável entender isso. As pessoas têm que perceber, através das notícias, a gravidade da doença em outros lugares.”

Ainda conforme o especialista, há uma dificuldade por parte da população em ver os resultados do isolamento social. Isto porque, tal como uma vacina, o regime trata-se de uma medida preventiva para que não haja uma doença, neste caso, o coronavírus. “Passam duas semanas e as pessoas acreditam que não está acontecendo nada, uma vez que estão funcionando as medidas preventivas. As pessoas começam a ter a flexibilidade, a relaxar nessa medida preventiva, que no caso é o isolamento social. Por isso, não adianta parar agora porque, com certeza, se essas medidas não forem tomadas adequadamente, apesar de ter tido um freio inicial dos casos, eles vão voltar a subir e com maior intensidade, porque vai ser em um período que o vírus está circulando de forma mais intensa também.”

(Foto: Fernando Priamo)

Caso não haja outra solução e a pessoa precise, de fato, ir às ruas, o infectologista reforça sobre a utilização de máscaras, de preferência, as artesanais, visto que as hospitalares podem ficar escassas para profissionais da saúde. “Hoje em dia, uma vez que o vírus já está circulando, e isso vai ser progressivo, a recomendação é que as pessoas usem as máscaras em lugares com movimento de pessoas ou com maior adensamento, como mercados e bancos ou até mesmo dependendo da caminhada que a pessoa for fazer. Seria interessante todos usarem as máscaras.”

Pico de contaminação

Em coletiva de imprensa no início de abril, o prefeito Antônio Almas (PSDB) estimou um pico de contaminação pela Covid-19 entre a segunda quinzena de abril e a primeira de maio. Como as medidas preventivas no Brasil se iniciaram precocemente em comparação com outros países, é esperado que não haja um pico, mas sim um abrandamento dos casos, segundo o infectologista Marcos Moura. Desta forma, com medidas como o isolamento social, “desde que elas sejam tomadas adequadamente, o pico não vai existir.” Na prática, com o confinamento, há um maior período de tempo com menos casos da doença.

Leitores denunciam abertura de lojas

Diversos leitores da Tribuna relataram que muitos estabelecimentos não essenciais ainda estão funcionando. Em alguns casos, as lojas deixam as portas entreabertas. Nos bairros São Mateus e Alto dos Passos, na Zona Sul da cidade, as denúncias são sobre galerias e estabelecimentos como papelarias. Na região central, relatos dão conta de lojas de eletrônicos e de materiais fotográficos que continuam com suas atividades. Na Zona Norte, em bairros como Benfica e Nova Era, leitores relataram que as pessoas circulam tranquilamente pelas ruas. Nesta terça, grandes filas se formaram em frente a agências bancárias.

Em 19 de março, um decreto municipal estabeleceu medidas restritivas para tentar reduzir a circulação do vírus na cidade por meio da aglomeração de pessoas, proibindo o funcionamento de alguns setores do comércio. Além de shoppings e centros comerciais, a medida veda o funcionamento de galerias, lojas, salões de beleza, barbearias e clínicas de estética. A medida prevê algumas exceções no comércio em geral, podendo funcionar estabelecimentos tidos como essenciais, como, por exemplo, drogarias, supermercados, clínicas de saúde, açougues e padarias.

Pontos de ônibus voltaram a concentrar bom número de passageiros (Foto: Fernando Priamo)

De acordo com a gerente do Departamento de Fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente e Ordenamento Urbano (Semaur), Graciela Vergara Marques, o supervisionamento dos estabelecimentos, bem como do comércio ambulante, tem ocorrido de maneira ostensiva na região central de Juiz de Fora. Já nos bairros, a fiscalização tem adotado rondas para atender solicitações realizadas pelos telefones 3690-7507 e 153 (Guarda Municipal). Por estes números, a Semaur já recebeu 686 reclamações.

Além disso, desde o dia 20 de março, a pasta tem realizado rondas noturnas e já abordou 190 estabelecimentos – bares, em sua maioria – que insistem em funcionar em detrimento ao decreto municipal. As rondas noturnas são realizadas em parceria com a Polícia Militar. Ainda conforme a gerente do departamento de fiscalização, a atuação contra o comércio ambulante irregular já resultou na apreensão de cerca de 400 máscaras e 30 litros de álcool em gel, em frascos de diferentes tamanhos.

Materiais de construção

Entre os relatos de leitores, está a dúvida sobre o funcionamento de lojas de materiais de construção. De acordo com Graciela, o decreto do governo de Minas Gerais sobre situação de calamidade pública no estado dispôs sobre atividades e serviços essenciais, incluindo a cadeia de abastecimento e logística da construção civil. “Nesse entendimento, as lojas de material de construção podem funcionar, desde que atendendo os requisitos de prevenção e normas sanitárias para evitar a contaminação pelo coronavírus.”

Número de pedestres circulando pelo Calçadão também tem aumentado nos últimos dias (Foto: Fernando Priamo)

PJF reforça campanha e faz alerta com carros de som

No início da segunda quinzena de março, a Prefeitura de Juiz de Fora iniciou uma série de ações dentro da campanha Fique em Casa. Uma delas foi em parceria com o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar, em que as viaturas disponíveis nos turnos e até caminhões de combate a incêndio percorreram as ruas centrais e dos bairros da cidade recomendando o recolhimento.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a gestão municipal informou que o grande fluxo nas ruas segue uma tendência nacional, onde as pessoas estão deixando de respeitar o regime de isolamento social. Para reforçar o pedido para confinamento, a PJF intensificou, a partir desta quarta-feira (8), a campanha Fique em Casa em seus canais de comunicação. Além disso, a administração conta com cinco carros da Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra) circulando com som pelas ruas da cidade e em feiras.

Nesta terça-feira (7), Juiz de Fora ultrapassou mil casos suspeitos de contaminação por Covid-19. Por conta disso, o prefeito Antônio Almas publicou um vídeo em suas redes sociais alertando para uma maior responsabilidade com a questão. “Precisamos entender que o movimento de ir às ruas pode amplificar em muito esses números. É importante que fiquemos em casa. O que plantarmos agora, iremos colher daqui a 14 dias. Poderemos estar plantando um estado de grande dificuldade se voltarmos para as ruas”, disse o chefe do Executivo.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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