Oitavo dia: Itatiaia – Queluz (SP)

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Nesta quarta, romeiros descansaram em uma pousada em Queluz, reservada só para os peregrinos, de onde seguem para Cachoeira Paulista

Este dia 24 de julho (quarta-feira), ficará marcado para mim como o dia em que eu mais senti frio na minha vida. O alojamento em Itatiaia estava quente e, à noite, cheguei a dispensar uma das cobertas. Pronto, achei que estava calor e fui para a Via Dutra às 4h da madrugada vestindo apenas uma calça comprida, blusa curta e um casaco corta vento. “Atitude juvenil”, costuma dizer um conhecido meu. Pois fui mesmo juvenil. O vento da madrugada não é para amadores.

A rigidez do asfalto e a brutalidade do trânsito pesado na escuridão da noite congelavam ainda mais meu corpo. Tive medo, muito medo. O carro de apoio já havia seguido adiante. Não havia como voltar, era preciso seguir.

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Olhei para trás e vi Almir Alvim, o último homem da peregrinação, responsável por auxiliar quem fica para trás. “Vamos andar no sentido contrário, ficar de frente para os veículos e ter a máxima atenção”, me orienta o policial militar reformado, um dos três guardiões da Caminhada, ao lado de José Reis e Fernando de Oliveira. “É preciso ter fé”, me diz.

Fé que impulsiona os passos da passadeira Marta Isabel Alves, 54 anos. Ela, que ao lado das amigas, caminha rezando o terço, me conta que na Dutra, onde temos que andar em fila indiana, a oração é feita individualmente. “Eu tenho muito a agradecer a Nossa Senhora. Ano passado, veio uma irmã minha comigo. Esse ano, ela teve um aneurisma, teve que fazer uma cirurgia. Tô aqui para agradecer uma graça alcançada por Nossa Senhora por ter corrido tudo bem.” Ela me sorri e me enche de coragem.

Sigo em frente tentando controlar a tremedeira. Agora, mais por causa do frio. Cruzo com a fisioterapeuta Regina Neves. “Está tranquilo para você?”, pergunto. “Já teve mais pesado. Hoje eu achei que não fosse conseguir. Aparecerem novas bolhas (nos pés), mas com fé a gente vai conseguir chegar.” “Não está com medo, xará?”, pergunto. “Medo a gente deve ter em qualquer. É só ter cuidado”, diz Regina, bastante segura.
Recorro ao meu potinho imaginário, onde deposito minha fé, e peço a Deus que proteja todos aqueles homens e mulheres que se tornaram uma família para mim nestes dias de peregrinação. Rogo que consigam vencer as dores e o cansaço e cheguem andando ao Santuário de Aparecida.
As carretas cortam o vento sem piedade, e o barulho ensurdecedor me faz, pela primeira vez nestes oito dias, pedir proteção também para mim. Penso na minha mãe Eny e no que ela me pediu ao se despedir de mim na véspera de minha viagem. “Vá com Deus e volte com ele. Não deixe que nada de ruim te aconteça.”
Acho que neste momento os anjos sopraram nos ouvidos da colega Silvana Motta, comerciante. “É a minha segunda caminhada. Tô aqui na turminha do apoio pedindo proteção para todos os peregrinos. É uma missão. Ano passado fui presenteada por uma amiga que me trouxe, e esse ano quero retribuir.”
E eu, por que estou aqui?, pensei. Porque escolhi, porque quero vivenciar isso, porque quero sentir o que essas pessoas sentem.

A partir dali eu “cresci”. O dia foi amanhecendo e a cerração baixa anunciava que o sol logo aqueceria nosso corpo gelado.

Numa das paradas encontro Seu Odair Henrique Duarte, 69 anos. Tira do bolso uma caixinha e me entrega. Dentro, um chaveiro com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. “É para você, para selar nossa amizade.” Seu Henrique, nossa amizade já está selada desde que cruzei com o senhor numa dessas estradas do Caminho da Fé.

Fortalecida com tantos exemplos de pessoas fortes, segui adiante com a certeza de que o medo jamais paralisa quem tem fé. E “andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar”.

P.s: A hospedagem desta quarta-feira compensou toda a adrenalina da Dutra. Uma pousada grande reservada só para os peregrinos. Nesta quinta-feira seguiremos para Cachoeira Paulista para a última noite antes da chegada a Aparecida.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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