Onça-pintada capturada em JF está caçando e já pode ter cruzado

Era fim da noite do dia 12 de maio de 2019 quando terminou um acontecimento que mobilizou Juiz de Fora: depois de 18 dias “passeando” pela cidade, era capturada no Jardim Botânico da UFJF a onça-pintada. Nesta segunda-feira (11), um ano depois, o felino que virou símbolo de Juiz de Fora deu indícios de que está vivo, após pesquisadores encontrarem o colar que ele usava para ser monitorado. O objeto estava junto a restos de um tamanduá-mirim, muito provavelmente caçado pelo felino. O equipamento estava na área floresta para onde a onça foi leva cuja localização é mantida sob sigilo.

Em fevereiro deste ano, a equipe que realiza o monitoramento da onça informou que estava sem receber informações ou sinais do colar, porém, relatos de falhas na transmissão são usuais, uma vez que há barreiras naturais, exposição ao sol e interação com água e entre os próprios felinos. O professor da UFJF Artur Andriolo comemorou a localização do objeto nesta semana. “Estamos felizes por saber que há indicativos suficientemente fortes de que o animal está vivo e que esta história tem um desfecho de sucesso”, disse.

Segundo a UFJF, o colar colocado na onça é equipado com GPS, com transmissão via satélite, estava programado para ser aberto automaticamente em cerca de um ano, que é o tempo estimado da bateria do dispositivo chamado drop-off. “Quando sua carga é esvaziada, esse aparato faz com o que o colar se abra. O drop off se alimenta de bateria independente da que abastecia o sistema de GPS, também presente no colar, que havia parado de emitir sinais de localização”, explicou o professor Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), participante da captura da onça-pintada e coordenador de projetos sobre felinos.

Colar que seria da onça-pintada capturada em Juiz de Fora (Foto: Divulgação/UFJF)

Indícios de que o colar é da onça encontrada em JF

A UFJF informou que há indícios que relacionam as fotos, registradas no dia 11 de maio, à onça-pintada de Juiz de Fora. Somente ela usava um colar com o compartimento branco para GPS – as outras três onças do local possuíam coleira na cor preta; e a carcaça do tamanduá foi encontrada a cerca de sete quilômetros de onde a onça foi introduzida, em 2019, apontando para um território de uso do animal. “Pelos vestígios e manchas de sangue fresco da caça, foi possível estimar também que ela esteve no local se alimentando havia cerca de 12 horas”, afirmou o professor Fernando Azevedo.

Conforme o professor, esses são sinais fortes de que ela está bem, caçando e estabeleceu território na área onde foi solta. “Muito provavelmente pode ter cruzado com alguma fêmea – há duas no local -, considerando o tempo em que está no território. Só há outro macho na área e aparentemente cada um estabeleceu seu espaço”, comemora Azevedo. O local ainda está sendo monitorado por câmeras instaladas pela equipe do pesquisador em março de 2020. Os registros ainda serão verificados. Ainda de acordo com o professor, esse é o primeiro caso de sucesso de translocação de uma onça-pintada em região de Mata Atlântica. “Há muitos anos uma onça desse bioma foi levada para o Pantanal. Mas entre áreas de Mata Atlântica é o primeiro registro documentado de que tenho notícia.”

Estratégias eficientes

Para o professor Artur Andriolo, o desfecho do caso valida as discussões e medidas estratégicas, tomadas com embasamento técnico e apoio de profissionais de sete instituições públicas, enquanto o felino circulava, sob risco, em áreas urbanas de Juiz de Fora e na Mata do Krambeck, onde fica o Jardim Botânico. Ainda segundo o professor, esses sinais de vida da onça-pintada corroboram as decisões de preservar a vida do animal, capturá-lo e levá-lo para área natural mais ampla, em vez de cativeiro ou outro ambiente. “Essa resolução reforça também a esperança de conservação da espécie”, ressalta.

Para a pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, também atuante no período de captura do felino, “nesse tempo atual de tantas notícias tristes, sabermos que a onça está bem nos deixa muito felizes”, disse.

O sentimento é compartilhado também pelo diretor do Jardim Botânico, Gustavo Soldati, para quem o processo simboliza um aporte conjunto de conhecimento técnico da universidade e de instituições públicas parceiras. “Em tempos de acirramento da crise ambiental, o caso da onça-pintada foi oportuno para trazer à tona, com mais intensidade, diversas temáticas, como a conservação das florestas para abrigo da fauna, trabalhadas em atividades de educação ambiental no Jardim.”

Histórico

A onça-pintada foi vista pela primeira vez em Juiz de Fora no dia 25 de abril de 2019, no recém-inaugurado Jardim Botânico, por um vigia da unidade. O felino foi flagrado em diferentes pontos da cidade, como em um hotel localizado ao lado da Mata do Krambeck, em uma ponte às margens da mata e, supostamente, em um galinheiro na Zona Norte. No dia 12 de maio, a onça foi capturada por meio de uma armadilha de caixa, posicionada em uma trilha próxima a um lago do Jardim Botânico. No dia seguinte à captura, o animal foi levado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) para uma área florestal ampla, distante de área urbana.

Além da UFJF e da UFSJ, atuaram também nos processos o Instituto Estadual de Florestas, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio), o Campo de Instruções do Exército Brasileiro em Juiz de Fora, o Corpo de Bombeiros, o Ibama, a Polícia Militar, incluindo a de Meio Ambiente, e a Prefeitura de Juiz de Fora.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

Pesquisar