Paciente com nódulo no pescoço não consegue tratamento em JF

Enquanto os olhos da Saúde estão voltados para o novo coronavírus (Covid-19), pacientes que sofrem de outras doenças encontram dificuldades para conseguir tratamento. Aos 49 anos, o lavrador Geraldo Gonçalves começou 2020 sentindo um pequeno caroço no pescoço. Com o passar dos dias, o nódulo foi aumentando, e as dores começaram. O morador do Nossa Senhora das Graças, na Zona Nordeste, buscou ajuda na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro no dia 20 de fevereiro. Do posto, ele foi encaminhado para um ultrassom cervical na Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra (Acispes), que apontou a presença da imagem nodular heterogênea mista, com calcificações, medindo 3,6 x 3cm, acima do lobo esquerdo da tireoide. Ainda sem diagnóstico preciso e em meio à pandemia, Geraldo contou com a ajuda de familiares e da amiga Silvia Martins, presidente do Grupo de Apoio e Tratamento da Dor (GATD), para percorrer unidades de saúde e hospitais, inclusive especializados em oncologia. No entanto, segundo Silvia, ou o médico estava de quarentena ou só aceitavam o paciente se tivesse biópsia.

A corrida contra o tempo também contou com paradas no PAM-Marechal, para marcação de consulta, e Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do São Pedro. O sofrimento foi ainda maior na última segunda-feira (6), quando o lavrador saiu do Hospital de Pronto Socorro (HPS) sem o atendimento ou a internação que desejava, depois de passar por consulta no Hospital Universitário (HU). “Ele está perdendo peso, porque não consegue comer direito e nem dormir. Por isso a irmã dele o levou desesperada na UPA, mas não deram nem sequer uma medicação. O médico do HU pediu exames e sugeriu que fôssemos ao HPS por causa da dor e da dificuldade para alimentar, mas recusaram o paciente e também não conseguimos remédio para a dor”, lamentou Silvia. No mesmo dia, Geraldo registrou um boletim de ocorrência por omissão de socorro. Segundo o documento, após ser atendido no HU e ter sido solicitado um exame de videolaringoscopia, as acompanhantes foram orientadas a levá-lo ao HPS, onde foi informado “que nada poderia ser feito e que não há oncologista”, não sendo procedido o atendimento do paciente, que afirmou continuar sentindo dores, mas não obteve qualquer medicação.

Inconformada com o que ela classificou como “descaso”, Silvia chegou a publicar a peregrinação em busca de atendimento nas redes sociais. “O paciente não come, não dorme, está muito magro e não pode mais esperar. No HPS estavam atendendo tudo, como pessoa que torceu o pé, menos a gente. Ele passou pela triagem e tiraram sua temperatura, mas a médica e a enfermeira disseram que não poderiam fazer nada, porque ele era paciente oncológico. Se corremos na UPA e no HPS, é porque precisamos do sistema. Mas parece que o coronavírus paralisou tudo.”

Além do paciente e das acompanhantes terem sido expostas nas ruas durante a recomendação de isolamento social, a presidente do GATD disse que, na segunda-feira, a caminhada foi longa. “Tivemos que economizar também, e por isso andamos muito. Teve uma hora que eu e a irmã dele nos abraçamos na Rio Branco e tivemos uma crise de choro. Ficamos muito tristes com o descaso da nossa Saúde.” De acordo com ela, a peregrinação continua, e uma nova consulta com especialista foi agendada para a próxima semana.

Resposta da Saúde

Em nota, a Secretaria de Saúde informou, na noite desta terça-feira (7), que o paciente Geraldo Gonçalves, 49 anos, foi encaminhado para atendimento na rede complementar, para receber assistência necessária para o seu caso. “A consulta foi realizada na última segunda-feira (6). Na mesma data, o paciente buscou atendimento no Hospital Dr. Geraldo Mozart Teixeira, conhecido como HPS, para avaliar possibilidade de internação para realização de exames. Entretanto, o hospital não realiza o procedimento em questão.”

Sobre o agendamento de exames, a pasta ressaltou que devido às medidas de enfrentamento à Covid-19, alguns serviços foram suspensos. “É o caso das marcações de cunho eletivo, quando não há indicação clínica de urgência. Todas as alterações de atendimento foram amplamente divulgadas na mídia.”

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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