Pais têm desafio de criar hábitos saudáveis na alimentação

Sandra Cristina Cardoso passou a se preocupar em melhorar a alimentação da filha, 12 anos, quando percebeu que a menina estava ganhando peso e se interessando por vários alimentos não saudáveis, como biscoitos recheados e hambúrgueres. Por trabalhar como diarista, Sandra a cada dia está em diferentes horários em casa, o que dificulta o controle da alimentação no ambiente familiar, sobretudo em relação aos lanches que são feitos durante os intervalos das principais refeições. Ela afirma que, na hora das compras, tem dado preferência às frutas e verduras, e os biscoitos já não têm mais recheio: ela opta por tipo mais simples e com menos gorduras.

Frutas são bons exemplos de alimentos para a merenda, podendo se transformar em sucos, vitaminas e saladas (Foto: Bárbara Landim)

Necessidade de buscar hábitos saudáveis na alimentação ganhou destaque esta semana, após um decreto estadual entrar em vigor, na segunda-feira (24), e ser suspenso no dia seguinte. A legislação criava uma série de regras para o comércio das chamadas guloseimas dentro e no entorno do ambiente escolar, inclusive impedindo a ação de ambulantes na área. Com a repercussão imediata da medida, assinada pelo então governador Fernando Pimentel (PT), em dezembro, o atual chefe do executivo de Minas, Romeu Zema (Nova) revogou a nova regra para que sejam feitos “estudos para subsidiar decisões futuras acerca do tema”.

O fato é que com ou sem uma legislação em vigor sobre incentivos à alimentação saudável para crianças e adolescentes, montar lanches e merenda escolar é uma dificuldade comum a um grande número de pais, de acordo com a nutricionista Thuila Ferreira Meirelles, especialista em comportamento alimentar. Em uma oficina sobre alimentação dada em uma escola de Juiz de Fora, ela verificou que muitas crianças comiam pacotes de industrializados de maneira compulsória. “Muitas vezes eles não têm opção dentro da escola e também não têm o incentivo vindo de casa”, disse. A rotina corrida, de muitos pais, muitas vezes é fator para que eles optem por alimentos prontos e práticos, o que não é a melhor opção.

Mãe de duas meninas, de 15 e dois anos, Gessiana Delgado é outro exemplo. Ela também conta que, na correria do dia a dia, ir ao supermercado e comprar alimentos selecionados para montar merendas diferentes a cada dia foi ficando inviável para a família, além de mais caro. Até que comprar os lanches prontos para serem entregues na escola, no intervalo das aulas, se colocou como uma opção viável e que agradou as filhas. Após a mudança, ela tem notado melhora na saúde das meninas.

“A mais velha, como demorou a mudar seu hábito alimentar, até porque eu não tinha tanta informação na época, comia mal. Hoje em dia, raramente fica doente”, relatou, mas afirmando que sente falta de uma adaptação no ambiente escolar. “Acredito que ainda falta educação e uma venda de alimentos saudáveis dentro das escolas.”

Comportamento alimentar infantil deve ser trabalho em conjunto

Autoridades em saúde e especialistas na área comungam da opinião que o trabalho para a mudança comportamental alimentar infantil deve ser conjunto, incentivado pelos responsáveis pela criança e também no ambiente escolar. Especialista em comportamento alimentar, a nutricionista Thuila Ferreira Meirelles chama atenção, no entanto, para o fato de que a nutrição ainda é pouco usufruída nas escolas.

“Os nutricionistas nas escolas não são bem aproveitados, na maioria das vezes. Eles apenas montam o cardápio. E a nutrição é muito mais que isso. A nutrição tem que olhar o todo e não só o que comer. Se os profissionais das escolas fizessem esse processo de educação alimentar de forma gentil, teríamos crianças com menos problemas relacionados à saúde”. Ela sinaliza, portanto, que seria ideal um trabalho de educação alimentar completo nas unidades de ensino.

Nutricionista Thuila Ferreira idealizou o “Corujinha na Cozinha”, que se dedica à formação alimentar das crianças e suas famílias (Foto: Fernando Priamo)

‘Corujinha na Cozinha’

Em Juiz de Fora, opina ela, as escolas ainda não têm abertura ou tratam de maneira superficial o tema. À frente do projeto Corujinha na Cozinha – que se dedica à formação alimentar de crianças e suas famílias -, ela relata ter encontrado dificuldades em levar a iniciativa para dentro das escolas da cidade.

Para a nutricionista, o ideal seria que estes espaços fossem mais sensíveis à questão alimentar e preocupassem com a alimentação dos alunos. “Comer é uma atividade muito complexa, e a gente, infelizmente, tenta racionalizar esse processo. Pensamos: temos que comer isso, isso e isso, mas não pensamos a forma ou como aquilo está inserido no nosso ambiente ou como é a relação com aquele alimento. Por esta razão, muitos pais tentam forçar os filhos a comerem determinado tipo de alimento só porque ‘é saudável’, mas não incentivam a criança a entender e sentir prazer com a alimentação”.

Recusa alimentar

Causas orgânicas como, por exemplo, dor de garganta, explica a nutricionista, podem gerar um trauma na criança e, a partir disso, uma recusa alimentar. Além disso, o ambiente no qual ela está inserida afeta diretamente seu paladar em formação. A produção de alimentos em escala industrial e a publicidade diante destes produtos também são citadas pela especialista como razões pela quais a criança opta por alimentos considerados não saudáveis. Na sua avaliação, a mídia influencia neste aspecto no momento em que são apresentadas propagandas de alimentos industrializados, mas nunca de frutas ou outra comida natural. “Se existissem propagandas de frutas, verduras e legumes, será que eles não seriam mais consumidos?”, questionou.

Atrativos para a merenda escolar

A dificuldade e resistência dos filhos em se alimentarem de uma maneira saudável foi a motivação para que o casal Ruteval de Paula e Kezia Lauro começasse a testar, em casa, receitas nutritivas e que, ao mesmo tempo, fossem saudáveis. Nasceu assim a ideia de transformar a atividade caseira em um negócio que fosse satisfatório e que contribuísse com a alimentação de outras pessoas.

Com isso, os dois abriram o Merenda&Cia., um estabelecimento cuja proposta é oferecer lanches para merendas escolares de forma saudável, nutritiva e saborosa ao paladar da criança. “Trabalhamos um cardápio com mais de cem combinações saudáveis e que não se repetem. Com isso, a criança não enjoa e tem uma variedade maior de nutrientes em seus lanches. Dessa forma, a gente pretende contribuir para a mudança de hábitos na infância”, contou à Tribuna.

Segundo relatos de pais, a iniciativa tem contribuído para que as crianças mudem o comportamento também dentro de casa. “A gente já percebeu que muitos pais que fizeram a opção de comprar lanche saudável já tiveram resultados positivos em casa. Por isso, a mudança tem que ser conjunta, também em família. Os pais estão percebendo que para mudar o hábito do filho, também tem que mudar a rotina e os hábitos alimentares dentro de casa, porque a criança passa a questionar sobre os alimentos”, considera.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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