Pesquisa projeta esgotamento de leitos públicos de UTI de JF até maio

Caso o isolamento social não seja aumentado na cidade, Juiz de Fora pode ter ocupação total dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS) em duas semanas. A projeção é de uma equipe de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora (PGMC/UFJF), em estudo publicado no domingo (20) pela instituição. Segundo a pesquisa, com a quantidade atual de leitos, para não saturar o sistema público de saúde no município até maio, é necessário aumentar em 50% a reclusão domiciliar.

O trabalho projetou a evolução dos casos do novo coronavírus (Covid-19) em três diferentes cenários para os próximos 20 dias: otimista, com aumento de 50% na taxa de isolamento social; pessimista, com relaxamento da reclusão domiciliar; e um terceiro contexto com base no cenário atual, com os parâmetros já existentes de combate à epidemia em Juiz de Fora.
“Nós fizemos previsões curtas e caracterizamos o que está acontecendo em parâmetros importantes para país, estado e cidade”, explica o professor Rodrigo Weber, do Departamento de Ciência da Computação da UFJF, destacando dois dos pontos importantes levantados pelo estudo: a ocupação dos leitos de UTI e o respeito às medidas de isolamento domiciliar. Além de Weber, os pesquisadores do PGMC que trabalharam em conjunto para a elaboração da nota técnica foram Ruy Reis, Bárbara Quintela, Joventino Campos, Johnny Gomes, Bernardo Rocha e Marcelo Lobosco.

Ocupação dos leitos
Com base em observações sobre a progressão da doença em território nacional, foi estimada a taxa de aumento de casos, bem como as hospitalizações decorrentes da proliferação da Covid-19, no município. Traçando a projeção de internações com a quantidade de leitos de UTI do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade – 37, segundo informação da Secretaria Municipal de Saúde -, os pesquisadores constataram que, mantidas as condições atuais do combate à epidemia, até a última semana de abril a taxa de ocupação dos leitos hospitalares chegará a 100%.

A situação muda pouco no contexto pessimista projetado, no qual, com relaxamento de medidas de restrição de circulação, o sistema de saúde pública juiz-forano teria a ocupação total já no dia 26 de abril. No cenário otimista, com a diminuição da circulação da população, entretanto, não é prevista a saturação das unidades hospitalares durante, ao menos, as duas próximas semanas.

A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) já sinalizou com medidas de ampliação da quantidade de leitos para atendimento à Covid-19, o que pode garantir um respiro maior durante as próximas semanas. “É uma boa notícia de que a Secretaria de Saúde está tentando aumentar os leitos, e afirmaram vão seguir aumentando com a progressão da doença. Porque, pelo que as previsões apontam, os 37 leitos atuais para a Covid-19 não serão suficientes”, alerta Weber.

Cerca de 800 mortes podem ser evitadas

O estudo também estimou a quantidade de casos confirmados de Covid-19 e mortes em decorrência da doença até o próximo dia 1º de maio, em âmbitos local, estadual e nacional, com base nos três possíveis cenários da progressão do novo coronavírus. Considerando a manutenção do contexto atual, são esperados cerca de 62 mil confirmações no Brasil, sendo 3 mil em Minas Gerais e 294 em Juiz de Fora. Quanto a óbitos, a projeção apontou para aproximadamente 5 mil em território nacional, 101 em Minas e 16 em Juiz de Fora até o primeiro dia de maio.

No cenário pessimista, os casos confirmados de coronavírus no Brasil saltam para mais de 75 mil, com quase 4 mil em Minas Gerais e 400 em Juiz de Fora. Quanto a óbitos, a projeção estima 5.300 vítimas fatais em âmbito nacional, 113 no estado e 18 em território juiz-forano. Por fim, no cenário otimista, a previsão aponta para cerca de 51 mil pacientes confirmados em todo o país, sendo mais de 2 mil em Minas Gerais e 222 em Juiz de Fora. A estimativa de mortes no contexto otimista é de aproximadamente 4.500 no Brasil, 92 em Minas e 14 no município juiz-forano.

Considerando a discrepância entre os cenários pessimistas e otimistas, em âmbito nacional, 800 mortes podem ser evitadas ao longo das duas próximas semanas, segundo o estudo. Em Juiz de Fora, seis vidas podem ser poupadas, conforme a comparação entre as duas projeções. “Fizemos cenários otimistas e pessimistas para que seja ressaltada essa questão de ficar em casa. O isolamento domiciliar dá um impacto muito grande em quantas pessoas vão evoluir a óbito e quantas serão infectadas”, destaca o professor Rodrigo Weber.

Apenas 7,4% dos casos são notificados

Conforme o trabalho desenvolvido pelos pesquisadores da UFJF, apenas 7,4% dos casos de coronavírus são computados nas estatísticas do Ministério da Saúde em âmbito nacional. Ou seja, o estudo estima que há 13 vezes mais casos de Covid-19 no Brasil do que os reportados pelos órgãos oficiais. Tendo em vista dados mineiros e juiz-foranos, a situação pouco muda: em Minas, a estimativa é de que apenas 9,1% das infecções sejam devidamente notificadas; em Juiz de Fora, a taxa estimada de notificação fica em 8,1%.

A pesquisa também apontou para um maior engajamento da população quanto ao isolamento domiciliar. No estudo anterior, divulgado no último dia 30 de março, era estimado que 40% da população brasileira estava em reclusão. Na pesquisa publicada neste domingo, a estimativa subiu para 60% das pessoas cumprindo distanciamento social voluntário. Entretanto, segundo os pesquisadores, os dados têm ao menos duas semanas de atraso, não refletindo exatamente o cenário atual.

Dificuldade na obtenção de dados

A falta de determinados dados limita a compreensão do cenário de progressão da Covid-19 no país, conforme Weber. Segundo o pesquisador, o baixo número de testes é um dos fatores que influenciam negativamente nos estudos, uma vez que o alto volume de pacientes não testados atrasa em muitas semanas as notificações de pacientes confirmados. “Essa é a nossa realidade, e eu acho que não vai mudar no curto prazo. Por enquanto, a gente tem que modificar nosso modelo para essa realidade. Mas, de fato, gera incerteza nos estudos”, admite o professor.

Informações como o número exato de infectados atualmente e o quantitativo de pacientes já curados da Covid-19 também não são disponibilizadas. A possibilidade de conferir a extensão do cumprimento do isolamento domiciliar a partir da localização via GPS é outro fator importante para que fossem obtidas informações atualizadas sobre o comportamento populacional. Mesmo com as limitações, acredita Rodrigo Weber, a reclusão domiciliar segue sendo fundamental para conter a pandemia. “O recado tem que ser para que as pessoas fiquem em casa. A pandemia já quebrou o sistema de saúde de vários países, isso não é novidade. E a projeção é que o cenário seja semelhante no Brasil.”

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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