Polícia Militar desarticula organização criminosa de estelionatários

A Polícia Militar desarticulou uma organização criminosa que contava com um sofisticado esquema de falsificação de documentos para aplicar golpes de várias naturezas. Doze pessoas foram presas, a maioria delas natural de Aracaju (SE). Elas teriam vindo a Juiz de Fora para trabalhar para o estelionatário cabeça do esquema, um homem de 42 anos, natural do Rio de Janeiro, que está entre os detidos. Cada um destes contratados, segundo a PM, tinha cerca de 50 documentos de identificação falsa, ou seja, cada um deles conseguia se passar por dezenas de indivíduos. Porém, alguns deles tinham mais de 100 documentos falsos. A polícia não sabe dimensionar ainda o montante do rombo que o grupo deixou em instituições bancárias e Fazenda Pública, mas o prejuízo ultrapassa a casa dos milhões. Foram apreendidos inúmeros contratos de empréstimos, documentos relacionados a seguro-desemprego, pensão pós-falecimento e outros benefícios, além de centenas de espelhos de identidades, carteiras de habilitação e de trabalho, CPF e outros.

Segundo a PM, cada um dos 12 presos tinha, pelo menos, 50 documentos falsos (Foto: Divulgação PM)

O grupo criminoso foi descoberto na tarde de segunda-feira (17), depois que um funcionário do sistema de segurança antifraude de uma cooperativa de crédito desconfiou que duas mulheres, de 26 e 38 anos, estavam usando documentos falsos. A instituição acionou a Polícia Militar por volta das 15h30, em uma agência na Rua Padre Café, no Bairro São Mateus, Zona Sul de Juiz de Fora, e a tentativa de estelionato foi confirmada pelos militares. Conforme o documento policial, a gerente da agência afirmou que as mulheres haviam comparecido ao local para receberem cartão provisório de crédito e débito. A mais nova conseguiu pegar o cartão se passando por outra pessoa, assinou um protocolo de recebimento do mesmo e saiu da agência.

Ela e a outra mulher foram abordadas pela PM em seguida, já em via pública. A suspeita de 26 apresentou aos policiais o documento que usou no banco, uma cédula de identidade falsa. Em seguida, os policiais encontraram os comparsas das mulheres, quatro homens de 19, 29, 42 e 59 anos. Eles estavam também em São Mateus. O suspeito de 29 anos apresentou aos policiais uma cédula de identidade falsa. No bolso de sua calça foi encontrada a chave de um carro, que estava parado em frente ao local da abordagem, nada de ilícito foi localizado no veículo. Com o homem de 42 anos, apontado pelo polícia como sendo o coordenador do grupo, os militares localizaram a chave de outro automóvel, também parado nas proximidades e onde estava uma cédula de identidade no nome do homem e fotos 3×4 de pessoas desconhecidas já preparadas para serem anexadas em possíveis documentos falsos.

A chave de um terceiro carro foi apreendida, mas o carro foi localizado mais tarde, em outro endereço. Foram ainda apreendidos também seis celulares, R$1.450 em dinheiro, cartões de bancos, cédulas de identidades, documentos diversos e bolsas femininas. Todos foram detidos e levados para a delegacia. A gerente do correspondente bancário foi até a unidade policial e apresentou 19 folhas contendo várias cópias de documentos, como demonstrativos de créditos e benefícios, extrato de conta digital, cópias de cédulas de identidade, com fotos das pessoas presas, porém com nomes diferentes daqueles que foram apresentados na abordagem policial.

Escritório para falsificação funcionava em granja em Igrejinha

Materiais relacionados ao crime de estelionato foram encontrados em uma granja (Foto: Divulgação PM)

Após o flagrante na Zona Sul, a Polícia Militar continuou trabalhando nos desdobramentos do caso. Ainda sem saber da dimensão do esquema, militares da 49ª Companhia Tático Móvel foram checar uma denúncia que apontava que vários materiais relacionados ao crime de estelionato estariam em uma granja que fica dentro de um condomínio, na BR-267, nas proximidades do Bairro Igrejinha, região Norte. Os militares foram para o endereço por volta das 22h, o imóvel foi cercado para evitar fuga dos envolvidos.

Os militares ficaram surpresos com o que encontraram no local. Segundo o policial que esteve à frente da ocorrência, tenente Karl Heinz Bauer, o endereço funcionava como um “quartel general” da organização criminosa. Segundo ele, lá era fabricado todo o tipo de documentos falsos, usados para aplicar os mais diversos golpes. “Fica difícil elencar todos os tipos de golpes que aplicavam, é uma lista muito extensa. Fraudavam pensões, seguro-desemprego e empréstimos, por exemplo. Era um esquema sofisticado, a falsificação de boa qualidade, difícil de ser descoberta por uma pessoa leiga”, disse o oficial, destacando que impressionou a quantidade de material apreendido no local.

Conforme a PM, uma mulher, 27, esposa do chefe do grupo, e cinco homens, 21, 30, 35, 45 e 55 anos, estavam na granja. Todos os homens eram da mesma família e afirmaram ser naturais de Aracaju. O registro policial aponta que eles disseram ter chegado a Juiz de Fora no dia 26 de novembro do ano passado e que vieram para o município depois de terem feito contato, via internet, com o homem de 42 anos, que seria o chefe do esquema criminoso. Eles contaram que foram contratados para utilizar documentos falsos e realizar empréstimos pessoais em Juiz de Fora. “Cada uma dessas pessoas tinha cerca de 50 documentos falsos, eles de fato de passavam por outras pessoas, pois cada um tinha o conjunto completo da documentação, com carteira de identidade, CPF, habilitação, carteira de trabalho. Os golpistas apenas trocavam suas fotos, em algumas, mudavam o cabelo, a barba, a maquiagem ou até o sombreamento da foto, parecendo ser de pessoas diferentes. Era algo muito bem elaborado”, disse o oficial.

Os próprios suspeitos indicaram aos militares onde as falsificações eram feitas. Segundo o tenente Heinz, todos os documentos eram montados em uma casa menor da granja, onde foram apreendidos os materiais falsos e os equipamentos, como computadores e impressoras modernas, para que a falsificação fosse possível. “É uma quantidade muito grande de material. Somente em uma maleta, estava cerca de 300 kits de documentos falsos, tudo pronto para que uma pessoa conseguisse se passar por outra facilmente. Além disso, foram apreendidos muitos espelhos de documentos que ainda seriam montados”, comentou, acrescentando que foram encontradas também placas de carros.

Sobre o prejuízo que o grupo causou, o oficial disse que não é possível estimar de imediato. “Para se ter ideia, encontramos entre 40 e 50 folhas com empréstimos aprovados de R$ 10 mil, R$ 20 mil, R$ 30 mil, não se sabe se os valores foram depositados. Apreendemos também documentos de pensões, seguros-desemprego, entre outros que afetam a Fazenda Pública. Certamente, o prejuízo foi milionário. A princípio, esse grupo estava em Juiz de Fora desde novembro, mas pode ser que estivessem agindo há mais tempo”, disse, afirmando que a suspeita é de que o cabeça do esquema já tenha atuado em diversas cidades do Rio e aqui de Minas. Ainda na granja, a PM apreendeu três veículos, todos ele com placas falsas. Todo o material apreendido e os presos foram levados para a Delegacia de Polícia Civil, em Santa Terezinha.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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