Prefeitura vistoria UPA Norte e vai abrir processo administrativo

A Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou, nesta sexta-feira (17), que vai abrir processo administrativo contra a empresa terceirizada responsável pela gestão da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte. A medida foi anunciada no mesmo dia em que a Tribuna publicou reportagem com as denúncias de quatro médicas e de uma técnica em enfermagem, que apontaram escassez de equipamentos de proteção individual (EPI’s) para o trabalho delas durante o começo da segunda quinzena de março, quando surgiram os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus (Covid-19) na cidade. Três das médicas foram demitidas ainda em março, uma delas “por justa causa”, depois de cobrarem os EPIs da direção e criarem um movimento voluntário para arrecadação de materiais, confecção e distribuição dos kits de proteção em várias unidades de saúde do município. A quarta profissional da categoria também se desligou da UPA Norte diante da insegurança relatada. Já a técnica em enfermagem está afastada do trabalho porque apresentou sintomas da Covid-19 no dia 7 de abril.

“A Prefeitura considera os fatos relatados inadmissíveis e se colocou à disposição do Conselho Regional de Medicina (CRM) para esclarecê-los”, comunicou a PJF à imprensa nesta sexta, quando profissionais da Secretaria Municipal de Saúde estiveram na UPA Norte, pela manhã, exatamente para fiscalizar a disponibilização e o uso correto dos EPIs, além das questões contratuais com a empresa terceirizada que gerencia a unidade. “Durante a vistoria, foi constatado que há EPIs na UPA Norte. Só foi observada uma pequena inconformidade na forma de utilização dos EPIs. Contudo, as observações da Vigilância Sanitária foram prontamente acatadas”, informou o Executivo municipal, por meio da assessoria, após a visita à unidade alvo das denúncias. Ainda conforme a Prefeitura, esta é a segunda fiscalização realizada na UPA Norte após a Administração tomar conhecimento das denúncias. “Será aberto um processo administrativo contra a empresa terceirizada, que pode gerar uma notificação ou até mesmo a rescisão do contrato”, ressaltou.

Procurada pela Tribuna, a atual gestão da UPA Norte, ligada ao grupo do Hospital São Vicente de Paulo, disse, por meio da assessoria, que, até a tarde desta sexta, não havia recebido nenhuma notificação por parte da PJF sobre o assunto, “uma vez que todas as certidões e vistorias estão em dia, conforme nota emitida ontem”. Na quinta-feira (16), a administração da UPA Norte havia afirmado à reportagem que o uso correto dos EPIs entre seus colaboradores sempre foi uma das prioridades e que desde a instalação do risco de pandemia houve empenho para se adequar ao novo momento e disponibilizar os equipamentos aos funcionários, conforme a necessidade, seguindo as normativas do Ministério da Saúde. A gestão também garantiu ter se adequado quanto à triagem e isolamento dos pacientes, instalando uma tenda em espaço externo da unidade para maior segurança dos usuários e funcionários.

A administração da UPA Norte também não fez qualquer ligação dos questionamentos das médicas e do movimento de arrecadação de EPIs criado por elas com suas demissões. “Toda dispensa de profissionais da unidade são realizadas pela filosofia de trabalho da empresa, respeitando as leis trabalhistas.” Sobre a possível contaminação de pelo menos cinco profissionais de saúde que atuam na UPA Norte, como o caso da técnica de enfermagem de 52 anos, que conversou com a Tribuna, e de um técnico de enfermagem que estaria entubado em estado grave no HPS, a administração da unidade ponderou que, conforme dados da Vigilância Sanitária de Juiz de Fora, não houve nenhum caso confirmado de paciente com Covid-19 atendido na UPA Norte, “não tendo como vincular o contágio dos funcionários aludidos com a unidade, visto que o vírus é de disseminação comunitária, além de que vários funcionários prestam serviço em outros estabelecimentos de saúde”.

A técnica em enfermagem ouvida pela reportagem trabalhava no setor vermelho, que atende casos graves, e ainda se recupera isolada em casa, tentando manter distância do marido, 60, dos três filhos, de 23, 27 e 29 anos, e da neta, 6. Ela aguarda o resultado do teste para Covid-19, mas disse que sua última tomografia, realizada em um hospital particular, a levou a ser tratada como vítima do novo coronavírus.

Além de estarem sendo acompanhadas pela Prefeitura, as queixas feitas pelas médicas também são de conhecimento do Sindicato dos Médicos e do Conselho Regional de Medicina (CRM), já que uma das profissionais, Sanny Alves Henriques, 43, protocolou a denúncia junto ao órgão no dia 19 de março. Ela ponderou que o modelo ideal de atendimento começou a ser implantado na UPA Norte após as reivindicações do grupo. O temor era de que o corpo clínico fosse infectado, tornando-se também vetor, colocando em risco os próprios pacientes. Conforme o delegado do CRM, José Nalon, a denúncia recebida pelo conselho sobre a falta de EPIs na UPA Norte foi encaminhada para a Corregedoria em Belo Horizonte para instauração de sindicância e averiguação.

Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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