Preso por cárcere é suspeito de torturar duas mulheres

O jovem de 21 anos preso em flagrante no dia 26 de março por manter em cárcere privado a namorada, 22, e submetê-la a sessões de tortura física e psicológica, inclusive com choques elétricos, já havia praticado crime semelhante com uma ex-companheira, 22, no mesmo apartamento da Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Juiz de Fora. As duas mulheres ainda chegaram a ser algemadas e amarradas juntas, e uma delas teria presenciado a outra ser estuprada, em janeiro. Os novos elementos da história – que parece mais o roteiro de um filme de terror – foram revelados durante as investigações da Polícia Civil.

Segundo a delegada responsável pelo caso, Ione Barbosa, no dia 23 de fevereiro, a mãe da ex-namorada foi até a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, preocupada com a filha, que havia voltado a encontrar o jovem, com quem havia se relacionado no ano passado. Ela não aparecia em casa e também estaria faltando ao trabalho em um supermercado há cerca de uma semana, com atestado médico.

“Ela desconfiava que a filha estivesse em cárcere privado, porque nem atendia ao telefone. Fiquei preocupada também, e os investigadores foram atrás, para intimá-la a ser ouvida.” Na ocasião, a mulher teria atendido à porta dizendo que estava sozinha, mas com aparente nervosismo, e negou que estivesse sendo mantida no apartamento contra sua vontade. Logo os policiais perceberam um barulho e viram que o suspeito havia escapado por uma janela. Ele chegou a voltar ao perceber que não havia sido denunciado.

Quando esteve na delegacia em fevereiro, a ex-companheira ainda estaria com medo das ameaças e teria voltado a negar estar sendo vítima de qualquer crime praticado pelo jovem. Mas o próprio histórico seguia no sentido contrário, porque em 21 de julho de 2020 o rapaz foi preso em flagrante por ameaça contra ela. O boletim de ocorrência narra que, naquele dia, ele estaria com uma arma de fogo intimidando não só a mulher, mas também vizinhos dela, em um bairro da Zona Nordeste. A PM conseguiu capturá-lo, mas nenhuma arma foi localizada.

Ainda conforme o registro policial de julho do ano passado, a vítima relatou que era obrigada a ficar dentro do apartamento dele, sendo agredida com cabeçadas, tapas e chutes no rosto e impedida até de sair para visitar seus familiares. Naquele dia, entretanto, o convenceu de deixá-la ir à casa da mãe para buscar algumas roupas. Ao perceber que ela não retornaria, o jovem partiu armado para o endereço. Em outra tentativa anterior de fuga do cárcere, a vítima teve seu cabelo cortado e foi obrigada a manter relações sexuais com ele.

 

Liberado após prisão preventiva

Por causa desse flagrante em meados do ano passado, o suspeito teve sua prisão preventiva decretada pela Justiça, mas acabou sendo liberado em 27 de agosto mediante alvará de soltura. A captura dele no último dia 26, por suspeita de manter em cárcere e torturar a nova namorada, demonstra, segundo a polícia, que ele teria continuado a praticar o mesmo tipo de crime.

Brigas e agressões seriam motivadas por ciúmes

De acordo com a delegada Ione, a ex-companheira voltou a ser intimada a prestar declarações após o episódio de março com outra vítima e, desta vez, confirmou os crimes que havia negado anteriormente. Durante um ano de relacionamento, entre idas e voltas, ela disse ter passado por vários episódios de violência, sendo o primeiro em março do ano passado. As brigas sempre seriam motivadas por ciúmes, principalmente de mensagens ou contatos no celular. Segundo suas declarações, ela sofreu ameaças de ser morta a pauladas, pedradas, facadas, e era constantemente impedida de sair de casa por causa das marcas no corpo causadas por agressões a chutes e socos e pelas tentativas de enforcamento. O basta chegou em janeiro, após o episódio em que ela e a nova namorada foram amarradas juntas e sofreram violência física e sexual.

Novos elementos foram revelados durante investigação da Polícia Civil. Segundo delegada Ione Barbosa, ex-companheira do rapaz confirmou crimes que havia negado anteriormente (Foto: Marcelo Ribeiro/Arquivo TM)

Já a vítima que conseguiu deixar o apartamento e denunciar o rapaz no mês passado descreveu o suspeito como uma pessoa muito ciumenta, que, desde o início do relacionamento, pediu para ela desativar suas redes sociais, embora tivessem se conhecido por meio delas em julho passado. Já em dezembro, as agressões e o terrorismo psicológico começaram a ficar intensos, inclusive com ameaças de queimar a vítima, com fogo ou óleo que ele esquentava em frigideira e passava rente a seu corpo.

Apesar de não mostrar arrependimento, o jovem, segundo ela, agia depois dos atos violentos como se nada tivesse acontecido. Na última semana, quando viveu o momento mais longo e pior do cárcere, que precedeu a prisão em flagrante, chegou a ser obrigada a ficar ajoelhada em frente ao espelho, enquanto levava chutes, socos, tapas na cara e tinha o pescoço enrolado por um fio. Nas sessões de choque com fio desencapado, ele ainda a colocava dentro do box ou de recipientes com água para aumentar seu sofrimento e dizia que ela teria a língua cortada, se gritasse. A vítima também era arrastada nua com braços e pernas amarrados, conforme depoimento.

De acordo com a delegada Ione, diante da gravidade dos crimes, ela vai solicitar à Justiça a conversão da prisão em flagrante do suspeito em preventiva. As investigações seguem em andamento, mas ela adiantou que o rapaz deverá ser indiciado por tortura, cárcere privado, lesões corporais e ameaças em relação às duas vítimas, além de possíveis outros crimes.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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