Projeto da UFJF estimula criação de compostagens caseiras

Após bater de porta em porta por dois extensos corredores de um dos galpões da Faculdade de Engenharia da UFJF, a Tribuna finalmente encontrou o Laboratório de Geologia e Tecnologia, onde funciona o projeto “Desenvolvimento de Estudos Relativos à Problemática de Resíduos Sólidos: Gestão e Tratamento de Aterros Sanitários”, coordenado pela professora Júlia Righi. Desde 2018, a pesquisadora e quatro alunos universitários pesquisam sobre gestão e tratamento de materiais orgânicos em aterros sanitários e, em 2019, iniciaram ação que busca diminuir a quantidade de despejo de rejeitos orgânicos, um dos principais poluidores do planeta.

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O grupo fez um trabalho praticamente artesanal, reunindo dez pessoas para produzir composteiras caseiras ao custo de R$ 30. No mercado, os equipamentos são adquiridos por até R$ 120. Agora, acompanham a rotina dos colaboradores utilizando a ferramenta. A regra é não desperdiçar. “A gente vai colocando o material e, depois de um tempo, ele vai se degradando e dá origem a um fertilizante líquido, que pode ser diluído e jogado nas plantinhas, e também um composto, que é o adubo”, conta a professora.

O objetivo é evitar que os resíduos cheguem aos aterros sanitários, que gera chorume, penetra no solo e, posteriormente, contamina o lençol freático. Em Juiz de Fora, pesquisa do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), em parceria com o Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Faculdade de Engenharia da UFJF, demonstrou que 43,81% de todo o lixo produzido pela população é de material orgânico, correspondendo a cerca de 80 mil toneladas ao ano. Neste mês, um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação apontou que de 8% a 10% do volume de gases de efeito estufa produzidos por seres humanos são decorrentes do desperdício de alimentos.

Compromisso social

Além de explicar o impacto ambiental causado pelo manejo incorreto de rejeitos, os universitários buscam conscientizar as pessoas a respeito da responsabilidade de cada um sobre os próprios descartes. “Eu sou aluna da Engenharia Ambiental e não vejo (as consequências dos lixos despejados), imagine quem está do lado de fora”, pontua a orientanda Jéssica Laine.

Para alcançar mais pessoas, o blog Geoportal e a página do projeto no Instagram (@Geoportal_UFJF) foram criados. Periodicamente, são esclarecidas dúvidas sobre o projeto e a respeito do manejo ambientalmente correto de rejeitos, em demanda que foi levantada em questionário aplicado junto a alunos da Engenharia. “Às vezes, a gente quer cobrar de uma pessoa de uma comunidade mais carente, mas como você vai cobrar dessas pessoas se, aqui na universidade, pessoas que fazem Engenharia Ambiental e Civil não sabiam que poderiam aproveitar o lixo orgânico?”, questiona a professora Júlia.

A psicóloga Luciana Krempser observou adesão à reciclagem após solicitar coleta seletiva em sua rua, no Bairro Esplanada (Foto: Felipe Couri)

Iniciativa popular desperta interesse pela coleta seletiva

Toda vez que o caminhão da coleta seletiva passa pelo Bairro Esplanada, na Zona Norte, representa um pouco da conquista da psicóloga Luciana Krempser. “Não passava coleta seletiva na minha rua, aí eu liguei para lá perguntando o porquê e eles falaram que já tentaram, mas não deu certo. Eu insisti um pouco, falei que tudo é hábito e que as pessoas precisavam de tempo para criar a rotina de colocar o lixo pra fora.” Agora, o bairro faz parte dos 62% do município atendidos pela coleta seletiva e, de acordo com Luciana, a iniciativa gerou adesão da região. “Hoje, está todo mundo separando. Você passa aqui na segunda de manhã, a rua está cheia de lixinho reciclável”, conta.

Em casa, o pneu utilizado para plantação, o puff com garrafa pet e as composteiras que já viraram hábitos são marcas da consciência ambiental, que é passada pela psicóloga para o filho e no ambiente de trabalho. “Enquanto ser humano, enquanto psicóloga, mãe, cidadã, independente da área onde eu atuo, eu acredito na nossa evolução. Eu trabalho pra isso. O objetivo é evoluirmos para uma versão melhorada de nós mesmos”, reflete.

A professora Júlia Righi lembrou a responsabilidade compartilhada entre Poder Público e população, prevista no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, lei de 2010. “Imagina se, numa cidade do porte de Juiz de Fora, 25% da população aderisse à causa. A mudança que teria no aterro da cidade. Traria uma melhoria na saúde pública, além de mais investimento para o saneamento”, completa a aluna Jéssica. Segundo dados do Demlurb, cerca de R$ 4,5 milhões são gastos anualmente apenas para a gestão de lixo orgânico.

Com o “trabalho de formiguinha” realizado em um dos corredores da Faculdade de Engenharia – assim como nas atitudes diárias da psicóloga Luciana Krempser -, a intenção é, de pouco em pouco, dar início à mudança de realidade. “Pode vir alguém perguntar: ‘mas você acha que isso vai mudar o mundo?’, não acho. Mas vai mudar as pessoas que vivem nesse mundo e, um dia, ele pode ser mudado. A gente trabalha com utopias também, na universidade a gente faz o que a gente acredita, tendo a clareza de que as mudanças são lentas, mas precisam acontecer. É necessário começar.”

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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