Rodoviários pretendem manter braços cruzados nesta quarta

Trabalhadores do transporte público de Juiz de Fora deflagaram movimento grevista na madrugada desta terça-feira (18), o que resultou em paralisação de 100% da frota de ônibus que integra o sistema ao longo de todo o dia. Até a última segunda-feira (17), a expectativa era de que um percentual mínimo de 30% dos veículos continuasse operando, o que não aconteceu. A paralisia total trouxe problemas diversos para a população e foi atacada pelas concessionárias responsáveis pelos serviços, que consideraram a mobilização irregular. Para tentar reverter a situação, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) peticionou o Tribunal Regional do Trabalho sobre a legalidade do movimento e a não manutenção de um percentual mínimo dos ônibus em atividade, visto que trata-se de um serviço essencial. Para mitigar os efeitos da mobilização, o Município voltou a autorizar que vans escolares realizassem o serviço. A greve de motoristas e cobradores ocorre por problemas no pagamento de parcela salarial acordada junto à empresa Goretti Irmãos Ltda (Gil).

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Juiz de Fora (Sinttro/JF), Vagner Evangelista, a categoria vem tentando acordo com as empresas sem sucesso e tem sinalizado insatisfação ao longo dos últimos meses. Ele reiterou que o movimento é pacífico, mas que os rodoviários estão irredutíveis e pretendem manter o movimento grevista também nesta quarta-feira.

Já nas primeiras horas da greve, na manhã desta terça, o trânsito de veículos particulares foi intenso em alguns pontos da cidade, mesmo com várias pessoas optando por fazer seus trajetos a pé. “Como a greve já havia sido noticiada, eu me preparei e, por isso, estou indo de carro. Mas minha esposa sai mais tarde e vai tentar usar transporte por aplicativo, caso não apareça nenhum ônibus por aqui”, afirmou o representante comercial Paulo César de Oliveira, que trabalha na Zona Norte e, geralmente, utiliza o transporte público.

A mobilização teve início já nas primeiras horas de terça, quando cerca de cem trabalhadores se concentraram em frente às garagens das empresas que compõem o transporte público juiz-forano, de responsabilidade dos consórcios Manchester e Via JF. A categoria reivindica a assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) celebrado com uma das empresas do sistema, a Gil, no dia 1º de julho. O entendimento deveria entrar em vigência no prazo de trinta dias. Todavia, não houve formalização do acordo entre empresários e patrões na data estipulada. Motoristas e cobradores da Gil também reivindicam uma explicação por parte da empresa sobre os diferentes valores creditados em suas contas na tarde desta segunda, fato que motivou o recolhimento de todos os carros que estavam em circulação até então.

Segundo o Sinttro, os trabalhadores da empresa estão sob os efeitos da Medida Provisória 936, editada este ano pelo Governo federal e que permite a redução de jornada e salários. Neste cenário, os profissionais têm sua carga horária reduzida em 70%, percentual também aplicado sobre seus vencimentos, tendo como contrapartida benefício pago pela União no âmbito do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda.

Ainda de acordo com o sindicato, os 30% deveriam ser pagos pela empresa em três parcelas: uma dia 6, outra no dia 17 e, a última, no dia 29. Conforme o Sinttro, tal acordo não foi cumprido, com os pagamentos de valores aparentemente sem critérios e diferentes para cada funcionário. “Depositaram na minha conta R$ 9. Teve colega que recebeu R$ 50 e outros, R$ 100. O pior é ninguém ter avisado antes e, até agora, não explicaram o porquê disso”, relatou um cobrador que preferiu não se identificar.

Novas ações programadas para esta 4ª

A categoria se organiza para novamente se concentrar em frente às garagens das empresas do transporte público na madrugada desta quarta. Conforme o Sinttro, às 2h30 os rodoviários pretendem se mobilizar novamente e impedir que veículos da empresa Ansal circulem nesta quarta. “A Ansal está pressionando os seus trabalhadores e tentando fazer um acordo para eles rodem nesta quarta. Eles querem desmobilizar a categoria, mas nós iremos para a porta da garagem impedir que os ônibus saiam”, relatou à Tribuna, um rodoviário que prefere manter o nome sob sigilo.

Ao fim da tarde, a categoria saiu da Câmara Municipal rumo à Praça do Riachuelo. No trajeto, os trabalhadores novamente explicaram a situação à população e pediram compreensão dos usuários. Em tom de aviso, os rodoviários disseram que, caso os ônibus da Ansal saiam da garagem na quarta, a categoria pretende pará-los na Região Central e interromper a viagem. Com isso, solicitaram aos passageiros que não embarquem nas linhas.

Sem frota mínima

Na manhã desta terça-feira, o presidente do Sintro, Vagner Evangelista, argumentou que a Settra não enviou para as empresas a relação com os ônibus que deveriam circular. A secretaria foi questionada pela reportagem sobre o assunto e negou que seria responsabilidade dela a definição de quais linhas comporiam os 30% ainda em circulação. Segundo a pasta, em um período excepcional de greve, cabe às empresas a escolha sobre quais linhas deveriam seguir operando.

Motoristas e trocadores impediram saída de ônibus das garagens e foram às ruas protestar (Foto: Leonardo Costa)

Paralisação causa novos transtornos à população

Apesar de a população estar de sobreaviso a respeito da greve, o movimento novamente trouxe transtornos àqueles que dependem do transporte coletivo urbano. A confeiteira Wilciane Faria dos Santos é moradora do Bairro Jóquei Clube III, Zona Norte, e precisou ir ao Centro nesta terça para um curso. Para isso, ela precisou usar transporte por aplicativo. Ela afirma que, mesmo precisando voltar ao Centro na quarta, deixaria de ir, caso exista continuidade da greve.

Moradora do Bairro Benfica, na Zona Norte, a auxiliar de escritório Adriana Batista relatou à Tribuna ter conseguido carona para ir ao Centro na tarde desta terça. Para a volta, no entanto, ela precisou chamar um carro via aplicativo. Adriana conta que precisa pegar ônibus todos os dias para ir e voltar do trabalho, que também fica no Centro. No entanto, ela terá folga nos demais dias da semana e, com isso, o prejuízo será menor. “Se não fosse isso, não teria condições de trabalhar.”

Durante a tarde, nos pontos de ônibus da Avenida Rio Branco havia poucos passageiros. Alguns aguardavam a possível passagem de uma van que os atendesse. Outros esperavam carona ou tentavam, ainda, pensar em alguma forma de voltar pra casa. “Tive que pedir para meu sobrinho me levar de moto para o trabalho. Agora estou tentando uma carona, mas, se não conseguir, vou ligar para ele me buscar”, conta o morador do Bairro Arcos Íris, Zona Sul, Bertolini de Oliveira. Já o aposentado Paulo de Lima desceu a pé do Bairro Previdenciários, Zona Sul, para o Centro. Mas confessa que sentiu “dores no pés e ficou cansado”, e que, por isso, teria de chamar um carro por aplicativo ou dar a sorte de conseguir que uma van passasse rumo à Região Sul.

Outra forma encontrada para se locomover foi dividindo a tarifa do táxi. A diarista Adriana Silva seguiu do Bairro Santo Antônio até o Centro rateando o valor com outros passageiros. “Toda vez que tem greve aparece um taxista oferecendo o serviço. Ficou quase o preço da passagem. Mas achei que conseguiria um ônibus para chegar ao Cascatinha”, contou ela, que esperava pelo coletivo por volta das 9h, no ponto da Avenida Rio Branco, nas proximidades da Câmara Municipal. No entanto, ela acabou conseguindo contato com a patroa, que iria arcar com os custos do transporte por aplicativo.

Apesar da autorização da Prefeitura para que vans escolares fizessem o transporte de passageiros, o tráfego destes veículo no início da tarde ainda era tímido nas ruas centrais. A circulação das vans passou a se intensificar mais no horário de pico. Na parte da manhã, na Avenida Getúlio Vargas, a Tribuna encontrou uma van prestando o serviço. “Nós estamos sem ganho desde o início da pandemia, nossa renda foi cortada e isso é uma forma de ganho até que a greve termine”, disse o motorista Willian Vieira. Ele começou a circular durante a manhã e segue até o horário do ônibus.

A cuidadora Rose Marques era uma das passageiras da van. Ela, que trabalha no São Mateus, na Zona Sul, seguiu a pé do Centro ao local de trabalho, após sair de van do Linhares. “Eu acordei bem mais cedo por conta da greve. Mas fui surpreendida pela van e decidi usá-la para não faltar ao trabalho”, disse ela, sem saber como voltaria para casa.

O motorista Alonso Martins da Silva era o responsável por uma van que fazia o trajeto Centro – Zona Norte (Benfica, Santa Cruz e São Judas). Até por volta das 15h, ele conta que havia feito cerca de 20 viagens, com passageiros em todos os assentos do veículo. “Estou oferecendo álcool 70 para os passageiros e só entra com máscara”, diz.

Já o motorista Tiago de Oliveira e a auxiliar Dolores da Silva Oliveira começaram a rodar por volta das 16h na Região Central. Eles faziam o trajeto para os bairros Santa Terezinha e Eldorado, Região Nordeste, e cobravam o valor da passagem de ônibus – R$ 3,75. “Nós temos três vans escolares, mas estavam todas paradas, até então. Hoje colocamos uma para rodar para sentir o movimento. A gente pretende continuar com esse trajeto até para a população saber que estamos com a linha e saber dos horários”, conta Dolores, que também tem avisado moradores da região por grupos de aplicativos de mensagens. No veículo, também havia álcool em gel disponível aos passageiros, e a entrada era liberada mediante o uso de máscaras.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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