Setores econômicos demonstram preocupação com regressão à onda vermelha

Após decisão tomada em reunião emergencial do Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 nesta segunda-feira (22), Juiz de Fora irá retornar à onda vermelha, classe mais restritiva do programa Minas Consciente de combate à pandemia. A medida veio por conta do grave cenário epidemiológico enfrentado pela cidade. Entretanto, setores econômicos temem por outras consequências, não apenas financeiras, mas relacionadas ao comportamento da população com as festas de final de ano, que podem agravar ainda mais a situação da pandemia.

De acordo com o programa estadual, os municípios classificados na onda vermelha têm as maiores restrições, sendo permitido apenas o funcionamento de serviços essenciais como supermercados, padarias, farmácias e bancos. Nesta faixa, bares e restaurantes poderão atuar apenas nos modelos de delivery e retirada. Os detalhes com as regras locais deverão ser divulgados nesta quinta-feira (24) pela Prefeitura de Juiz de Fora, através de Decreto em Atos do Governo.

Presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), Emerson Beloti lamenta a decisão, que pode impactar o segmento na cidade. Conforme o representante, para além do funcionamento dos estabelecimentos comerciais, há fatores que agravam mais significativamente o cenário epidemiológico. “Ônibus lotados, aglomerações em alguns lugares, confraternização, festas”, exemplifica. “O assunto é sério e a situação está difícil, os hospitais já estão saturados, e nós entendemos tudo isso. Mas não basta só o comércio fazer a parte dele.”

De acordo com Emerson, o segmento já vem tomando medidas para maior segurança, bem como trabalhando em campanhas de conscientização, que seria o ponto a ser trabalhado neste momento. “O problema é muito mais de conscientização do que de fechamento. No nosso entender, se não houver conscientização, pode fechar tudo, mas não adianta. A sociedade tem que ficar atenta e se conscientizar de que é uma doença seríssima”, afirma. “Ficamos muito temerosos porque muitas empresas fecharam durante esse ano. E ficar 14 dias fechados novamente, para uma empresa, não é fácil. Principalmente porque tem empresas que estão tentando pagar seus compromissos.”

‘Feriadão’

Como destacado pelo representante do Sindicomércio-JF e também pelo presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL/JF), Marcos Casarin, o fechamento do comércio a partir do dia 25 pode trazer duas consequências: mais pessoas nas ruas nesta quarta (23) e quinta-feira (24), por conta de uma corrida antes da interrupção do funcionamento dos estabelecimentos; e maior número de pessoas viajando para as festas do final de ano, por conta do período maior em que não irão trabalhar.

“Teremos festas em casa, reuniões em casa, churrascos em casa. Quem vai fiscalizar isso? Será que as pessoas vão entender o momento que estamos vivendo?”, questiona Casarin. “Está contribuindo para que as pessoas viagem também. Podem interpretar como um grande ‘feriadão’, e o retorno será muito mais preocupante.”

De acordo com o representante da CDL, a reta final do ano costuma ter um movimento maior no comércio. Desta forma, para maior segurança, as ações deveriam ser tomadas para evitar aglomerações. “As pessoas que poderiam fazer suas compras com mais calma, terão que apressar tudo porque depois ficará fechado. Isso pode trazer uma  aglomeração muito maior. Estamos na hora de estender, não diminuir o tempo. É mais fácil uma conscientização do que propriamente a restrição”, reforça.

 

Empresários e trabalhadores em bares e restaurantes devem fazer acordo

Desde o dia 8 de dezembro, bares e restaurantes estão proibidos de vender bebidas alcoólicas para consumo interno, mesmo com o funcionamento dos espaços liberados. Desde então, a categoria tem realizado manifestações para reverter a situação, que estaria afetando o atendimento. Com a regressão à onda vermelha, a expectativa é que esses estabelecimentos passem a atuar apenas nos modelos de delivery e retirada.

Integrante do Comitê Municipal de Enfrentamento à Covid-19 e coordenador-executivo do Sindicato de Hotéis, Restaurantes e Bares de Juiz de Fora, Rogério Barros explica que a categoria não contesta a decisão de regressão à onda vermelha, tendo em vista a situação preocupante da pandemia na cidade. Entretanto, o setor deve sofrer novas consequências. “Existe uma previsão de que muitos bares e restaurantes talvez fechem no início do ano porque não vão conseguir se manter “, afirma. “Estamos mostrando a realidade do setor e a repercussão que vai acontecer em razão disso. Essa situação (epidemiológica) ocorreu por vários fatores: eleição, transporte público, aglomeração de filas nos bancos. Infelizmente, vai ser a ‘pá de cal’ no setor de bares e restaurantes.”

Conforme Rogério, o sindicato patronal está buscando formas para lidar com o período da onda vermelha, como negociações entre a representação dos trabalhadores. “Estamos tentando ver se conseguimos, junto ao sindicato dos empregados, fazer um acordo coletivo pedindo suspensão do contrato por 15 dias, uma antecipação de férias, porque a categoria está descapitalizada e vai ficar 15 dias praticamente parada”, informa. “O serviço de delivery chega no máximo 20% do faturamento da empresa. Isso não paga nada, não consegue pagar aluguel, não consegue pagar folha de pagamento”, diz.

Como destacado pelo secretário-geral do Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares, Turismo e Lavanderias de Juiz de Fora e Região (Sindecohtul), Márcio Tavares, desde o início da pandemia, a categoria tem dialogado com a representação patronal para evitar maiores consequências para a classe. Assim, o mesmo deve ocorrer com a regressão para a onda vermelha do Minas Consciente. “A nossa preocupação é que as pessoas não percam o emprego em uma época como essa. Tudo aquilo que for possível fazer dentro do que a lei permite, com certeza o sindicato vai estar à disposição das empresas e do sindicato patronal, para pensarmos e conversarmos sobre a melhor forma de mantermos os postos de trabalho”, diz Tavares.

Ainda de acordo com o representante do sindicato dos trabalhadores, a categoria entende que os bares e restaurantes têm sido afetados significativamente com as medidas tomadas na cidade. “As empresas ficam prejudicadas com o faturamento, consequentemente, a primeira decisão que a empresa toma é diminuir o número de trabalhadores. Houve um crescimento de demissões e com a parada novamente, temos essa preocupação de agir para não haver novas demissões”.

Margarida assumirá cargo com cidade na Onda Vermelha

Inicialmente, de acordo com a decisão tomada pelo Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19, o regresso à onda vermelha vai valer, inicialmente, para o período compreendido entre 25 de dezembro e 7 de janeiro. Na ocasião, a prefeita eleita Margarida Salomão já estará na administração de Juiz de Fora.

Por meio de sua assessoria, Margarida informou, em nota, que a decisão de mudança de onda foi tomada pela administração do atual prefeito Antônio Almas (PSDB), baseado nos dados atuais da pandemia na cidade, bem como na capacidade de atendimento do sistema de saúde. “A equipe de transição está trabalhando na atualização de todos os dados e, quando assumirmos o governo, vamos reavaliar as decisões priorizando a segurança sanitária e buscando alternativas para minimizar os impactos econômicos e sociais”, diz no texto.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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