Terceiro dia: Santa Bárbara do Monte Verde – São Pedro do Itaguá

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Nossa segunda noite foi musical. Dormimos e acordamos ao som de um forró que animava a Exposição Agropecuária em Santa Bárbara do Monte Verde. Feliz com meu travesseiro novo, eu dormi como se não houvesse amanhã e nem me incomodei com o barulho. Às 3h em ponto, eu e as companheiras de “quarto/sala de aula” já estávamos de pé. É preciso ser ágil para preparar nossa saída. Enrolar o colchonete e fazer ele entrar no saco é um desafio diário. Depois, é recolher tudo o que está espalhado, colocar dentro da mala e levá-la até o caminhão. Mas antes, é preciso realizar a “operação ” preventiva contra bolhas e dores. Pomadas e spray analgésicos são espalhados por pernas e costas. Nos pés, pomadas anti-assaduras e fitas adesivas para enrolar os dedos.

Antes de pegar a estrada, pomadas antiassaduras e fitas adesivas dão proteção aos pés. Após a caminhada, água fria da fazenda serviu para aliviar os pés doloridos

Depois de dois dias caminhando – 30km no primeiro e 32km no segundo -, a dor na sola do pé é inevitável. O calcanhar dói só de encostar. É hora de experimentar um truque usado pelos peregrinos: colar um absorvente higiênico na planta do pé. A parte com cola virada para pele, a macia para a sola do tênis e fita adesiva para prendê-lo. Foi o que eu fiz neste terceiro dia. Ao calçar o tênis, no entanto, senti que o volume deixou o calçado mais apertado. “O ideal é usar um tênis mais folgado “, me disse uma das peregrinas. “Mas eu só trouxe esse. Vai apertado mesmo, preciso pisar em algo macio”, respondi, certa de que é preciso experimentar.

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A maior parte do percurso até São Pedro do Itaguá (30km) é percorrida pelo asfalto. Como saímos de madrugada, é preciso redobrar a atenção no escuro. Decidi ir de carro nos primeiros 6km. Minha ideia é registrar a passagem do pelotão da frente e, para isso, só de carro. Em menos de 40 minutos, passam os cinco primeiros numa velocidade que não consigo alcançar. Não param nem mesmo para as frutas e água. Talvez sensibilizado com meu esforço, Kleber Souza, que sempre lidera a caminhada, para e fala comigo. A energia dele me impressiona. Kleber é um dos voluntários que ajudam a carregar e descarregar o caminhão nos pontos de parada. Como chega primeiro, se encarrega de recepcionar os romeiros. “A gente ajuda os idosos que chegam debilitados.”

Jairo Teixeira Faciroli, 57 anos, também mantém um ritmo acelerado. “Além da reflexão espiritual, me ajuda no estado físico”, diz, na certeza de que, após cinco stends no coração, é preciso se exercitar. Com passos rápidos, João Batista Barros leva nas mãos uma imagem de louça de Nossa Senhora Aparecida. “É uma herança que minha mãe me deu, três meses antes de ela ir morar com Deus. Tô levando na casa da nossa mãe [Nossa Senhora] para ser abençoada de novo”, conta, emocionado. O cabeleireiro vai completar 50 anos no dia previsto para nossa chegada ao santuário, dia 26, sexta-feira. “É meu presente de aniversário.”

João Batista Barros leva nas mãos a imagem de Nossa Senhora Aparecida: “É uma herança que minha mãe me deu, três meses antes de ela ir morar com Deus.”

Feito os registros, decido seguir a pé com um grupo que mantém o mesmo ritmo que o meu. Apesar da tensão de caminhar com os carros passando no asfalto, o trecho até Rio Preto é prazeroso. A temperatura ainda está baixa, e as conversas são bem animadas. Carlo Bonandim, o romeiro que veio de Brasília, caminha de calça jeans e chinelo de dedo. “Não tem muito atrito, não tem assaduras. Em pisos pavimentados [o chinelo] é mais confortável para mim”, afirma o funcionário público de 57 anos. Já na entrada de Rio Preto, belos casarões chamam a nossa atenção. É hora de posar para as fotos. Cruzamos o perímetro urbano para acessar a estrada de chão que nos levaria a São Pedro de Itaguá apreciando todos os detalhes da pacata cidade. Na primeira lanchonete, o café quente e o pão de queijo fresco dão uma boa renovada.

No trajeto, a beleza da Fazenda Pouso Alegre, construída em 1800 pelos escravos, para abrigar os tropeiros que seguiam pela rota do contrabando

De lá, mais 8km até a Fazenda Pouso Alegre, construída em 1800 pelos escravos, para abrigar os tropeiros que seguiam pela rota do contrabando, paralela à estrada real. “Temos quartos sem janelas para que os tropeiros pudessem vigiar a estrada”, me conta o proprietário Antonio Márcio Vieira. Na entrada da fazenda, um antigo cocho com água fria corrente serviu para colocar de molho os pés doloridos. Após o almoço, tenho o ímpeto de conhecer a fazenda, com paisagens de tirar o fôlego, mas me contenho. É preciso deitar com os pés para cima para encarar, neste sábado, o maior percurso deste desafio: 36km até Santa Isabel (RJ), perto de Conservatória. E ainda não chegamos nem na metade.

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Postado originalmente por: Tribuna de Minas – Juiz de Fora

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