Educação, lazer e reintegração da comunidade. Essas foram as principais demandas ouvidas pela Diretoria de Relações Internacionais (DRI) em reunião com imigrantes e pessoas em condição de refúgio, na tarde desta segunda-feira (20), no Campus da UFJF, em Juiz de Fora. O objetivo do encontro é que a instituição possa planejar novas ações junto desta população, que chega ao país em busca de um recomeço, qualidade de vida e segurança. Além de um bate-papo, foi feito com os convidados um questionário anônimo para conhecer o perfil dos refugiados e como a UFJF pode ajudar em sua adaptação ao Brasil. A maioria dos participantes são vindos da Venezuela, com exceção de um, natural da República Dominicana do Congo. Com predominância de mulheres e jovens, crianças também estavam presentes. Representantes de organizações independentes que apoiam refugiados também compareceram, como membros da ONG Somos Hermanos e da Casa de São Francisco de Assis, além do Padre Luiz Eduardo, da Pastoral dos Migrantes.
Não é a primeira vez que a universidade atua junto a imigrantes, segundo o gerente de Relações Internacionais, Hugo Rocha. Em 2019 três alunos em condição de refúgio ingressaram nos cursos de administração, jornalismo e educação física. No mesmo ano, cerca de 200 pessoas frequentaram suas turmas de português como língua de acolhimento. “Há vários anos, a UFJF já oferece vagas para população em situação de refúgio em Juiz de Fora, através de um edital anual. A partir do ano passado também começamos a oferecer aulas de português como língua de acolhimento para a população recém-chegada que tem dificuldade com a comunicação”, destaca. A intenção da universidade é expandir as ações para tentar pleitear a entrada na Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM), projeto da Organização das Nações Unidas (ONU), que apoia instituições de ensino que atuam junto a refugiados. Atualmente, a instituição não consegue estimar qual o tamanho e o perfil desta população na cidade, o que pode começar a ser desvendado a partir desta iniciativa.
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Abrangendo um pouco além da ideia de refúgio, a Diretoria de Relações Internacionais (DRI) estendeu o convite da reunião também a imigrantes que podem precisar de algum benefício oferecido pela UFJF. Quarenta e três pessoas responderam ao questionário anônimo. Segundo o gerente, uma das demandas mais frequentes foram questões referentes a revalidação do diploma no Brasil. “Para quem quer continuar os estudos, mestrado ou doutorado, a revalidação do diploma não é imprescindível, existem outros mecanismos. Mas para quem quer exercer a profissão, a revalidação é importante. Alguns relataram que fizeram no Rio de Janeiro, mas é um serviço caro e demorado, com custo de cerca de R$ 1 mil e um ano de espera. É muito burocrático, sobretudo para o estrangeiro que muitas vezes chega com uma mão na frente e outra atrás e tem esse obstáculo.” Atualmente, a revalidação de diploma e o reconhecimento de título estão suspensos na UFJF, mas, segundo Hugo, a questão deve entrar em discussão para que seja avaliada a possibilidade de oferecer novamente o serviço.
Os imigrantes também apresentaram necessidade de atividades de lazer e reintegração da comunidade, para que possam se conhecer e se reunir. Também pediram por alguma medida que pudesse facilitar o acesso ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Eles demandaram um curso popular ou algo que possibilite um acesso mais igualitário aos cursos da UFJF”, explica. O próximo passo é apresentar o diagnóstico inicial para as pró-reitorias, que irão dialogar com as faculdades para pensar o que pode ser feito e planejar futuras ações. De forma mais imediata, apenas a questão linguística deve ser trabalhada. “Com a conversa, já pensamos em oferta de curso de português ao sábados para aqueles que trabalham, para o início do semestre. E também tentar oferecer cursos de português fora da universidade, em algum lugar mais central, para melhorar o acesso a quem mora longe da UFJF.”
Durante a reunião, os servidores da UFJF foram informados de que também moram em Juiz de Fora haitianos, marroquinos, sírios e moçambicanos em situação de refúgio, apesar de não terem comparecido ao encontro. A Diretoria de Relações Internacionais (DRI) irá manter em seu site um formulário on-line, para que outras pessoas possam enviar suas demandas. Até o fim da semana, o documento deve estar disponível na sessão “apoio a refugiados”, no site www2.ufjf.br/internationaloffice .
Entre famílias e estudantes
No auditório, o idioma que se destacava era o espanhol. Francisco Gonzalez, 36, veio da Venezuela em abril de 2019 e lutou para trazer a família em agosto. “Meu irmão mora aqui há dois anos e me ajudou, comprando a passagem para vir. Cheguei sozinho e arrumei trabalho, então pude ajudar minha filha, minha esposa e minha cunhada a chegarem ao Brasil também”, conta em espanhol. Em sua primeira visita à universidade, ele quer conhecer o que a instituição pode lhes oferecer e diz que deseja ingressar nas aulas de português para aprender a língua.
Com uma filha de 9 anos, o padeiro deixou o país de origem em busca de saúde, segurança e escolaridade para a filha, fugindo da crise política e econômica. Em Juiz de Fora, ele e outros imigrantes contam com a ajuda de um padre da região para conseguir emprego e moradia. Atualmente ele está empregado em sua área de atuação, e a cunhada também está trabalhando em uma indústria de alimentos congelados.
Além de famílias, jovens estudantes também buscam recomeçar a vida em Juiz de Fora. Há três anos e meio no Brasil, sendo dois na cidade mineira, Alberto Navarro, 23 anos, conheceu a UFJF logo que chegou. “Eu comecei fazendo o curso de português de acolhida para estrangeiros e me ajudou muito, porque falo espanhol, então imagina eu tentando arranjar um emprego sem falar português”, conta.
Informado da oportunidade de estudar ocupando vaga de refugiado, desde 2017 o venezuelano tentou ingressar no ensino superior. No ano passado, ele se matriculou no curso de jornalismo e já vai começar o 2º período de faculdade. Além do benefício da educação pública, para ele a instituição também tem papel importante na formação de redes de apoio que o ajudam a se adaptar ao país. “A gente consegue formar um vínculo familiar com os colegas que vamos conhecendo aqui, e as pessoas ajudam se preciso alugar uma casa ou conseguir um emprego”, comenta. Estagiário na Diretoria de Relações Internacionais (DRI), Alberto pretende finalizar o curso e continuar morando no Brasil.
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