Denúncias de maus-tratos a animais em Minas Gerais cresceram 37% em 2020

O uivo melancólico do cão pastor suíço ecoa pelas ruas, entre janelas de edifícios e casas do Bairro Caiçara. Com as frequentes viagens dos donos, segundo a vizinhança, o sofrimento do animal deixado sozinho para trás se repete todo fim de semana, feriado e férias. Um choro que quem mora perto relata ser agravado pelo fato de o cachorro ser deixado sem higiene própria, alimentos e condições que consideram mínimas.Essa situação tem revoltado alguns moradores do bairro da Região Noroeste de Belo Horizonte, sobretudo depois de vídeos serem divulgados pelas redes sociais. Um alerta aos proprietários de animais domésticos que têm viagens preparadas, mas não pensaram ainda no bem-estar de seus pets e cães de guarda: Minas Gerais é um dos poucos estados da federação que regulamentou por lei própria (Lei nº 22.231, de 20 de julho de 2016) que o abandono de animais pode ser considerado maus-tratos, punido com pena de reclusão de dois a cinco anos, além de multa e da proibição de guarda.

As autoridades têm recebido um volume crescente de denúncias de maus-tratos de proprietários, feitas por vizinhos como os que moram em residências próximas ao cão cinzento esquecido com frequência pelos donos.De acordo com estatística da Polícia Civil de Minas Gerais, as ocorrências de maus-tratos, atendimentos a denúncias desse tipo de crime e rinhas de janeiro a 10 de novembro de 2020 já superam em 2% todo o quantitativo de registros de todo o ano de 2019.A média é de seis fatos relativos a esses crimes por dia, contra cinco por dia, em 2019. Só as denúncias de maus-tratos cresceram 37% no período, passando de 364 para 499.

O abandono dos animais tem consequências graves para a saúde deles, e com a pandemia do novo coronavírus a separação dos pets e de suas famílias amplia esse sofrimento.“Estamos vivendo uma situação diferente com a pandemia. As pessoas estão passando mais tempo em casa com os animais e eles se adaptam a isso. Vira uma nova rotina para eles. Com as viagens de fim de ano e a separação dos animais de suas famílias, o sofrimento acaba sendo maior”, afirma o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG) Bruno Divino Rocha.

De acordo com o médico veterinário, a solidão e o abandono trazem alterações físicas e não apenas comportamentais aos cães. “Não é um quadro simples. Vem com alterações hormonais. Aumenta a presença de cortisol no sangue, de hormônios do stress. Com isso, a imunidade sofre baixa, aparecem infecções urinárias e feridas de pele”, descreve Rocha.

Os reflexos na agressividade e maus comportamentos também costumam ocorrer após tempos de abandono. “Os animais podem assumir posturas depressivas ou destrutivas. Ter atitudes como comer móveis e objetos, ingerindo assim corpos estranhos. Podem se ferir e se mutilar, mordendo as patas e outras partes do corpo”, explica.

Fonte: Estado de Minas

Postado originalmente por: VinTV

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