Pece Almeida Jr: Eu e o Chefe

Foto: arquivo Joselito Almeida

Acho que todo mundo de Montes Claros tem história para contar com Elias Siufi. O chefe era uma das mais pessoas conhecidas e queridas da cidade, com atuação em diversas áreas.
Para o meu pai, Elias era um pai. Então, para mim, Elias, como o prefeito Humberto Souto, o pecuarista Afonso Dias e o também jornalista Waldyr Senna Batista, sempre foi uma espécie de avô, dado o carinho de filho que meu pai tem por cada um deles. José Geraldo Drumond, outra figura importantíssima para a nossa família, era mais um tio, um irmão mais velho de papai.
(Outro dia, prometo escrever sobre essa gratidão mágica que o professor Paulo Cesar Almeida tem pelas pessoas e o quanto isso só fez bem à sua vida. Mas, hoje, o assunto é Elias).
O chefe foi um dos primeiros a acreditar no meu potencial como jornalista. Lembro como se fosse hoje quando recebi uma ligação do meu querido amigo Hervê, com quem, à época, tinha pouco contato. Eu trabalhava na Educadora/Transamérica, isso era 1998 e ele me perguntava que horas dava para eu ir à TV Montes Claros conversar com ele e o “chefe” – sim, também Hervê falava chefe.
Marquei para o dia seguinte e só estava Hervê primeiro. Eu ganhava um salário mínimo e ele me ofereceu ganhar quatro. Queria que eu fosse, só com 18 anos, gerente de jornalismo da Rádio Itatiaia, que eles estavam transformando em 100,3. “Sobre jornalismo, porém, você vai falar com Elias. É ele que vai te orientar o que deve ser feito”.
Elias, então, me recomendou um programa jornalístico diário de 1 hora, além das pílulas ao longo de toda a programação. Dei a esse programa o nome de “Itatiaia News”, cujo grande destaque era o comentário de Elias Siufi, para quem eu às vezes fazia o papel de ghost-writer. Era o lendário “Dois Pontos”, com um elogio, o ponto positivo, e a crítica, “o ponto muuuuito negativo”. O mesmo comentário da rádio ele fazia no MGTV.
Lembro que ele estava chegando de viagem e me ligou: “Paulinho, vou direto do Aeroporto para a rádio. Deixa meu comentário aí e entrega uma cópia para Dayse na TV”.
Menino, eu sentei loucamente o cacete em algo que acontecia na cidade, já imaginando a interpretação daquele texto na voz anasalada típica do chefe. Pensei até em qual momento ele tiraria os óculos e ficaria rodando uma das hastes com a mão.
Sem tempo de ler antes, Elias fez o ponto positivo e começou a mudar o ponto negativo ao vivo, porque meu texto tava pesado demais – era alguma coisa contra a Prefeitura. Ele improvisou e foi falar da derrota do Cruzeiro para o Corinthians na final do Campeonato Brasileiro. Elias ficou tão nervoso com o fato de eu tê-lo sugerido tamanha barbaridade que o zagueiro Gamarra virou Carrara.
Claro que ele me “convidou” para aquela popular passada na sala do chefe. Eu mal fui anunciado, não lembro se por Mônica ou por Dayse e ele já mandou o tradicional “chuta meu saco, Paulinho”, entre outras expressões impublicáveis para o horário. Esses esporros me ajudaram a ficar perfeccionista. Meu pai me falava: “Elias só cobra muito de quem ele gosta muito”.
Em 2004, quando meu filho Pedro nasceu muito doente e teve que ser transferido para BH, Elias me ligou e disse algo que nunca vou esquecer: “Pode chorar, Paulinho. Extravasa a sua tristeza porque eu sei que deve estar doendo. Quem fala ‘não fica triste, é assim mesmo’, fala porque não é com ele. Estou aqui”. E aquilo foi importante para eu colocar a minha dor para fora.
Anos mais tarde tive a honra de ser seu colega no secretariado do ex-prefeito e também querido amigo Luiz Tadeu Leite. Às vezes ficava sem acreditar: “sou secretário municipal na minha cidade, e de Comunicação, num mesmo time que tem Elias Siufi”.
Não gosto de velórios, nem de enterros. Gosto de vida e Elias era vida demais. Pra mim, a sua ida é como se, sei lá, eu fosse de Gotham City e o Batman morresse.
Que nosso encontro não seja breve, chefe. Deixa eu ver se consigo escrever pelo menos um décimo de sua história primeiro.

Postado originalmente por: VinTV

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